quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

O Triângulo Secreto. Didier Convard. «De facto, foi um suserano vaidoso, cheio de arrogância e altivez que ergueu o jovem rei da França nos braços e o apertou contra o peito num ingénuo e viril abraço»

Cortesia de wikipedia e jdact

As Lágrimas do Papa
Os Templários
«(…) Então, a minha missão consistirá somente em desempenhar esse único papel?, surpreendeu-se Filipe. Devo apenas trazer os pergaminhos? Renaud prosseguiu: isso é da maior importância, Sire. Como já dissemos, esses textos são a pedra angular do indizível Segredo. Não podemos correr o risco de que sejam descobertos por outros... Isso porque não somos os únicos a procurá-los! A voz lenta acrescentou: São João de Acre deve cair. Sereis o artesão dessa queda e entrareis na cidade para ser o primeiro a examinar as fundações da Torre Maldita. Pela nossa Tradição, sabemos onde explorar...
Depois de um tempo, Filipe disse: está bem. Agirei pela causa da Loja Primeira, se bem que ainda duvide da veracidade da sua proposta. Isso não basta para que deixem de confiar em mim? Não, Sire, murmurou Renaud. Tendes toda a nossa confiança e aceitamos as vossas dúvidas, que são bem naturais. O ensino religioso que recebestes está sendo questionado. Somos muito poucos a conhecer a verdade... O rei Filipe virou-se para o cavaleiro Renaud, cuja parte inferior do rosto aparecia sob a sombra do capuz. Uma boca pequena, uma negra barba fina. Um sorriso amigável, fraternal. Justamente essa verdade, articulou o rei, essa verdade queima-me a alma, tanto quanto a dor de haver perdido a minha esposa e os gémeos. Uma verdade bem incómoda! A voz lenta e suave concluiu: vamos suspender os trabalhos, meus irmãos.
Os templários ergueram e baixaram por três vezes a corrente de braços antes de rompê-la. Em seguida, o cavaleiro Renaud pôs a mão no ombro de Filipe. Vinde, Sire. Vamos subir. Assim havia sido todas as vezes. O rei era acompanhado pelo guia. A escada em caracol a ser subida, a sala escura a ser percorrida em sentido inverso... E o reencontro com Henri e Benoit. Nenhuma palavra trocada entre os três homens. Um cumprimento de cabeça de Renaud antes de fechar, atrás do rei, a porta de carvalho maciço. A chuva havia cessado. Uma claridade prateada envolvia as telhas dos telhados. A luz... Filipe ergueu os olhos para o céu leitoso e inspirou profundamente o ar. Pensava no Segredo. Pensava no que os templários lhe haviam dito no mês anterior. Pensava na morte de Isabel, na dos gémeos, e temia ter sido amaldiçoado.
Esta luz, suspirou ele, para surpresa dos dois amigos. Como é bela! Ela me transporta, como uma fervorosa oração... Mas Filipe se absteve de confessar que não rezava desde que ficara sabendo... Desde que os templários o haviam recebido no seio da Loja Primeira para lhe contar que a Igreja construíra o seu império sobre uma fraude. Sobre a mais aterradora das mentiras!

O Massacre
O rei Filipe e o seu exército chegaram às muralhas de São João de Acre em 20 de Abril de 1191. O soberano estava acompanhado dos dois amigos, os cavaleiros Henri e Benoit, bem como do templário Renaud. Filipe foi recebido pelo bispo de Beauvais, Filipe de Dreux, e pelos condes de Flandres. Ah, meu primo, exclamou o bispo, já havíamos perdido as esperanças de ter-vos ao nosso lado. Só estávamos aguardando-vos e ao rei Ricardo para derrubar essa fortaleza. E Frederico? Barba-Roxa ainda não se reuniu a vós?, indagou o rei. O imperador afogou-se nas águas do Cidnos e os seus cruzados não têm mais coragem para lutar. Quase todos se fizeram ao largo depois disso, respondeu Filipe de Dreux. Que aborrecimento!, disse o rei. Teremos de contar com as forças do orgulhoso Ricardo. Mas trouxe comigo engenhosos marceneiros que construirão balistas e manganelas.
Filipe instalou imediatamente o seu acampamento e os seus arquitectos puseram mãos à obra para construir os engenhos de guerra. Os operários transportavam vigas, roldanas e cordas. Os ferreiros construíram grandes fornos de barro para fabricar as protecções com as quais seriam revestidas as torres do ataque. No dia 7 de Junho, o rei Filipe foi avisado do desembarque do rei Ricardo. Pelo visto, anunciou o templário Renaud, ele está impaciente para se engalfinhar com os defensores de São João de Acre. Não me surpreende, observou Filipe. O seu desejo de glória é maior do que a fé.
De facto, foi um suserano vaidoso, cheio de arrogância e altivez que ergueu o jovem rei da França nos braços e o apertou contra o peito num ingénuo e viril abraço. Filipe! O augusto e sério Filipe! Um abraço! Coração de Leão, demorou-se pelo caminho. Atacantes e sitiados começam a passar necessidades. Ricardo pegou o braço de Filipe e se convidou para visitar o acampamento imediatamente. O inglês viu os engenhos de guerra que os franceses haviam feito e reconheceu, de bom grado, a qualidade das obras. Ficou maravilhado, acima de tudo, diante de uma catapulta, a Malvoisine, e de uma torre tão alta quanto as muralhas da cidade. Uma torre de quatro andares, feita de madeira, chumbo e ferro. Seus homens realizaram um belo trabalho. Vamos atacar a fortaleza e assaltá-la juntos». In Didier Convard, O Triângulo Secreto, As Lágrimas do Papa, Editora Bertrand Brasil, 2012, ISBN 978-852-861-550-0.

Cortesia de EBertrandBrasil/JDACT