quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

As Grandes Sociedades Secretas. David V. Barrett. «Tal como Pitágoras viajou pelo Médio Oriente, e possivelmente pelo Extremo Oriente, na sua busca pelo conhecimento, acabando por instalar a sua escola numa comunidade grega em Itália»

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Entre o Tigre e o Eufrates.
Neoplatonismo
«(…) Ao tentarem abordar este ponto, os oponentes cristãos evangélicos da Maçonaria, bem como autores antimaçónicos como Stephen Knight e Martin Short, passam-lhe completamente ao lado. Ao contrário do que Knight e outros afirmam, o Deus da Maçonaria não é uma deidade composta por três personalidades separadas fundidas numa só, uma amálgama de Javé, Baal e Osíris no nome sagrado Jahbulon. Deus pode ser tratado por este nome composto, ou através de qualquer das suas partes (supondo que se trata da derivação correcta), ou através de qualquer dos muitos nomes de Deus ao longo dos milénios. Afinal de contas, o homem é apenas humano; é útil dispor de um nome, de um rótulo, de um conjunto de atributos que nos ajude a nomear o inefável. Mas Deus não se limita a estes rótulos humanos. Esta crença num Deus Único Supremo também explica como os judeus, os cristãos e os muçulmanos místicos conseguiram partilhar os seus conhecimentos ao longo dos séculos.
A igreja Ortodoxa sempre teve mais capacidade para lidar com os aspectos místicos do Cristianismo, mesmo antes da separação formal de Roma. Bizâncio, ou Constantinopla, era um cadinho mais flexível de culturas e ideias do que Roma alguma vez seria. São Máximo de Bizâncio (580-662), por exemplo, ensinou algo que no Ocidente poderia ser visto como uma heresia profunda: que o objectivo último do crente é ser Deus. Esta posição une o desejo neoplatónico de comunhão extática com o ser puro e a crença cristã inicial de que a iniciação completa fez do crente um Cristo. Essas crenças estão no cerne do Cristianismo esotérico; não surpreende, assim, que a Igreja, detentora do monopólio da salvação, tenha sempre tentado eliminar tal afronta à sua autoridade.

Egipto
É relevante notar que a palavra alquimia, recorrente ao longo deste livro, deriva do árabe al kimiya, que vem, quase de certeza, do grego chemeia, do antigo nome do delta do Nilo no Egipto, khem, que significa terra negra: o solo profundamente fértil de onde vem a vida, o silte escuro do Nilo, no meio do deserto árido. As conotações alegóricas não serão, de todo, acidentais. Embora a verdadeira alquimia seja a transformação da alma, não esqueçamos que os primeiros (e os posteriores) alquimistas também eram químicos. (De igual forma, a distinção entre astrólogos e astrónomos é relativamente recente). Quem conhecia os efeitos, regra geral espectaculares, da mistura de quantidades diferentes de vários pós, aquecendo-os a temperaturas específicas, podia associar os misteres de cientista e de artista; para quem vê de fora, para as pessoas comuns, ambas são formas de magia.
Já em 2900 a. C., os egípcios haviam descoberto como refinar ouro, reservado à realeza, pois tratava-se de um metal precioso difícil de obter. Os sacerdotes que guardavam esse segredo não eram meros metalúrgicos, sendo, isso sim, para todos os efeitos, os primeiros químicos. Assim, religião, magia, secretismo, conhecimento científico e a produção física de ouro estão ligados desde há milénios. A mitologia egípcia é complexa. Tal como se passa com todas as mitologias, ela evoluiu ao longo dos séculos. No entanto, e ao contrário do Judaísmo, que se desenvolveu e tornou um monoteísmo universal, parece que o panteão familiar de Osíris, Ísis, Anúbis, etc., foi um desenvolvimento posterior, sendo a crença egípcia inicial num único Deus, o Deus Sol Ré ou Rá.
Numa das primeiras versões do mito da criação egípcio, o Deus Criador Aton-Ré, que se ergue sozinho do caos primevo, masturba-se para criar vida. Na religião antiga, o sexo era encarado como sendo uma força poderosa. Entre os humanos, tal como entre os animais, o sexo dá origem a vida nova; com os Deuses deveria ser o mesmo. A energia sexual, e os fluidos sexuais, dão vida, são poderosos, sagrados.
Tal como Pitágoras viajou pelo Médio Oriente, e possivelmente pelo Extremo Oriente, na sua busca pelo conhecimento, acabando por instalar a sua escola numa comunidade grega em Itália, outros filósofos passaram anos em países que não os seus, a aprender e a estudar, a comparar e a assimilar conhecimentos». In David V. Barrett, As Grandes Sociedades Secretas, 1997, 2007, Clube do Autor, 2016, ISBN 978-989-724-333-2.
                                          
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