quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

O Vaticano contra Cristo. I Millenari. «Uma manhã, durante a celebração da missa do padre Pio, muito cedo, na antiga pequena igreja, os homens, por falta de espaço, apinhavam-se no pequeno presbitério até mais não poder ser…»

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Erros da cúpula da Igreja
«(…) Seja irrepreensível a vossa conduta entre os pagãos, porque quando vos caluniam como malfeitores, ao ver as vossas boas obras, calais a boca à ignorância dos estultos. À distância de trinta anos da morte daquele padre, hoje declarado venerável e a caminho do altar, a que a tese vai agarrar-se aquele superlativo dicastério, durante cinquenta anos adversário daquele homem de Deus, para não aparecer como escândalo e justificar perante o mundo o seu inaceitável comportamento?
O desaforo dos homens que se faziam passar por Igreja infalível é tal que já não lhes é possível compatibilizar a santidade do homem taumaturgo e as condenações que lhe foram impostas e nunca foram retractadas. Agora que será levado às honras dos altares quem por eles foi definido como mistificador e corruptor de costumes e que não cessa de chamar ao seu túmulo milhões de crentes e não crentes de todo o mundo, realizando os mais extraordinários prodígios (actualmente toda a área à volta do convento capucinho de S. João Rotondo é insuficiente para acolher a enorme quantidade de veículos que transportam os sete milhões e meio de peregrinos que aí se dirigem durante o ano. As multidões lamentam-se porque são obrigadas a permanecer durante horas em fila para visitar os passos e os sítios do santo religioso, onde, cinquenta anos atrás, era um caminho de mulas que levava, por entre bosques, àquele escondido convento habitado por poucos capucinhos, esquecidos na eremitagem. Pelos fins dos anos 20 eram ainda muito poucos os que a conseguiam atingir para se confessar e dirigir-se àquele jovem frade estigmatizado, que dormia num casebre hospitaleiro nas imediações. Uma rapariga Cerigrolana decidira passar cinco ou seis meses ao lado do padre Pio para ser orientada espiritualmente por ele. De família abastada, duas das irmãs mais novas tinham entrado como religiosas numa comunidade religiosa da região, hoje muito florescente noutros continentes. A rapariga em causa não se sentia atraída a seguir o mesmo caminho, mas queria permanecer solteira. Tendo recebido a sua quota-parte do património familiar, titubeava perante o projecto de adquirir um quadrado de terreno à venda defronte da pequena igreja do convento dos Capucinhos para construir uma habitação só para si, onde permanecer durante a sua longa estada. Perguntou ao padre Pio, seu director espiritual: padre, vende-se aquela leira de terra logo fora da porta da igreja que, disse, posso comprar ou não para construir uma pequena casa? Sabeis que possuo algum dinheiro para investir... Padre Pio parecia distraído por outros pensamentos e caminhava sem dizer o que pensava. Eh, Padre, que pensa disto? Expliquei-me? Que devo fazer?, Sim, sim! Compre-o, compre-o!, diz ele. A rapariga, embaraçada por ter de o contradizer face àquela opinião, que não tinha presente a situação do lugar solitário, disse: padre, não sei como hei-de dizê-lo: vós estais morre, não morre, quando vós já não estiverdes cá, que farei de uma casita perdida nesta floresta? E padre Pio continuando a caminhar distraidamente, mas com o olhar posto no futuro, talvez fixando os fenómenos que se verificavam naquele lugar, profetiza no dialecto tradicional: Falla, falla... ca dop'é pégj!, compra e constrói porque por causa da afluência, depois da morte será pior que agora. Aquele quadrado de terreno actualmente situa-se sob a praça, em frente à pequena igreja) muitos se hão-de perguntar: que parcela da Igreja continuou a errar neste fim de século? Quem viu bem? A Igreja da base ou a Igreja do vértice? Pode afirmar que possui o carisma de reconhecer todos os carismas divinos essa instituição vaticana que durante cinquenta anos declarou não constar nada acerca da sobrenaturalidade daqueles fenómenos, sistematicamente desatenta aos fiéis da base, que, não obstante tudo, acorriam a ele? Um tal modo de proceder é verticalizar a Igreja e separá-la dos fiéis, também eles impregnados do sensus Dei.
Uma manhã, durante a celebração da missa do padre Pio, muito cedo, na antiga pequena igreja, os homens, por falta de espaço, apinhavam-se no pequeno presbitério até mais não poder ser, empurrando-se involuntariamente uns aos outros. Entre eles estava um jovem diácono que desde há anos ali se dirigia, apesar de os superiores do seminário lhe recordarem as severas proibições da cúria romana. O clérigo respondia que nada havia de mal em ir verificar as maravilhas de Deus provadas num seu servo. Mas eles julgavam o seu comportamento pouco conforme as ordens superiores, porquanto era necessário obedecer a quem sabia, a esse respeito, mais do que ele». In I Millenari, Via col vento in Vaticano, Kaos Edizioni, 1999, O Vaticano contra Cristo, tradução de José A. Neto, Religiões, Casa das Letras, 2005, ISBN 972-46-1170-1.

Cortesia Casa das Letras/JDACT