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de wikipedia e jdact
«O
Mito é o nada que é tudo». In Fernando Pessoa
História concisa do mito de Portugal
«(…) Os
mitos históricos são uma forma de consciência fantasmagórica com que um povo
define a sua posição e a sua vontade na história do mundo». In António
José Saraiva
«O que aqui governa no mito são
os arquétipos do inconsciente colectivo e estes só desaparecem quando a
comunidade que neles se revê fatalmente morre, e funestamente a acompanha o
mito. A reintegração do mito de Portugal nas diferentes fases da história do País
responde à singularidade das vivências dos Portugueses, obedece à matriz da sua
identidade, propõe-se à aceitação e ao antagonismo, reluz ou obscurece-se no
curso das mudanças profundas da realidade nacional e nos múltiplos aspectos das
opções e caminhos desta. Morrem as gerações, morrem os impérios. Só o mito não
morre. Da mais antiga à história mais recente, são seis os principais marcos
cronológicos do surgimento, formação e consolidação do mito de Portugal: 1139--1140
(batalha de Ourique e fundação da nacionalidade), 1415-1697 (da tomada de
Ceuta, que inicia a Expansão, à Restauração e à morte do padre António Vieira),
1870 (Geração de 70 e ideia de decadência), 1910 (Primeira República),
1933-1974 (Estado Novo) e 1974 (25 de Abril).
O ciclo que se projecta de
Ourique à Restauração coincide com a idade de ouro do mito. Foi este o período
do mais fundo labor dos intelectuais na estruturação do nosso imaginário
mítico, que, depois de 1578, definitivamente trouxe o sebastianismo ao seu veio
principal, confundindo o mito de el-rei Sebastião com o próprio mito de
Portugal, deste tornado, entretanto, indelével, pese o facto de não ser
sebástica a sua génese, muito anterior que é ao desastre de Alcácer-Quibir
(1578) e à perda da independência de Portugal. O problema comum que está na
génese do mito do império, que respeita a um dos substratos mais antigos do
mito de Portugal e subsiste inteiro no período do jugo filipino (1581-1640), é
o da independência. O relato do milagre de que foi protagonista Afonso
Henriques em Ourique, que encontramos pela primeira vez na Crónica de Portugal de 1419, visa
explicitamente, com o maravilhoso cristão que constitui o seu fundo de lenda, o
tratamento heróico e épico de Afonso Henriques, remontando o seu poder de
príncipe e o reconhecimento da sua soberania, em face dos soberanos peninsulares,
incluindo os mouros, a uma linhagem que descende directamente de Deus,
substancialmente alheia ao tempo histórico pela prova do milagre, que confirma
providencialmente a sua figura de entre os seus pares e conforma a aceitação
que estes dele fazem como rei.
O futuro, na passagem do século
XVI para os finais do século seguinte, encarregar-se-ia de apurar e desenvolver
este providencialismo da consagração régia de Afonso Henriques, de uma forma
muito mais explícita, ordenada para a ideia do primeiro rei como fundador de um
reino sem par na história dos reinos conhecidos, de um império que no milagre
de Ourique fora prometido, emerso da gesta quinhentista dos Descobrimentos por
engenho da Dinastia de Avis e anunciado ao orbe para a dilatação da Fé em
Cristo.
A visão imperial do mito de Portugal
tem raízes no ainda incipiente providencialismo do milagre de Ourique, e se
desabrocha com o saber dos nossos humanistas, incluindo Camões (1525-1579 ou
1580), que é certamente, com os Lusíadas
(1572), o maior construtor da arquitectura mitogénica e poética da nossa
nacionalidade, só veio efectivamente a alcançar a compleição messiânica e
profética, que principalmente a define, depois de desaparecido o monarca Sebastião,
a partir da crise sucessória de 1580, quando, na luta contra o domínio filipino,
se pôs a história ao serviço da causa da independência e da ideologia, como
acontece em Fernão Oliveira (1507-c. 1581) e a sua História de Portugal (1580) 5 e, posteriormente, na
historiografia alcobacence com frei Bernardo Brito (1569-1617) e frei António
Brandão (1584-1637), autores da Monarquia
Lusitana: o primeiro, das duas primeiras partes (1597 e 1609) e o
segundo, da terceira e quarta partes (1632).
Se o mito de Portugal muito deve
à historiografia que, entre 1580 e 1632, procurou subtraí-lo ao universo da
fantasia e da lenda para vesti-lo com as roupagens mais concretas dos factos da
história, ainda que pelo expediente das construções ideográficas, como a de
Fernão Oliveira, ou da falsificação documental, como acontece com o célebre
Juramento de Afonso Henriques, supostamente encontrado nos arquivos de Alcobaça
para garantia da dimensão messiânica e imperial de Portugal, seria no passo seguinte,
em primeiro lugar com João de Castro (??- c. 1623), o editor das trovas do Bandarra,
cuja primeira edição, surgida em Paris com o título Paráfrase e Concordância de algumas Profecias de Bandarra, Sapateiro de
Trancoso, é de 1603, e em segundo lugar com o padre António Vieira
(1608-1697), que o mito definitivamente evolveria para o sebastianismo,
casando-se a promessa do Rei Encoberto com a missão providencial dos
Portugueses e seu Império». In Manuel Cândido Pimentel, O Mito de
Portugal nas suas Raízes Culturais, Wikipedia.
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