quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

O Triângulo Secreto. Didier Convard. «É aqui, bradou ele, de repente, mostrando um pedregulho com a imagem de um peixe. Agora o animal tem uma cruz em cima. Quem fez essas marcas, Renaud? E quando?»

Cortesia de wikipedia e jdact

As Lágrimas do Papa
Os Três Rolos
«(…) Eis o torreão chamado Torre maldita, Sire. O caminho está livre. Vamos rápido... Estou cansado e o meu sangue está quente. Sem dúvida, é a doença do suor. Não é raro apanhar essa febre nessas regiões. Filipe e o templário entraram na escura construção por uma passagem ou porta disfarçada numa fortificação ou praça de guerra. Renaud virou-se para o rei. Estendeu-lhe a mão. Sinceramente, é verdade, estais ardendo! A noite ecoava lamentos e prantos longínquos, encobertos pelos risos dos cruzados embriagados e gritos das mulheres violadas. O templário abriu caminho com a ajuda da tocha e deu a mão ao rei para ajudá-lo a descer uma escada estreita de degraus desconjuntados, que se embrenhava na humidade e no odor de mofo. Em baixo da escada, apareceu um corredor, uma galeria apertada com chão de terra batida, na qual só se podia entrar abaixado. Cuidado, Sire, o tecto está cada vez mais baixo. Vamos dar uns vinte passos assim e, depois, escolher uma passagem entre outras três.
Como saberá qual dos caminhos deveremos seguir, cavaleiro? Vede, respondeu Renaud, sorrindo e indicando com a tocha um motivo gravado na parede. Um peixe estilizado, traçado grosseiramente com uma lâmina. Este era o sinal de reconhecimento dos primeiros cristãos, observou o rei. É verdade, Sire. Esses peixes nos guiarão até à cripta, onde encontraremos o que viemos buscar. Aos meus olhos, tudo isso tem um quê de prodígio! Não, Majestade! Não, não se trata de magia; os agentes do Templo informaram os comandos em todo o mundo. Sabeis que fazemos uma certa investigação há muito tempo. A Tradição preservou as informações relativas a este local ao longo dos séculos. É esse tipo de segredo que os irmãos Primeiros transmitem entre si nas assembleias?, perguntou Filipe. É, Sire. Uma memória oral que tomamos o cuidado de legar, sem nunca traí-la.
O rei e o templário chegaram à bifurcação indicada por este último. Graças ao motivo gravado na pedra, os dois visitantes podiam seguir confiantes por uma das estreitas passagens. Eles avançaram por longos minutos, curvados, raspando os ombros nas paredes estreitas, as botas patinhando na lama. Finalmente, saíram numa cripta minúscula, escavada com grandes golpes de picareta numa rocha toscamente consolidada com pedregulhos talhados às pressas. Chegamos, suspirou o templário, erguendo-se e soltando a mão do rei, que ele havia puxado como uma criança amedrontada. Por sua vez, Filipe esticou-se, queixando-se das costas. Vós vos entregastes como um diabo durante as lutas, observou o templário. Girastes a vossa espada como teríeis feito com um mangual nos trigos. É verdade que eu ceifava, precisou Filipe. Quebrei cabeças! Cortei braços! E transpassei alguns dorsos! Renaud varria as paredes com a tocha.
É aqui, bradou ele, de repente, mostrando um pedregulho com a imagem de um peixe. Agora o animal tem uma cruz em cima. Quem fez essas marcas, Renaud? E quando? Sabeis muito bem, Filipe. Um homem sábio, há doze séculos. Tomai, pegai a tocha e a segurai no alto para mim. Renaud tirou a adaga da bainha e começou a soltar a pedra. Ele arranhava o cimento de arenito para reduzi-lo a poeira. O trabalho era demorado, e o rei estava impaciente; a febre lhe queimava a carne e lhe gelava os ossos. Paciência, meu rei, disse Renaud, com voz suave. Assim que voltarmos ao acampamento, mandarei chamar o boticário e indicarei alguns remédios que melhorarão o vosso sangue. Também é versado em medicina, cavaleiro? Que conhecimento lhe falta? Continuando o trabalho, Renaud respondeu sorrindo: eu pratico matemática, retórica, filosofia, e me esforço para desenvolver as virtudes teologais: fé, esperança e caridade... Tenho a pretensão de conhecer as estrelas principais e o curso delas... Na verdade, essas são algumas das minhas qualidades, além do manejo da espada e de dois ou três rituais de magia, que realizo longe dos homens da Igreja. Ah, estava-me esquecendo... O quê?, disse o rei, deliciado. Leio e falo fluentemente uma boa dezena de idiomas, bem como várias línguas regionais e dialectos. Filipe soltou um suspiro: eu sinto-me bem idiota ao seu lado e temo não ter vida suficiente para adquirir uma centésima parte do seu conhecimento». In Didier Convard, O Triângulo Secreto, As Lágrimas do Papa, Editora Bertrand Brasil, 2012, ISBN 978-852-861-550-0.

Cortesia de EBertrandBrasil/JDACT