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Os
Tesouros do Vaticano
(…) Os edifícios do Vaticano,
especialmente a basílica de São Pedro, são adornados com ouro, prata, pedras
preciosas e o mais fino mármore. Para entender porque o papa tem essas colecções,
explicou Maurizio Luca, especialista do Vaticano encarregado da sua manutenção,
é preciso pensar no significado do papa e da Igreja ao longo dos séculos. Os papas
e a sua corte eram os maiores patronos da cultura no seu tempo. Este é o lugar
onde os papas colocaram alguns dos maiores artistas para trabalhar, e isso
transformou-se em colecções. Em 2001, dois ex-funcionários do Vaticano foram
acusados de envolvimento em fraudes de obras de arte. O monsenhor Michele
Basso, ex-administrador do Capitólio de São Pedro, e o monsenhor Mario
Giordana, ex-conselheiro da embaixada italiana no Vaticano, foram acusados de
tentar vender obras de arte falsamente atribuídas a artistas como Michelangelo,
Guercino e Giambologna a instituições como o Metropolitan Museum, em Nova
Iorque, e a National Gallery, em Washington. (…) Os trabalhos mais notáveis
eram um busto de mármore, o Jovem São João Baptista, atribuído a Michelangelo,
e um vaso grego antigo, atribuído a Eufrónio. Os funcionários teriam usado
papéis impressos do Vaticano para autenticar as obras e aumentar o seu valor. Como
o Vaticano é ao mesmo tempo uma cidade e um Estado (ambos na cidade de Roma), é
administrado da mesma forma que os países, com uma prestação de contas de toda
a sua riqueza; porém, também funciona como uma empresa multinacional. O
escritor Karl Keating observou que o orçamento anual do Vaticano era mais ou
menos igual ao da arquidiocese de Chicago. Uma parte dos fundos era usada para
manter o próprio Vaticano e a outra parte destinava-se ao trabalho missionário
da Igreja e outras obras ao redor do mundo.
Imagino que poderíamos perguntar
porque o Vaticano tem dificuldades para equilibrar um orçamento anual
relativamente pequeno, escreveu Keating. A riqueza da Igreja é composta quase
que inteiramente de igrejas, hospitais, escolas e missões, mais as obras de
arte. Poderia vender as obras de arte, mas o produto da venda não alimentaria
os pobres do mundo por um dia sequer. Se o Vaticano vendesse todas as suas
obras de arte, receberia centenas de milhões de dólares, mas uma única vez.
Elas desapareceriam, e o dinheiro não iria durar muito. (…) Os papas são
guardiões, não donos. Eles têm a responsabilidade de preservar os seus tesouros
artísticos para a posteridade, não vendê-los para colecções particulares. Calculou-se
que custa cerca de 250 milhões de dólares anuais para administrar o Vaticano. O
dinheiro vem de (…) contribuições das conferências dos bispos, dioceses, ordens
religiosas, doadores leigos e outras entidades. Em 2004, esse total chegou a 89
milhões de dólares. Desse valor, cerca de 27,2 milhões vieram de dioceses
individuais nos termos do Cânone 1.271 do Código da Lei Canónica, que obrigava
as dioceses a contribuir financeiramente para manter a Santa Sé. Isso significa
que 2.883 jurisdições eclesiásticas de todo o mundo deram uma média de 10 mil
dólares cada uma em 2004. (…) As arquidioceses ricas deram muito mais, muitas
dioceses menores deram pouco ou nada.
O Vaticano também acumula ganhos
com bens imóveis, cerca de trinta edifícios e 1,7 mil apartamentos de
propriedade da Santa Sé que geraram uma renda de 64,5 milhões de dólares em 2004.
Os ganhos também são provenientes de investimentos e outras actividades financeiras,
com 80% da carteira do Vaticano em títulos e 20% em acções. Em 2004, o demonstrativo
financeiro do Vaticano não forneceu um total geral, mas especialistas disseram que
os ganhos devem ter sido da ordem de 100 milhões de dólares. O demonstrativo sublinhou
que isso representava um ganho de 21,5 milhões de dólares, atribuído à melhoria
da situação dos mercados financeiros mundiais em 2004. Um relatório [de 2004]
do Vaticano indicou que as contribuições para o óbolo de São Pedro, fundo de
apoio às acções de caridade papais que não fazem parte do orçamento regular do
Vaticano, totalizaram 52 milhões de dólares (…) uma queda de 7,4%.
O
famoso escritor e sacerdote de Chicago padre Andrew Greeley escreveu: houve um tempo
em que a Igreja foi realmente muito rica (e essa é outra história), mas a
Reforma e a Revolução Francesa acabaram com isso. O catolicismo é pobre em
propriedades. Qual é, por exemplo, o valor de reposição da basílica de São
Pedro no Vaticano? Quem a compraria? Quanto rende anualmente? Na verdade, as
velas votivas, a sua única fonte de receita, mal pagam a manutenção. E o que
alguém faria com ela se a comprasse, principalmente depois que descobrissem que
era um chamariz de vendas? Construiriam condomínios? O que alguém faria com o
museu do Vaticano? Talvez o governo italiano pudesse comprá-lo para fazer a
última estação da linha de metro de Roma». In Paul Jeffers, Mistérios Sombrios do
Vaticano, 2012, tradução de Elvira Serapicos, Editora Jardim dos Livros, 2013,
ISBN 978-856-342-018(7)-3(6).
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