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As
Lágrimas do Papa
Os
Templários
«(…) Não deveis dizer tal coisa.
Com o tempo, a vida voltará a fazer as suas exigências. Passareis pelo luto e a
paz vos será devolvida. Havia cinco degraus para subir antes de se chegar ao
patamar da entrada. Uma alta porta de carvalho, sólida e maciça, foi aberta
pelo templário com uma chave comprida, a qual tirou de sob a túnica. Uma sala
escura de janelas fechadas. Um odor de mofo. Um cheiro adocicado de madeira
carunchada. Esperem por mim aqui, disse o rei aos dois cavaleiros. Filipe
desapareceu na escuridão, ao lado do templário que lhe deu a mão para conduzi-lo.
Sire, disse o templário, já que está
na hora e que temos a idade, vamos abrir os nossos trabalhos. Eu o
acompanho, Renaud.
A escuridão era um dos elementos
do ritual; Filipe compreendera isso desde a primeira vez, na sua iniciação.
Portanto, confiou no templário que, de mãos dadas com ele, o ajudou afectuosamente
a andar em passos lentos. O rei já havia estado ali por quatro vezes.
Lembrava-se da distância a ser percorrida para se chegar a uma porta que o templário
se limitou a empurrar para abrir. E também da escada em caracol que devia descer
com cuidado. E do subsolo lamacento... E de mais uma porta na qual o rei
precisou bater três vezes para que, atrás dela, uma voz perguntasse: quem bate
à entrada do Templo? E o cavaleiro respondeu: é o rei Filipe sob a minha guarda
e apadrinhamento, que espera ser recebido por seus irmãos da Loja Primeira. A
voz ordenou: que ele entre!
A porta foi aberta. Filipe e o
cavaleiro entraram numa cripta onde estava reunida uma assembleia de dez templários
em túnicas brancas. Todos mantinham o capuz na cabeça. Três colunas suportavam
a curva da abóbada feita de pedras volumosas. No piso de grandes lajotas havia
sido desenhado um tabuleiro de quadrados pretos e brancos. Três candelabros
iluminavam o local com as suas chamas curtas que um fraco filete de ar, às
vezes, inclinava. Assim que o rei entrou, os templários deram as mãos formando
uma corrente, à qual Filipe e o cavaleiro Renaud imediatamente se integraram.
Bem-vindo à nossa corrente,
Filipe!, disse um templário. Amanhã, em Saint-Denis, o vigário vos entregará o
estandarte com a cruz de ouro. Pelo Santo Cravo e pelo Santo Espinho, sereis
cruzado. E me tornarei soldado da Igreja para ir a Jerusalém, completou Filipe.
Deixai Jerusalém para Ricardo e Barba-Roxa. Não deveis ir tão longe, lançai
outro templário na corrente. Filipe reagiu: deixá-los libertar sozinhos o Santo
Sepulcro? Onde estaria a honra da minha cruzada? Com voz doce, fraseado lento e
sereno, um templário ergueu a voz: já é tempo de vos instruirmos sobre um
grande segredo, Sire. Um segredo que até o papa Clemente deve ignorar. Ainda
nos concedeis a graça de acreditar em nós? Sempre consenti em escutá-los. A
prudência e a inteligência dos seus conselhos me pouparam muitos infortúnios,
admitiu o rei.
Trata-se de um Evangelho escrito
em três rolos de pergaminho. A peça central do mistério de que vos falamos na
reunião anterior, explicou a voz suave. Um quinto Evangelho? Nenhum texto faz
menção a ele. Não se trata de uma heresia que estão considerando como palavra
verdadeira?, estranhou o monarca. Não, Sire, precisou a voz tranquila. Ele
existe, de facto. Ao menos, uma cópia feita pela mão de quem o redigiu. Então,
Renaud tomou a palavra: os rolos estão em São João de Acre. Num subterrâneo,
sob uma construção denominada a Torre maldita. O autor desse quinto Evangelho depositou
o seu tesouro no fundo de uma gruta antes de pôr-se ao mar... Eu vos
acompanharei à Terra Santa e vos guiarei». In Didier
Convard, O Triângulo Secreto, As Lágrimas do Papa, Editora Bertrand Brasil,
2012, ISBN 978-852-861-550-0.
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