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Em 1744 surge-nos
uma disposição camarária autorizando Henrique de Lemos Távora a abrir uma porta
no muro da cidade, no quintal de suas casas, obrigando-se a tapá-la em caso de
quebras ou prejuízo público (loguo na mesma Camera apareseu Henrique de Lemos Tavora
desta cidade e por elle foi dito que este Senado lhe avia consedido lisensa
para abrir huma porta no muro da cidade no quintal das suas casas aonde (?) com
a obriguasoi de a tapar avendo quebras que se perjuize o tapar se por cuja
cauza pello prezente termo assim se obriguava de que fis este termos). A
muralha foi-se degradando, não tendo qualquer papel defensivo a desempenhar e
não se lhe reconhecendo ainda o seu papel de documento histórico. Em 1814 a
Câmara decidiu em reunião avaliar sobre a pertinência de demolir vários arcos
da muralha que ameaçavam ruína, chamando para esse fim dois pedreiros, que depois
de os analisarem defenderam a manutenção dos dois que ainda existem e o
desmantelamento dos restantes (nesta tendo em vista que os três Arcos
construídos a saber o de S. José, Santa Cristina e S. Miguel além de ameaçarem
uma grande ruína a sua demolição é da maior utilidade para a perspectiva das
ruas sua largueza e melhor comodidade, para efeito de se demolirem mandamos que
o Escrivão da Câmara que então servia, em três dias peremptórios prontifique a
provisão que consta viera sobre este objecto, de baixo de pena de procedimento,
e como pode acontecer que no entanto que ela se não prontifique aconteça alguma
ruína que nós devemos evitar e prevenir, mandamos outro sim que o Alcaide
notifique dois dos três pedreiros para que examinando os três Arcos declarem
por termo em como nenhuma utilidade causa a sua conservação, e se podem demolir
sem causar prejuízo algum particular prejudicando lhe as paredes das casas ou
outro algum deterioramento e finalmente se a sua demolição é mais cómoda para a
continua passage de carros, gente, seges etc., cuja declaração será feita na
presença do mesmo Escrivão e apresentada a esta Câmara com Provisão que diz
haver, no dia 3ª feira 13 do corrente em Vereação a que se há de proceder e que
eu Escrivão passasse as Ordens necessárias e avisasse o meu antecessor.
Declaram mais que a declaração dos Mestres será feita na Vereação do dito dia
para o que o Alcaide os avise […] Acta do dia 13; na mesma apareceu António
Francisco encarregado de examinar os três Arcos de S. José, Santa Cristina e S.
Miguel e declarou que os de S. José e Santa Cristina se acham ameaçando ruína e
que todos três se podem demolir sem que resulte o mais leve prejuízo aos
proprietários confrontantes antes utilidade ficando as ruas mais espeditas e
desembaraçadas o que não sucede no Arco dos Albuquerques e no Arco dos Remédios
que além da sua segurança antes aformoseiam a cidade e assinou a dita
declaração com Teotónio Francisco desta cidade também pedreiro. E logo foi
acordado que como há duvida sobre a provisão que se diz viera sobre este
respeito e seja indispensável Licença Régia para a abolição em consequência se
passava a fazer a dita representação na Câmara imediata, devendo primeiro ser
notificado o outro louvado para assinar ou confirmara a declaração supra). A
Porta do Soar e a dos Cavaleiros por terem serventia para as casas anexas, e
por os seus habitantes procederem eventualmente à sua manutenção, estariam em
melhor estado de conservação que as restantes, ou então não quiseram os mestres
pedreiros e a Câmara entrar em litígio com os seus nobres moradores.
As três
portas condenadas à demolição devem de facto ter sido destruídas em sequência
dessa iniciativa, porque em 1857 Berardo afirma que já só restavam três portas
das seis que, segundo ele, a cidade tinha possuído. Deduzimos assim que no
início do século XIX uma das portas já teria ruído e, pelas referências
tratar-se-ia ou da Porta de São Sebastião ou da Porta da Senhora das Angústias.
Pela planta de 1864 a Porta da Senhora das Angústias ainda devia existir uma
vez que o pano da muralha em que se inseria é o que em melhor estado se
conservou e a sua abertura vem representada na dita planta. Por outro lado
também é possível que a Porta de São Sebastião que dava para o Largo das
Freiras ainda existisse, mas sendo destruída a muralha anexa o autor julgasse
tratar-se de uma porta pertencente ao Convento. No local da Porta da Senhora
das Angústias, na intersecção da rua Silva Gaio com a Rua da Cal, ainda hoje
são visíveis vestígios do Arco e escadas para o passeio de ronda e acompanhando
a rua Silva Gaio, alguns troços de muralha conservados sobretudo pela
incorporação em habitações particulares. Apesar das expansões urbanísticas do
século XVIII terem visto nascer novos bairros e um alargamento da urbe para os
arrabaldes, simbolicamente é ainda dentro das muralhas que acontece a cidade». In
Liliana Castilho, A cidade de Viseu nos
Séculos XVII e XVIII, Arquitectura e Urbanismo, Tese de Doutoramento em
História da Arte apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto,
Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2012.
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