Com
a devida vénia ao Mestre Hugo Calado
O
castelo de Noudar e a defesa do património nacional
«(…) Para trabalhar a conquista
da raia alentejana, e mais especificamente Noudar, existe bibliografia
diversificada, embora nem toda ela nos possa elucidar sobre o problema da
situação do castelo referido no contexto político-militar peninsular. Em
primeiro lugar, como referência bibliográfica geral, temos as Histórias de
Portugal, obras de carácter geral e descritivo dos factos, que são sempre
necessárias para se saber o contexto político, social, económico que envolvia o
reino português dentro de determinado período cronológico. As Histórias de
Portugal são sempre um grande auxiliar, pois são elas que assumem um papel de
referência geral dos estudos históricos de um determinado país, no que concerne
à divulgação a um público mais geral. Estamos, no entanto, a trabalhar uma área
geográfica específica, que comporta uma ou mais populações específicas, que
tinham aspectos culturais diferentes das outras comunidades do reino.
Estamos perante uma sociedade de
fronteira, específica nas suas vivências culturais, pelo que as histórias não
lhe dão muita atenção, pois são a historiografia do geral, não havendo
referências específicas àquilo que muitas vezes nos propomos a estudar ou mesmo
nenhuma, e nem é suposto que as tenham, pois sendo uma região tão afastada dos
centros populacionais mais importantes e praticamente à margem dos grandes
acontecimentos que marcaram a história da nação portuguesa, é natural que pouco
se refiram a Noudar, então para isso teremos que recorrer às obras específicas
sobre o assunto que estão disponíveis, se quisermos saber mais ou mesmo levar adiante
um estudo mais exaustivo. As Histórias de Portugal são obras de carácter geral,
mas cada História de Portugal, de diferentes direcções, de investigadores
diferentes, especializações diferentes, e contendo mesmo âmbitos cronológicos
diferentes, têm de ter igualmente características diferentes. Em seguida,
tratam-se os pontos que achei mais pertinentes utilizar para o meu estudo da
conquista da raia alentejana no geral, e no caso específico de Noudar, e de
cada uma das diversas Histórias que utilizei. Mesmo tratando-se de histórias
gerais, também se dará ênfase à arqueologia, ciência que tantos e bons
contributos no dá para o presente estudo.
As Histórias Gerais de Portugal
O castelo de Noudar é muito pouco
referido pelas histórias gerais, devido à sua situação periférica, aparecendo
na maioria das vezes no contexto do tratado de Alcanizes e das reformas do monarca
Dinis I no contexto da defesa do reino através dos castelos de fronteira. O
castelo de Noudar, pertencente ao termo de Moura, como diz Francisco Brandão,
estaria numa situação secundária, face a esta última localidade, pelo que viria
sempre seguindo esta localidade nas suas passagens de proprietários, sendo
Moura um local mais importante estrategicamente pelas referências que lhe são
feitas. Noudar não receberia muita importância do ponto de vista referencial, o
que saliento, não diminuiria a sua importância. As referências ao castelo são
escassas e são todas enquadradas no contexto político-militar nacional, face às
relações com o reino vizinho de Castela. As Histórias de Portugal fazem uma
exposição dos acontecimentos da conquista da raia alentejana, tratam o avanço
cristão para o Sul da península, fazendo uma articulação entre os
acontecimentos da reconquista do lado de cá da fronteira com o avanço leonês na
Estremadura espanhola, nomeadamente a relação das quedas de Cáceres e Badajoz
em 1227, com as conquistas portuguesas no Alentejo As conquistas leonesas
facilitaram a ocupação portuguesa da margem esquerda do Guadiana, e o seu avanço
para o sul, até ao Algarve, porque com a queda das respectivas fortalezas aos
pés de Afonso IX de Leão, os bastiões muçulmanos alentejanos ficariam sem a hipótese
de receberem reforços, oportunidade que os portugueses aproveitaram.
A fortaleza de Noudar, estando
inserida neste espaço de fronteira, primeiramente com o muçulmano, foi
possivelmente conquistada para mãos cristãs nos anos trinta do século XIII, altura
em que Moura e Serpa também foram tomadas. Estando o castelo de Noudar no termo
de Moura, e acompanhando esta localidade em inúmeras transições de
proprietários que a margem esquerda do Guadiana teve, é possível que tenha
vindo para a coroa portuguesa nesta altura. Os artigos das histórias gerais
sobre fortificações são igualmente importantes na aquisição de informação de
técnicas construtivas de estruturas defensivas e o seu material, herdadas da
civilização islâmica, pois o local conheceu inúmeras ocupações humanas ao longo
da sua existência». In Hugo Miguel Pinto Calado, A Raia Alentejana Medieval e os Pólos de
Defesa Militar, O Castelo de Noudar e a Defesa do Património Nacional, Tese de
Mestrado em História Regional e Local, Universidade de Lisboa, Faculdade de
Letras, Departamento de História, 2007.
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