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As
Lágrimas do Papa
Os
Templários
«(…) Então, a minha missão consistirá
somente em desempenhar esse único papel?, surpreendeu-se Filipe. Devo apenas
trazer os pergaminhos? Renaud prosseguiu: isso é da maior importância, Sire.
Como já dissemos, esses textos são a pedra angular do indizível Segredo. Não
podemos correr o risco de que sejam descobertos por outros... Isso porque não
somos os únicos a procurá-los! A voz lenta acrescentou: São João de Acre deve
cair. Sereis o artesão dessa queda e entrareis na cidade para ser o primeiro a
examinar as fundações da Torre Maldita. Pela nossa Tradição, sabemos onde
explorar...
Depois de um tempo, Filipe disse:
está bem. Agirei pela causa da Loja Primeira, se bem que ainda duvide da veracidade
da sua proposta. Isso não basta para que deixem de confiar em mim? Não, Sire,
murmurou Renaud. Tendes toda a nossa confiança e aceitamos as vossas dúvidas,
que são bem naturais. O ensino religioso que recebestes está sendo questionado.
Somos muito poucos a conhecer a verdade... O rei Filipe virou-se para o
cavaleiro Renaud, cuja parte inferior do rosto aparecia sob a sombra do capuz.
Uma boca pequena, uma negra barba fina. Um sorriso amigável, fraternal. Justamente
essa verdade, articulou o rei, essa verdade queima-me a alma, tanto quanto a
dor de haver perdido a minha esposa e os gémeos. Uma verdade bem incómoda! A
voz lenta e suave concluiu: vamos suspender os trabalhos, meus irmãos.
Os templários ergueram e baixaram
por três vezes a corrente de braços antes de rompê-la. Em seguida, o cavaleiro
Renaud pôs a mão no ombro de Filipe. Vinde, Sire. Vamos subir. Assim havia sido
todas as vezes. O rei era acompanhado pelo guia. A escada em caracol a ser
subida, a sala escura a ser percorrida em sentido inverso... E o reencontro com
Henri e Benoit. Nenhuma palavra trocada entre os três homens. Um cumprimento de
cabeça de Renaud antes de fechar, atrás do rei, a porta de carvalho maciço. A
chuva havia cessado. Uma claridade prateada envolvia as telhas dos telhados. A
luz... Filipe ergueu os olhos para o céu leitoso e inspirou profundamente o ar.
Pensava no Segredo. Pensava no que os templários lhe haviam dito no mês
anterior. Pensava na morte de Isabel, na dos gémeos, e temia ter sido amaldiçoado.
Esta luz, suspirou ele, para
surpresa dos dois amigos. Como é bela! Ela me transporta, como uma fervorosa
oração... Mas Filipe se absteve de confessar que não rezava desde que ficara
sabendo... Desde que os templários o haviam recebido no seio da Loja Primeira
para lhe contar que a Igreja construíra o seu império sobre uma fraude. Sobre a
mais aterradora das mentiras!
O Massacre
O rei Filipe e o seu exército
chegaram às muralhas de São João de Acre em 20 de Abril de 1191. O soberano
estava acompanhado dos dois amigos, os cavaleiros Henri e Benoit, bem como do
templário Renaud. Filipe foi recebido pelo bispo de Beauvais, Filipe de Dreux,
e pelos condes de Flandres. Ah, meu primo, exclamou o bispo, já havíamos
perdido as esperanças de ter-vos ao nosso lado. Só estávamos aguardando-vos e
ao rei Ricardo para derrubar essa fortaleza. E Frederico? Barba-Roxa ainda não
se reuniu a vós?, indagou o rei. O imperador afogou-se nas águas do Cidnos e os
seus cruzados não têm mais coragem para lutar. Quase todos se fizeram ao largo
depois disso, respondeu Filipe de Dreux. Que aborrecimento!, disse o rei. Teremos
de contar com as forças do orgulhoso Ricardo. Mas trouxe comigo engenhosos
marceneiros que construirão balistas e manganelas.
Filipe instalou imediatamente o seu
acampamento e os seus arquitectos puseram mãos à obra para construir os
engenhos de guerra. Os operários transportavam vigas, roldanas e cordas. Os
ferreiros construíram grandes fornos de barro para fabricar as protecções com
as quais seriam revestidas as torres do ataque. No dia 7 de Junho, o rei Filipe
foi avisado do desembarque do rei Ricardo. Pelo visto, anunciou o templário
Renaud, ele está impaciente para se engalfinhar com os defensores de São João
de Acre. Não me surpreende, observou Filipe. O seu desejo de glória é maior do
que a fé.
De facto, foi um suserano
vaidoso, cheio de arrogância e altivez que ergueu o jovem rei da França nos braços
e o apertou contra o peito num ingénuo e viril abraço. Filipe! O augusto e sério
Filipe! Um abraço! Coração de Leão, demorou-se pelo caminho. Atacantes e
sitiados começam a passar necessidades. Ricardo pegou o braço de Filipe e se
convidou para visitar o acampamento imediatamente. O inglês viu os engenhos de
guerra que os franceses haviam feito e reconheceu, de bom grado, a qualidade
das obras. Ficou maravilhado, acima de tudo, diante de uma catapulta, a Malvoisine,
e de uma torre tão alta quanto as muralhas da cidade. Uma torre de quatro
andares, feita de madeira, chumbo e ferro. Seus homens realizaram um belo
trabalho. Vamos atacar a fortaleza e assaltá-la juntos». In Didier
Convard, O Triângulo Secreto, As Lágrimas do Papa, Editora Bertrand Brasil,
2012, ISBN 978-852-861-550-0.
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