quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Viagens e Viajantes no Atlântico Quinhentista. Maria Graça Ventura. «… da Casa de Austria, que ambicionava concretizar o projecto da monarquia universal, defendido por um dos mais influentes colaboradores de Carlos V, o chanceler Mercurino Gattinara»

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As Rotas
La Carrera de Indias: Inconvenientes y Ventajas del Sistema Español de Comunicaciones Transatlánticas
«(…) Por todo ello, y empleando una expresión marinera, el sistema de flotas hizo agua a mediados del siglo XVII. Lo realmente ilógico fue mantenerlo durante tanto tiempo. Por qué paso tal cosa? La razón debe buscarse, sin duda, en los intereses de los grandes comerciantes de la Carrera de Indias vinculados a los Consulados comerciales de Sevilla, México y Lima. Estos hombres preferían la certeza de unas ganacias perqueñas, pero relativamente seguras, a exponerse a cambiar sus tradicionales sistemas monopolistas y entrar en una carrera de competencia a base de barcos mercantes más agiles y que, aprovechandose de su superior velociad, pudiesen romper los bloqueos. Este problema en el que se mezclan motivos tanto económicos, como de pura mentalidad comercial, fue una importante rémora que evitó la reforma del sitema. Esta no se comenzó a encarar com decisión hasta mediados del siglo XVIII y fue avanzando lentamente. Primero se suprimieron los convoyes a Tierra Firme y la compleja ruta que
enlazaba el Peú con Espafra a través de Panamâ. Las expediciones a Nueva España, mucho más simples, resistieron algo más, pero al final tuvieron que sucumbir también ante la realidad de los cambios históricos. In Pablo Emílio Perez-Mallaina

A disputa luso-francesa pelo domínio do Brasil até 1580
Jorge Couto

Em Maio de 1505 retornaram a Honfleur os sobreviventes da nau L'Espoir, orientada por dois portugueses (Sebastião Moura e Diogo Couto) contratados em Lisboa a peso de ouro. O navio destinava-se ao Oriente, mas, devido ao insuficiente domínio das técnicas de navegação na região austral, acabou por arribar, em 1504, ao Brasil, tendo os seus tripulantes permanecido vários meses na região de Santa Catarina. Entre o reduzido grupo que, na viagem de regresso, escapou ao ataque de um pirata bretão, encontrava-se Essomericq, filho do chefe carijó Arosca, que por todos os lugares de passagem era muito bem olhado, por não ter jamais havido em França personagem de tão longínquo país.
Os relatos dos homens da expedição capitaneada por Binot Paulmier de Gonneville espalharam-se velozmente pelos portos da França atlântica, divulgando notícias sobre as gentes e os produtos das terras austrais, facto que atraiu o interesse dos activos homens de negócios da Normandia (Ruão, Dieppe, Harfleur, Honfleur e Caen) e da Bretanha (Brest e Saint-Malo). Os armadores normandos e bretões começaram, a partir de então, a enviar cada vez com maior frequência navios para se abastecerem directamente de pau-brasil na Terra de Santa Cruz, assegurando, desse modo, o fornecimento de matérias corantes aos grandes centros gauleses produtores de tecidos. Utilizavam, ainda, intérpretes normandos, os truchements, que se fixaram em crescente número junto de alguns grupos tribais tupis.
A intensa actuação de corsários no Atlântico e de armadores bretões e normandos na América Portuguesa transformou-se rapidamente numa das preocupações prioritárias do governo de Lisboa. João III (1521 - 1557), firmemente determinado a afastar os súbditos do rei de França do Atlântico português e do Brasil, optou por uma estratégia que combinava uma intensa acção persuasiva junto da corte de Francisco I (1515 - 1547) com a adopção de medidas de cariz defensivo. No campo diplomático, o rei procedeu à nomeação de João Silveira para representar os interesses portugueses perante o monarca gaulês (de 1522 a Abril ou Maio de 1530). Idêntica medida tomou o governo de Paris, designando Honorato Cais para desempenhar as funções de seu embaixador em Lisboa, cargo que exerceu, embora de forma intermitente, ao longo de trinta e seis anos (de 1523 a 1558).
Nas suas relações com Portugal, Francisco I pretendia atingir simultaneamente dois objectivos que, no entanto, se revelavam contraditórios. Por um lado, procurava combater o monopólio português em Africa, no Brasil e no Oriente com a finalidade de proporcionar lucrativos negócios aos seus armadores e mercadores, contribuindo, desse modo, para fortalecer a componente atlântica da navegação e do comércio franceses e para criar melhores oportunidades de cobrança de receitas ao tesouro régio gaulês, depauperado pelos elevados custos das Guerras de Itália. Por outro lado, desejava firmar um tratado de aliança com o monarca lusitano com vista a obter apoios que lhe permitissem combater mais eficazmente Carlos V (1516 – 1519 - 1556). Apesar dos sérios prejuízos que os vassalos de Francisco I causavam à navegação e ao comércio portugueses, do forte sentimento popular anti-francês e das opiniões dos mais influentes membros do Conselho Régio, nomeadamente o infante Luís e o bispo de Viseu, partidários de uma política de claro alinhamento com o imperador e de frontal oposição à França, João III não quis adoptar medidas que contribuíssem para que o reino gaulês fosse demasiadamente enfraquecido pela dinastia de Habsburgo, em virtude de esta já estender a sua influência a uma vasta área que englobava a Espanha e o seu Império Americano, uma parte da Itália, o Império Germânico, a Flandres, o Artois e, por vezes, conforme a sorte das armas, a Borgonha. Com esta actuaçáo, o monarca português visava contrabalançar as tendências hegemónicas da Casa de Austria, que ambicionava concretizar o projecto da monarquia universal, defendido por um dos mais influentes colaboradores de Carlos V, o chanceler Mercurino Gattinara». In Pablo Emílio Perez-Mallaina e Jorge Couto, Viagens e Viajantes no Atlântico Quinhentista, coordenação de Maria da Graça Ventura, Edições Colibri, Faculdade de Letras de Lisboa, Lisboa, 1996, ISBN 972-8288-21-2.

Cortesia de Colibri/JDACT