quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

As Grandes Sociedades Secretas. David V. Barrett. «A distinção entre demónios e demons é importante. Alguns neoplatónicos ensinavam a teurgia, que pode ser chamada de convocação de espíritos, mas é, mais corretamente…»

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Entre o Tigre e o Eufrates.
Neoplatonismo
«(…) Todavia, mais importante para as nossas necessidades é a influência que o neoplatonismo teve sobre o lado esotérico do Cristianismo e de outras religiões maiores e, logo, sobre as sociedades secretas. As ideias neoplatónicas alteraram-se e desenvolveram-se ao longo dos séculos, à medida que os diferentes líderes aprimoravam ou rejeitavam os ensinamentos dos antecessores. Tal como acontece com o Gnosticismo, não existe um conjunto fixo de crenças neoplatónicas. Assim, Plotino (204/5-270), que se opunha à magia, defendia a virtude, a castidade e a contemplação mística de Deus. O seu aluno e sucessor, Porfírio (c. 232/ 4-c.305), que organizou os trabalhos de Plotino, procurava modos éticos práticos (boas acções) para que a alma chegasse a níveis mais elevados. O seu aluno Jâmblico (c. 250-c. 330), que, à semelhança de Porfírio, escreveu uma Vida de Pitágoras, acentuou muito mais o lado experiencial da filosofia mística: usando o ritual religioso e ritos mágicos para a teurgia, invocar o poder de Deus ou dos seres espirituais. Esta ênfase levaria a um conflito entre o Neoplatonismo e o Cristianismo emergente, além de dar aos imperadores romanos motivo para impedir, de tempos a tempos, as práticas religiosas não cristãs.
Até agora, no que diz respeito a este livro, os dois mais importantes legados, a longo prazo, do Neoplatonismo para a religião esotérica e as sociedades secretas foram a ênfase do experiencial (ou seja, o real poder do ritual) e o ensinamento quanto às hierarquias dos seres espirituais que, resumidamente, trouxe uma solução para a dicotomia entre politeísmo e monoteísrno. Acima de tudo havia um Deus infinito, universal e incompreensível; a filosofia (do grego, amor pela sabedoria) era o grande meio de aproximação a esse Deus, sendo as religiões tentativas menores de abordar deuses menores, na prática servos, ou daemons, do Deus Único.
O termo demónio, é a forma incorreta de daemon, que incluía seres bons e maus, bem como Deuses menores e os espíritos dos mortos. O seu uso pejorativo para referir, especificamente, espíritos malignos é uma alteração cristã posterior do seu significado. Na teologia cristã, o termo poderia ser substituído por autoridades e poderes, criados pelo Deus Único e que podem ser bons ou maus. Os anjos enquadram-se nessa mesma categoria.
A distinção entre demónios e demons é importante. Alguns neoplatónicos ensinavam a teurgia, que pode ser chamada de convocação de espíritos, mas é, mais corretamente, a invocação de demons bons. Na magia ritual tardia dos filósofos herméticos e dos alquimistas, e na Ordem Hermética da Aurora Dourada de finais do século XIX e início do século XX (banalizada e erroneamente representada como magia negra nos romances de Dennis Wheatley, por exemplo), a ideia não era, habitualmente, invocar o diabo e a hoste infernal, algo muito raro e reconhecido como sendo extremamente perigoso, mas sim os deamons, os deuses menores, os anjos, as autoridades e poderes, e os espíritos poderosos de quem fora espiritualmente poderoso em vida.
O conceito do Deus Único, acima e além de todos os deuses, está no centro das crenças espirituais das sociedades secretas. Isto explica por que razão a Maçonaria e o Rosacrucianismo, embora sejam cristãos na sua origem e expressão, estão abertos às crenças de outras fés, sobretudo das outras Religiões do Livro. O Grande Arquitecto do Universo não se limita ao Cristianismo». In David V. Barrett, As Grandes Sociedades Secretas, 1997, 2007, Clube do Autor, 2016, ISBN 978-989-724-333-2.
                                          
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