quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

O Vaticano contra Cristo. I Millenari. «… quando Orione chegava a qualquer lugar, a multidão era tal que as forças da polícia só a custo conseguiam manter a ordem pública; por isso foi convidado a notificá-las muitos dias antes…»

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Erros da cúpula da Igreja
«(…) Beijar a mão estigmatizada do padre Pio incrustada de escaras, não era uma empresa fácil. Sempre protegidas por mitenes, apenas as descalçava na sacristia antes de ir celebrar e calçava-as logo que colocava o cálice na mesa, no fim. Estas eram as ordens e a sua obediência era impecável. A epiqueia dos superiores apenas excepcionava o felizardo, que se colocava ao seu lado mal ele depositava o cálice. O jovem diácono, talvez despreocupado de viver um momento litúrgico muito intenso, planeou consigo mesmo comungar antes da missa das mãos do Padre e, depois, ir dar acção de graças na sacristia, colocando-se no lugar exacto em que o Padre devia depor o cálice para se desparamentar; dessa forma conseguiria o privilégio de beijar-lhe a mão chagada e sem luva. Dito e feito; mas a partir daí é que foi o bom e o bonito.
Pobre jovem diácono! Mal terminou a missa, quantos estavam dentro da igreja invadiram a sacristia, como numa maré, com empurrões e safanões que faziam abanar os pedestais dos santos. Por mais que tentasse resistir à multidão, o diácono viu-se atirado à distância de um metro e meio do Padre e assediado à volta por quantos desejavam beijar-lhe a mão. Desiludido do seu propósito, que tinha corrido mal, pensou logo tentar de novo e melhor na manhã seguinte. Quando padre Pio, repreendendo todos os outros, levantou a mão direita acima das cabeças, fê-la girar em semicírculo e chegando sobre o diácono baixou-a e deu-lha a beijar: Fá' subbte sbrigat, anda depressa, despacha-te; enquanto dizia aos outros, em voz alta: Basta, agora; basta!
Era sabido de todos que o Senhor dava ao padre Pio o carisma de perscrutar os corações, isto é, de ler no coração e na mente de quem se lhe apresentava, de forma a desvendar os pensamentos e os pecados de quantos a ele recorriam ou de ausentes aos quais mandava informar. Naquela manhã, quis satisfazer deste modo a boa intenção espiritual daquele diácono, depois sacerdote, que ainda hoje o relata comovido até às lágrimas.

Luigi Orione, fundador da Piccola Opera della Divina Providenza, agora canonizado, sem nunca ter conhecido pessoalmente o padre Pio mas conhecendo-o profundamente em espírito e através do fenómeno da bilocação, desenvolveu, nos anos 20, uma activa defesa a favor do padre Pio, em Roma, junto do dicastério do Santo Oficio (maldito). O juízo deste santo fundador era tido em grande consideração por muitos eclesiásticos em virtude da sua vida santa, das suas obras de caridade e dos factos extraordinários que operava. Para ele o Padre Pio era um verdadeiro santo, dissessem o que dissessem os outros, incluindo os da cúria. Já perto do fim da vida, também Luigi Orione teve de beber o cálice amargo da calúnia por causa de algumas fraquezas apregoadas em relação ao outro sexo; exactarnente como o Padre Pio.
Refira-se, antes de mais, que, quando Orione chegava a qualquer lugar, a multidão era tal que as forças da polícia só a custo conseguiam manter a ordem pública; por isso foi convidado a notificá-las muitos dias antes das suas deslocações. Todavia chegavam circunstanciadas notícias escritas a seu respeito em que o acusavam de manter relações carnais com diversas mulheres; como não se lhes dava crédito, os fautores decidiram passar à demonstração dos factos; era necessário apresentar a prova provada. No limite das forças, Orione começava a sentir consequências físicas desagradáveis. Persuadiram-no a deixar-se consultar e o veredicto foi surpreendente: doença venérea, a sífilis. Com aquela doença, teria de manter-se longe das pessoas. Confiaram-no a uma casa de irmãs em Sanremo, onde passou os últimos anos de vida sob estreita vigilância. Aí morreu sem explicar como lhe tinha sido transmitida a sífilis, consciente que estava de nunca ter tido relações com ninguém.
Se bem que todos continuassem a considerá-lo santo depois da morte, as ordens foram draconianas dissuadindo quem pudesse testemunhar no processo canónico acerca da veracidade das virtudes de Orione; a doença que contraíra desaconselhava-o. Todos se calaram. Quando já ninguém falava dele, um barbeiro-cirurgião de Messina, em perigo de vida, pediu a presença de um padre e de duas testemunhas para restabelecer a verdade, abafada pela calúnia: quando era barbeiro no colégio dos padres de Orione, em Messina, apercebera-se de que muitas vezes tinha feito a barba e cortado o cabelo ao fundador Orione, a seguir ao terramoto de 1908. Instigado e corrompido por um eclesiástico da congregação, aceitou ferir, como que por acaso, a sua nuca e, fingindo desinfectá-la, aplicou-lhe o conteúdo do frasco que recebera, que, só depois, soube tratar-se de vurmo sifilítico». In I Millenari, Via col vento in Vaticano, Kaos Edizioni, 1999, O Vaticano contra Cristo, tradução de José A. Neto, Religiões, Casa das Letras, 2005, ISBN 972-46-1170-1.

Cortesia Casa das Letras/JDACT