Cortesia
de wikipedia e jdact
«Brad Adkins olhou ao redor no
laboratório. Ele não era capaz de disfarçar a sua tensão em relação aos outros
e sabia que todos compartilhavam o mesmo sentimento. Eles vinham trabalhando na
escavação em Istambul já havia três semanas e ainda não tinham encontrado o que
foram designados a procurar. E o tempo estava-se esgotando. O laboratório
parecia arrumado o suficiente para que pudessem terminar o dia de trabalho,
pensava Adkins, observando os seus dois colegas acomodando cuidadosamente caixas
nos armários brancos posicionados ao longo de uma parede. Ele virou-se para as
telas de computador sobre a longa mesa. Desligou-os, um a um, metodicamente analisando
se todas as novas informações do dia tinham sido apropriadamente gravadas. Os seus
colegas haviam terminado antes dele e estavam só assistindo. Su-Lin parecia
ansiosa para se ir embora, pensava, mas ele recusou-se a apressar-se pela
integrante mais inexperiente da sua equipa, mesmo que ela estivesse ali por
ordem do seu principal patrocinador. Estamos quase lá.
Uma mulher e tanto, aquela
Su-Lin, mas isso seria misturar as coisas, e ele não queria estragar a relação
profissional mais próxima que esse projecto tinha criado entre eles três. E
Deus sabe o quanto eles precisavam daquilo, Adkins continuava a pensar, no meio
de toda aquela pressão. Ele perguntava-se quanto tempo demoraria para que as pessoas
começassem a ficar impacientes. Vamos embora daqui, disse o seu colega de Yale,
Rick Taylor. Outro dia perdido... Está na hora de voltar. Adkins esticou a mão
na direcção do botão do último monitor. Taylor vinha enchendo. Ele deveria
ficar de olho nisso. Mas o colega estava certo, eles tinham feito outra busca
infrutífera. Adkins tentava manter-se esperançoso, mas cada dia confirmava a sua
suspeita crescente de que o que procuravam simplesmente não estava ali. Ele olhou
novamente para Su-Lin. Impassível naquele momento, ela encarava o próprio relógio.
Adkins desligou o último monitor.
Mas, enquanto recolhia a mão e a tela do computador ficava escura, a porta do
laboratório abriu-se violentamente. Cinco homens de preto irromperam. Tinham os
rostos escondidos por máscaras e vinham seguidos por um homem magro e uma
mulher rechonchuda vestidos como turistas, usando óculos escuros
suficientemente grandes para esconder as suas feições. Foi a mulher que falou.
Sotaque inglês. Refinado. Educado. Sinto muito incomodá-los. Temos algumas
perguntas para fazer. Quem diabos são...? Um dos homens se aproximou e bateu
com um porrete em Taylor, jogando-o no chão. Ele ficou ali sem se mexer. Não
danifiquem as mercadorias, disse a mulher. Não danifiquem nada.
Um dos homens foi na direcção de
Adkins. Ele encolheu-se, esperando um golpe. Mas nenhum ataque foi desferido.
Em vez disso, o homem enfiou a sua cabeça num capuz de pano grosso, apertando-o
de forma selvagem no pescoço. Adkins sentiu o pânico crescer antes de o homem o
atingir uma única vez na nuca. Um golpe certeiro. Então, a escuridão foi total.
1204
d.C.
Constantinopla, segunda-feira, 12
de Abril, e finalmente um ataque. Primeiro preciso escrever sobre o barulho: os
gritos, os trovões e o cheiro de alcatrão e de carne queimada por todo lado ao
redor. Era como se toda a ira da verdadeira Igreja Católica tivesse sido
libertada. O sol brilhava intensamente naquele dia e estava uma ventania. Enormes
lufadas se concentravam rumo ao norte, embora a princípio a direcção mudasse
com frequência. Mas era um bom dia para uma batalha, depois de uma espera tão
longa, e o vento finalmente estabilizou num constante e potente sopro,
empurrando as nossas galés e embarcações de transporte para o litoral. Não
havia como voltar agora e ali, no convés do navio que nos liderava, estava
Dandolo, aos 90 anos, cego, mas com o seu elmo e a sua armadura brilhando, a sua
espada em riste. Ao seu lado, o seu fiel viking, outro homem igualmente velho,
mas resistente como madeira de lei.
Baixamos as grandes rampas de
cerco que estavam fixadas às proas de nossos navios para que elas caíssem sobre
as duas torres mais próximas das muralhas da cidade. Tínhamos sido sábios ao
protegê-las com telhados feitos de couro de vaca embebido em vinagre, porque,
por mais quente e escuro que estivesse enquanto avançávamos apressados por elas
até as plataformas na ponta, as coberturas nos livravam do fogo e das pedras
que os desgraçados atiravam em nós. E chegámos com tudo ao topo. O cheiro de
piche queimado estava por todo lado nos túneis escuros das rampas, e fomos
cegados pela luz quando emergimos. Os primeiros de nós foram destroçados pela Guarda
Viking, o desprezível bando de saxões que protegia o falso imperador. Mas continuamos
indo sem parar e os nossos navios despejavam e esguichavam fogo grego através
de sifões de bronze contra os deploráveis defensores. Nós observamos enquanto o
fogo se agarrava nas suas peles. Eles morreram gritando enquanto tentavam livrar-se
daquilo.
As muralhas da cidade elevavam-se
muito altas, mas nós sabíamos que elas não eram tão boas quanto pareciam.
Estavam desmoronando; tinham passado por séculos de negligência, desde que a
Grande Cidade passou a acreditar ser inexpugnável, sob a protecção das asas do
próprio arcanjo Gabriel. Mas podíamos ver onde a argamassa estava apodrecendo
entre as pedras e implantamos galhos secos embebidos em nafta nas rachaduras
que encontramos, ateando fogo para enfraquecer ainda mais aqueles paredões». In
Anton Gill, O Pergaminho Sagrado, 2012, Editora Record, 2013, ISBN
978-850-140-155-7.
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