segunda-feira, 15 de julho de 2019

Filosofia e Espiritualidade, Educação e Pedagogia. Agostinho da Silva. Luís Carlos R. Santos. «… e as estrelas tais e tantas terei decerto cumprido meu destino e com que sorte para gozar de uma vida já ressurecta da morte»

Cortesia de wikipedia e jdact

Com a devida vénia a Luís Carlos R. Santos

«Se eu chegasse a ser dum Outro
mas de mim não me perdendo
e esse Outro todos os outros
que comigo estão vivendo
não só homens mas também
os animais e as plantas
e os minerais ou os ares
e as estrelas tais e tantas
terei decerto cumprido
meu destino e com que sorte
para gozar de uma vida
já ressurecta da morte».
In Agostinho da Silva, 1990

As Primeiras Obras (1906-1944)
«George Agostinho Baptista da Silva, filho de Francisco José Agostinho da Silva e Georgina do Carmo Baptista da Silva, nasceu na cidade do Porto a 13 de Fevereiro de 1906. Mas logo, pouco tempo depois, com seis meses de idade, por destacamento profissional de seu pai foi viver para Barca D’Alva, lugar fronteiriço do concelho de Figueira de Castelo Rodrigo, distrito da Guarda. Aqui passou parte da sua infância, até aos seis anos de idade, altura em que regressaria ao Porto. Em 1986, com oitenta anos de idade, Agostinho da Silva produziu um manuscrito com o título de Caderno de Lembranças, onde nos lega uma descrição sobre os seus primeiros tempos de vida. Curioso é que o início desta sua narrativa recua ao ano de 1905, altura em que o autor começa a dar conta de que irá nascer. E é tão interessante a descrição que não deixamos de a transcrever em parte, neste arranque de elaboração da nossa tese: lá por 1905, mas nada há mais difícil do que relacionar tempo e eternidade, ou fixar-se simultâneo nos dois planos, os grandes pintores o fazem no olhar de suas figuras, mas, enfim, por essa altura, comecei a tomar atenção no belo globo que rolava diante de nós, e a tentar descobrir lugar aonde me agradasse descer para principiar minha vida. A meu lado, outros faziam o mesmo, e até discutíamos os méritos de um e outro ponto, mas sem voz, tanto quanto me lembro, porque o nascer tira muito a memória (…) Quando, voluntária ou involuntariamente, quem o sabe, gostei de, a cada volta do globo, ver surgir de novo nossa península ibérica, deu-se, fenómeno curioso, o mesmo que, maquinado pelos homens, se veio a chamar zoom: À outra volta, a península estava maior, só havia uma nesga de mar, de um lado e outro, e uma cadeia de montanhas, bem em relevo, a limitando para o norte; ou eu a estou a ver agora assim, porque, donde eu a contemplava, não havia nada que fosse acima ou abaixo: simplesmente era. Na outra volta, a metade que posso dizer agora de meu lado direito desaparecera, como desaparecera toda a faixa do sul. Fixava-me, de facto, no que aprendi a chamar Portugal (…).
Ao olharmos atentamente para o percurso biográfico de Agostinho da Silva verificamos que ele compreende três grandes períodos distintos. Um primeiro, que situamos entre 1906-1944, balizado entre o seu nascimento e o ano de partida para o auto exílio no Brasil; um segundo, entre 1944-1969, que abrangerá todo o período de vida que passa, sobretudo, em território brasileiro; e o terceiro, 1969-1994, que se inicia com o regresso a Portugal e se estende até à data do seu falecimento.
Estes três grandes períodos constituirão para nós o grande eixo de referência para análise do seu pensamento filosófico e educacional, temas estruturantes de toda a sua obra. Correspondendo a fases muito distintas na vida de Agostinho da Silva, com inevitáveis importantes reflexos na sua obra, aproveitaremos esta divisão para mais claramente darmos conta da forma como foram evoluindo as suas ideias. Depois de sólida formação no ensino secundário, Agostinho da Silva ingressou na Faculdade de Letras do Porto, onde se licenciou em Filologia Clássica, em 1928, com uma tese sobre a poesia de Catulo. Logo de seguida fez o Curso de Doutoramento, em 1929, num curto espaço de tempo, dado o anúncio de encerramento da Faculdade por parte do Governo. Hernâni Cidade, Leonardo Coimbra e Teixeira Rego são os professores que lhe deixaram maiores referências.
O título da tese de doutoramento foi O Sentido Histórico das Civilizações Clássicas, onde desenvolveu algumas ideias críticas a Oswald Spengler que pretendia provar que a civilização grego latina viveu sempre sem o sentido histórico, sem preocupação do passado e do futuro(…), tese com que o nosso autor não concordou. Agostinho da Silva, nesta sua tese, centra a atenção sobre um conjunto de acontecimentos históricos que ocorreram na Grécia Antiga, nomeadamente, sobre as diferentes formas de organização política que caracterizavam as cidades-estado de Atenas e de Esparta, e nos elogios de escritores como Eurípedes e Tucídides às boas qualidades dos atenienses, ou de Platão e Xenofonte que não se pouparam em bons predicados ao sentido de dever e sobriedade dos espartanos». In Luís Carlos R. Santos, Filosofia e Espiritualidade, Educação e Pedagogia, Agostinho da Silva, U de Lisboa, F de Letras, D de Filosofia, Tese de Doutoramento, 2014, Wikipedia.

Cortesia de ULisboa/FLetras/DFilosofia/JDACT