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Entre o Tigre e o Eufrates.
Neoplatonismo
«(…) Ao tentarem abordar este
ponto, os oponentes cristãos evangélicos da Maçonaria, bem como autores
antimaçónicos como Stephen Knight e Martin Short, passam-lhe completamente ao
lado. Ao contrário do que Knight e outros afirmam, o Deus da Maçonaria não é uma
deidade composta por três personalidades separadas fundidas numa só, uma amálgama
de Javé, Baal e Osíris no nome sagrado Jahbulon. Deus pode ser tratado por este
nome composto, ou através de qualquer das suas partes (supondo que se trata da
derivação correcta), ou através de qualquer dos muitos nomes de Deus ao longo
dos milénios. Afinal de contas, o homem é apenas humano; é útil dispor de um
nome, de um rótulo, de um conjunto de atributos que nos ajude a nomear o
inefável. Mas Deus não se limita a estes rótulos humanos. Esta crença num Deus
Único Supremo também explica como os judeus, os cristãos e os muçulmanos
místicos conseguiram partilhar os seus conhecimentos ao longo dos séculos.
A igreja Ortodoxa sempre teve
mais capacidade para lidar com os aspectos místicos do Cristianismo, mesmo
antes da separação formal de Roma. Bizâncio, ou Constantinopla, era um cadinho
mais flexível de culturas e ideias do que Roma alguma vez seria. São Máximo de
Bizâncio (580-662), por exemplo, ensinou algo que no Ocidente poderia ser visto
como uma heresia profunda: que o objectivo último do crente é ser Deus. Esta
posição une o desejo neoplatónico de comunhão extática com o ser puro e a
crença cristã inicial de que a iniciação completa fez do crente um Cristo. Essas
crenças estão no cerne do Cristianismo esotérico; não surpreende, assim, que a
Igreja, detentora do monopólio da salvação, tenha sempre tentado eliminar tal
afronta à sua autoridade.
Egipto
É relevante notar que a palavra alquimia,
recorrente ao longo deste livro, deriva do árabe al kimiya, que vem,
quase de certeza, do grego chemeia, do antigo nome do delta do Nilo no Egipto,
khem, que significa terra negra: o solo profundamente fértil de onde vem
a vida, o silte escuro do Nilo, no meio do deserto árido. As conotações
alegóricas não serão, de todo, acidentais. Embora a verdadeira alquimia seja a
transformação da alma, não esqueçamos que os primeiros (e os posteriores)
alquimistas também eram químicos. (De igual forma, a distinção entre astrólogos
e astrónomos é relativamente recente). Quem conhecia os efeitos, regra geral espectaculares,
da mistura de quantidades diferentes de vários pós, aquecendo-os a temperaturas
específicas, podia associar os misteres de cientista e de artista; para quem vê
de fora, para as pessoas comuns, ambas são formas de magia.
Já em 2900 a. C., os egípcios
haviam descoberto como refinar ouro, reservado à realeza, pois tratava-se de um
metal precioso difícil de obter. Os sacerdotes que guardavam esse segredo não
eram meros metalúrgicos, sendo, isso sim, para todos os efeitos, os primeiros
químicos. Assim, religião, magia, secretismo, conhecimento científico e a
produção física de ouro estão ligados desde há milénios. A mitologia egípcia é
complexa. Tal como se passa com todas as mitologias, ela evoluiu ao longo dos
séculos. No entanto, e ao contrário do Judaísmo, que se desenvolveu e tornou um
monoteísmo universal, parece que o panteão familiar de Osíris, Ísis, Anúbis,
etc., foi um desenvolvimento posterior, sendo a crença egípcia inicial num
único Deus, o Deus Sol Ré ou Rá.
Numa das primeiras versões do
mito da criação egípcio, o Deus Criador Aton-Ré, que se ergue sozinho do caos
primevo, masturba-se para criar vida. Na religião antiga, o sexo era encarado
como sendo uma força poderosa. Entre os humanos, tal como entre os animais, o
sexo dá origem a vida nova; com os Deuses deveria ser o mesmo. A energia sexual,
e os fluidos sexuais, dão vida, são poderosos, sagrados.
Tal
como Pitágoras viajou pelo Médio Oriente, e possivelmente pelo Extremo Oriente,
na sua busca pelo conhecimento, acabando por instalar a sua escola numa
comunidade grega em Itália, outros filósofos passaram anos em países que não os
seus, a aprender e a estudar, a comparar e a assimilar conhecimentos». In
David V. Barrett, As Grandes Sociedades Secretas, 1997, 2007, Clube do Autor,
2016, ISBN 978-989-724-333-2.
Cortesia
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