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de wikipedia e jdact
«(…) O governador Emheb saberá
manter a frente. Eu quero partilhar a morte do meu marido. Majestade, não me
atrevo a compreender... Devo penetrar na Morada da Acácia e ninguém me impedirá
de o fazer. Já eram apenas três. Três velhas sacerdotisas que formavam a
comunidade das reclusas da Morada da Acácia, votada a um desaparecimento certo
se a Rainha Ah-hotep não lhes tivesse assegurado casa e comida para que elas
transmitissem o seu saber. Ah-hotep sentou-se com elas junto de uma acácia de temíveis espinhos. A
vida e a morte estão nela revelou a Superiora. É Osíris que lhe dá a sua
verdura, e é no interior da colina de Osíris que o sarcófago se transforma numa
barca capaz de vogar no universo. Se a acácia
morrer, a vida abandona os vivos até que o pai ressuscite no filho.
Isís cria um novo Faraó, cura os ferimentos infligidos por Set e a acácia cobre-se de folhas. A
profecia era clara: Kamés tornar-se-ia Rei. Mas Ah-hotep exigia mais. Possa o
meu espírito permanecer eternamente ligado ao de Seken para além da morte. Visto
que a morte nasceu respondeu a Superiora morrerá. Mas o que era antes da
criação não é afectado pela morte. Nos paraísos celestes, não existe medo nem
violência. Justos e antepassados comunicam com os deuses.
Como posso entrar em contacto com
Seken? Faz chegar até ele uma mensagem de acordo com o teu coração. E se ele
não me responder? Que o deus do destino vele pela Rainha do Egipto. Era o único
objecto de grande valor que Ah-hotep possuía: um porta-pincéis de madeira dourada,
incrustado de pedras semipreciosas. Tinha a forma de uma coluna e nele estava
inscrito: a Rainha é amada por Tot, o senhor das palavras divinas. Num papiro
novo, Ah-hotep escreveu em belos hieróglifos uma carta de amor ao seu defunto
marido, suplicando-lhe que afastasse os maus espíritos e agisse em favor da libertação
do Egipto. Implorava que lhe respondesse a fim de lhe provar que estava realmente
ressuscitado. Ah-hotep prendeu a missiva a um ramo da acácia. Depois, com argila, modelou uma estatueta de
Osíris estendido no seu leito de morte que depositou ao pé da árvore. Por fim, cantou
acompanhando-se com a harpa portátil a fim de que as ressonâncias garantissem à
alma de Seken uma viagem harmoniosa no Além. Mas responder-lhe-ia o homem que
ela amava?
Embora o almirante Jannas
estivesse sempre ocupado com os piratas nas Cíclades e a revolta dos tebanos
ainda não controlada, a entrega dos tributos realizava-se em Auaris, de acordo
com o cerimonial habitual. Apopis apreciava aquele momento em que os
embaixadores, vindos de todas as províncias do Império, se inclinavam
profundamente diante dele e lhe ofereciam uma impressionante quantidade de
riquezas. Ao contrário dos antigos Faraós, guardava para si a maior parte em
vez de a colocar de novo no circuito comercial. Braço direito implacável do
Imperador, Khamudi não se esquecia de se servir largamente, com a bênção do seu
senhor, cuja segurança garantia. Cabelos muito negros colados ao crânio
redondo, olhos ligeiramente rasgados, mãos e pés gorduchos, ossatura pesada,
Khamudi engordava cada vez mais desde que fora nomeado grande tesoureiro.
Aquele que os seus escravos chamavam Agarra-tudo
ou Sua Suficiência recebia uma percentagem de todas as
operações comerciais importantes, depois de ter tomado o controlo sobre a
exploração dos papiros no Delta.
A sua única distracção consistia
em entregar-se às piores perversidade sexuais com o contributo de Yima, a sua
loira e exuberante esposa, de origem cananeia. Também aí, Apopis, que pretendia
no entanto ser austero e moralista, fechava os olhos. E fechá-los-ia durante
todo o tempo em que Khamudi se mantivesse no seu lugar, o de segundo. Como
todos os anos, os armazéns de Auaris enchiam-se de ouro, pedras preciosas,
bronze, cobre, diversas essências de madeira, tecidos, jarros de óleo e de
vinho, unguentos e muitas outras riquezas que asseguravam à capital do Império
a sua inegável prosperidade. Quando o embaixador de Creta, envergando uma
túnica decorada com losangos vermelhos, avançou para o Imperador, Khamudi tocou
no punho da sua adaga e fez um sinal aos seus archeiros. Ao mínimo gesto
suspeito do diplomata, tinham ordem para o abater». In Christian Jacq, A Rainha
Liberdade, A Guerra das Coroas, ISBN 978-852-861-216-5, Bertrand Editora, 2006,
ISBN 978-972-251-281-7.
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