segunda-feira, 10 de setembro de 2018

O Triângulo Secreto. Didier Convard. «Mosèle virou a primeira página e mergulhou na leitura, decifrando imediatamente o texto em latim. Como...? Foi somente o que indagou Mosèle»

Cortesia de wikipedia e jdact

As Lágrimas do Papa
A Fundação Meyer. O escritório
«(…) Folheando a obra com delicadeza e voltando para perto de Mosèle, Hertz murmurou: O Segredo! Preferia que ficasse fora dessa fábula, meu amigo! Não brinque com as palavras. Sabe muito bem que não é uma fábula. Hertz sentou-se novamente. A cadeira estalou ainda mais forte. Uma lenda continua a ser uma lenda enquanto a sua realidade não for comprovada. Acabou de me contar a versão de uma aventura que eu consideraria um folhetim popular se não o conhecesse a si. No entanto, diversos pontos da sua história são corroborados por esta pequena obra. Tome, pegue-a. Sei que é especialista o suficiente para saber do que se trata. Vire as páginas com cuidado: não é tão nova assim! O melhor meio que encontrei para escondê-la foi colocá-la em evidência entre os outros livros. Mosèle recebeu surpreso o livro sem nenhum título. Abriu-o e ficou alguns segundos decifrando a frase escrita entre as magníficas iluminuras da primeira página. Não é possível! Não, este livro não existe mais..., foi queimado por Filipe, o Belo! Lenda, Didier! Diz a lenda que ele foi destruído! Na verdade, a fábula corrente afirma que Filipe, o Belo, depois do processo iníquo contra Jacques de Molay, ordenou ao carrasco que jogasse este livro nas chamas da fogueira na qual iria morrer o último grão-mestre dos Templários.
Mosèle virou a primeira página e mergulhou na leitura, decifrando imediatamente o texto em latim. Como...? Foi somente o que indagou Mosèle. Como ele chegou até mim, ou como não foi devorado pelas chamas, conforme queria o rei Filipe? Isso mesmo, como e por que este evangeliário de Nicolau e Agnano de Pádua, porque é dele mesmo que se trata, não é?, ainda existe até hoje? Tenho nas mãos um objecto maldito, a peça-chave de uma doutrina herética, In furorem versus, comumente chamada de Testamento do Louco! Realmente, é assim que denominam esta obra. Admiro os seus conhecimentos, Didier. Poucas pessoas podem citar o Testamento do Louco redigido pelo monge Nicolau de Pádua e ilustrado pelo irmão Agnano. Irmão? Está zombando de mim, Martin. Está a simular uma raposa, mais astuta do que sorrateira. O quê?, fez Martin, pegando o charuto apagado e segurando-o entre os dentes. Mosèle continuou: na verdade, Agnano era amante dele. Os dois homens dissimularam o seu amor por trás da fachada de fraternidade. Parabéns!, exclamou Hertz. Espanta-me! No entanto, eu já deveria esperar pelas suas respostas. É um historiador renomado, e tudo o que se refere, de perto ou de longe, aos manuscritos dessa época não o deixa indiferente. Tenho de reconhecer que o meu orgulho foi golpeado. Desculpe...
Nunca mais se desculpe na minha presença! Não seja tão modesto e apagado. Do que me contou esta noite, a teoria que estruturou com Marlane, as suas descobertas saem das sombras da lenda. Você tem tanta consciência disso quanto eu. Lembre-se da frase de Aristóteles: para ser aceitável como conhecimento científico, uma verdade deve ser induzida por outras verdades. Este evangeliário, como você o chama, é uma das verdades que podem permitir que reconstrua a realidade do passado. Quanto à locução latina In furorem versus que deu o título a esta obra, nós a encontramos na Vulgata de são Jerónimo que se inspirou num versículo de Marcos: E, quando os seus familiares souberam disto, foram lá para levá-lo embora, pois diziam: Ele está fora de si. Um versículo que fala de Jesus. Tudo que vivemos seria falso? Nós, os herdeiros do judaísmo e do cristianismo, seríamos os actores de uma quimera? Dá-me razão a respeito desse princípio? Nunca disse nada disso, precisou Hertz, mastigando o charuto apagado. Eu limito-me a ajudá-lo, como veio pedir. Acontece que pude adquirir este manuscrito. Qual foi o golpe de mágica que o fez pôr as mãos nessa maravilha? Achava que só restasse um único exemplar, no Vaticano. De facto, a biblioteca pontifícia conserva uma cópia idêntica, especificou Hertz. Semelhante em todos os pontos. Executada por Nicolau e Agnano de Pádua. Sempre houve dois Testamentos do Louco! Depois explicarei como me tornei proprietário desta jóia... Que seja! Então, vou aguardar. É um homem de mistérios e enigmas, Martin. Francis Marlane citou este manuscrito. Um tal de Pontiglione falou-lhe a respeito, num encontro de franco-maçons em Veneza. O professor Ernesto Pontiglione? Eu conheço-o pouco. Troquei algumas cartas com ele. Sabia que procurava uma cópia do Testamento do Louco para um trabalho que o Vaticano lhe confiara. Deu-lhe a cópia?» In Didier Convard, O Triângulo Secreto, As Lágrimas do Papa, Editora Bertrand Brasil, 2012, ISBN 978-852-861-550-0.

Cortesia de EBertrandBrasil/JDACT