quarta-feira, 12 de setembro de 2018

A Rainha Adúltera. Joana de Portugal. O Enigma da Excelente Senhora. Marsilio Cassotti. «Segundo a documentação proveniente da antiga sinagoga de Segóvia, depositada na catedral dessa cidade, da qual Enrique era senhor, é muito provável que o judeu…»

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Lições de matrimónio imperial
«(…) O discreto encontro de Afonso e Enrique em Monsaraz não podia ter acontecido em momento mais oportuno, se o que se queria era que passasse despercebido, uma vez que o rei e a rainha de Castela se encontravam envolvidos num dos projectos mais ambiciosos e perigosos de que se podia ocupar um casal real naquela época: a tentativa de se desfazerem para sempre do valido ao qual tanto um como o outro deviam em parte o que eram.
Um dia depois de Afonso V de Portugal ter enviado a carta a Pimentel, quarta-feira de Cinzas, o rei Juan II de Castela falou com o outrora poderosíssimo Álvaro Luna. O homem que o rei seguira, segundo a pena de Palencia, enquanto lhe durou a beleza da juventude, compreendeu de imediato que o monarca estava a preparar a sua queda.
Enquanto em Burgos ocorriam estes acontecimentos, impensáveis até havia pouco tempo, Álvaro começara a governar trinta e dois anos antes e nem sequer os audazes infantes de Aragão tinham conseguido contrariá-lo, algo ainda mais excepcional estava a acontecer nos preliminares das negociações matrimoniais: um judeu fora incumbido por Enrique de tratar com a parte portuguesa o casamento com Joana, nomeando-o procurador e embaixador do príncipe. Este é o único caso conhecido numa monarquia católica em que se escolheu um membro dessa significativa minoria religiosa para negociar um matrimónio real.
De qualquer modo, tratava-se de uma misteriosa personagem cuja identidade exacta motiva discrepâncias entre os historiadores. Em parte porque, a respeito do seu possível nome completo, se apresenta um dos maiores problemas com que se deparam os investigadores que trabalham com as fontes daquela época, a heterogenia na ortografia dos nomes e a falta de cristalização de um sistema de apelidos coerente, sobretudo no caso da transformação de um sistema onomástico-
Segundo a documentação proveniente da antiga sinagoga de Segóvia, depositada na catedral dessa cidade, da qual Enrique era senhor, é muito provável que o judeu a quem os textos oficiais denominam simplesmente de Rabjuçe, (rabi José) fosse um médico pertencente à linhagem dos Galhon, certamente aparentados com a mulher de Diego Arias, alguns de cujos membros se refugiariam em Portugal depois da expulsão dos judeus de 1492». In Marsilio Cassotti, A Rainha Adúltera, Joana de Portugal e o Enigma da Excelente Senhora, Crónica de uma difamação anunciada, A Esfera dos Livros, Lisboa, 2012, ISBN 978-989-626-405-5.

Cortesia da EdosLivros/JDACT