quarta-feira, 26 de setembro de 2018

As Bibliotecas de Castelo de Vide. A Educação Popular (1863-1899). Filomena Bruno. «Verifica-se que segundo esta estimativa datada de 1878, apenas 2l% da população total com idade superior a 7 anos (partia-se do princípio que esta devia ser a idade de ingresso na escola)»

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«(…) No entanto, foram tomadas logo nos primeiros anos do regime liberal, algumas medidas:

O ensino primário passou a ser livre e um direito de cada cidadão; eram três anos de frequência obrigatória e mais um ano para os que assim o desejassem. Construíram-se muitas escolas e aumentou o ordenado dos professores; um forte apoio ao ensino técnico foi dado por Fontes Pereira Melo, com a abertura de escolas industriais, comerciais e agrícolas; em 1861, foi criado, em Lisboa, o curso Superior de Letras. Houve uma profunda reforma no ensino liceal inspirada no sistema francês. Passou a incluir o estudo das ciências e das línguas vivas. No entanto, os liceus só existiam nas principais capitais de distrito. As meninas só tinham acesso ao ensino secundário através de colégios ou de professores particulares.

A Educação nos finais do séc. XIX
Ultimamente, o campo da História da Educação, sob o paradigma da História Cultural, tem-se preocupado com novos temas e consequentemente com novos problemas. Assim, sujeitos e práticas têm-se tornado em objectos de pesquisa. Este estudo centrou a sua atenção na sociedade oitocentista, mais concretamente nas últimas quatro décadas do século XIX. O Liberalismo, corrente que marcou esta época, não permitiu uma ruptura com as estruturas educativas anteriores, principalmente porque teve dificuldade em implantar as novas ideologias. Pedagogicamente, assistimos a um período onde impera a instrução sensorialista, racionalista, naturalista e ainda defensora da educação nacional e individual. Os princípios educativos anteriormente veiculados nos planos reformistas do século XVIII passavam pelo desenvolvimento da educação estatal, tentando a todo o custo lançar as bases da educação nacional. Constantemente, são apregoados os princípios da educação universal, gratuita e obrigatória. É evidente uma preocupação em organizar a instrução pública. Acentua-se o espírito cosmopolita e universalista. No século XVIII, com a intervenção directa do Estado no Ensino, nasce a Educação Estatal e inicia-se a Nacional. A Educação passa a ser um problema da Nação, relegando para um plano secundário a Igreja e as Ordens Religiosas. Como consequência, os docentes profissionalizam-se e tornam-se funcionários públicos.
O Estado passa a ver o ensino como meio e instrumento de poder. Talvez por isso, nos censos realizados de 1878 até, 1930, são considerados alfabetizados os indivíduos que sabiam pelo menos ler, com excepção do censo de 1890. Pensa-se que o relativo aumento de escolarização ocorrida neste ano de 1890 se relacionou com a lei que determinava uma idade legal durante a qual a escolarização era obrigatória e que previa advertências e multas aos adultos que não fizessem as crianças, dependentes deles, cumpri-la. Por outras palavras, este aumento deveu-se ao facto dos pais terem medo de declarar neste censo que os seus filhos não frequentavam a escola. Mas saber ler seria ou não suficiente para se tornar cidadão no verdadeiro sentido da palavra? Seria interessante atentarmos em alguns dados retirados do 1º censo realizado no dia 1 de Janeiro de 1878, no que concerne aos níveis de alfabetização da população portuguesa nesta época.
Verifica-se que segundo esta estimativa datada de 1878, apenas 2l% da população total com idade superior a 7 anos (partia-se do princípio que esta devia ser a idade de ingresso na escola) é considerada alfabetizada. Outro dado interessante tem a ver com a diferença acentuada entre a percentagem da população masculina alfabetizada com mais de 7 anos (31%), que se revela muito superior à população feminina alfabeta com mais de 7 anos (13%), apesar da população total masculina com idade superior a 7 anos ser praticamente em número idêntico à feminina do mesmo escalão etário». In Filomena M. F. Sousa Bruno, As Bibliotecas de Castelo de Vide e a Educação Popular (1863-1899), CM de Castelo de Vide, Edições Colibri, 2011, ISBN 978-989-689-139-8.

Cortesia Colibri/JDACT