Cortesia
de wikipedia e jdact
Com
a devida vénia a Vanda Lisa Lourenço Menino
«A
infanta dona Beatriz, filha do rei de Castela Sancho IV e da rainha dona Maria de
Molina, tornou-se rainha de Portugal ao contrair matrimónio, no ano de 1309,
com Afonso IV. Foi para servir os interesses político-diplomáticos dos dois
reinos que este consórcio foi estabelecido nos acordos do Tratado de Alcanises
(1297), contrariando a doutrina eclesiástica que condenava como incestuosos os
matrimónios entre consanguíneos e afins. No caso em apreço, os futuros monarcas
portugueses estavam incluídos neste interdito eclesiástico, embora tenham
recebido a necessária dispensa papal. Dos três papéis desempenhados por dona
Beatriz, mãe, mulher e rainha, pretendemos demonstrar que a consorte tinha um
protagonismo diferente daquele que é conferido ao monarca, mas não o podemos
considerar de menor relevância. Da investigação efectuada às fontes coevas
ressalta, numa primeira observação, que a rainha senhoreava em algumas terras.
Destas recebia proventos com os quais mantinha os seus vassalos e servidores
que com ela compartilhavam a vivência diária no âmbito da sua Casa. Dos muitos
conflitos que marcaram o reinado do Bravo consideramos que aquele que mereceu uma
maior atenção por parte da rainha foi o que opôs o monarca ao infante Pedro,
seu filho e futuro rei português. Nesta oposição aberta entre pai e filho, a
rainha, não esquecendo o seu papel de mulher, não se opôs, abertamente, a seu
marido. Porém, a documentação deixa-nos entrever a sua preocupação enquanto
mãe, revelando um jogo de bastidores que a rainha manteve com o objectivo de
alcançar a paz não só para o reino, mas também para a sua parentela. A morte
era uma realidade tão constante e presente no quotidiano da sociedade medieva
que era aceite como inerente à própria natureza humana. No entanto, esta familiaridade
não diminuiu o medo sentido face à morte. Porque ela é certa, mas incerta a sua
hora, era necessário preparar o saimento deste Mundo. Foi neste contexto
que a rainha de Beatriz mandou redigir três testamentos e um codicilo nos quais
após a entrega da alma a Deus e depois de cuidar do seu corpo, deixou expresso
como deveriam ser distribuídos os seus bens móveis. É compreensível que a
rainha quisesse contemplar, de forma privilegiada, os da sua linhagem,
procurando, assim, evitar a fragmentação irremediável dos seus bens. Com as
informações obtidas no seu testamento conseguimos imaginar a soberana durante a
sua vivência diária a circular pelos diferentes espaços de uma forma que se
traduzia na ostentação da sua riqueza, como o impunha a sua condição social. Os
objectos que adornaram o seu corpo e a fizeram resplandecer com o seu brilho e
fascínio eram, por um lado, parte da memória da linhagem e, por outro, parte da
sua própria existência. A união deste casal permaneceu após a morte, ao
escolherem o mesmo local de sepultura, a Sé Catedral de Lisboa,
demonstrando, deste modo, a união necessária para enfrentar o desconhecido».
As representações da rainha na
historiografia portuguesa
«Não
há estudos especializados sobre dona Beatriz, no entanto existem trabalhos onde
os respectivos autores foram deixando uma contribuição, ainda que sumária e,
por vezes, imprecisa, acerca da vida da rainha. No decorrer deste estudo deparámo-nos
com uma dificuldade: não encontrámos nenhum texto ou memória que relatassem
aprofundadamente a vida da rainha Beatriz. Nas diferentes obras que compulsámos,
as notícias sobre a rainha são claramente fragmentárias, não tendo a soberana,
ao longo dos tempos, inspirado qualquer labor biográfico, ainda que breve. No
entanto, as efémeras evocações revelaram-se importantes porque nos legaram a reconstrução
e a representação de uma imagem que se pretendeu perpetuar. Apesar de esparsas,
estas notícias, que referenciam a vida e as actividades de dona Beatriz, encontram-se,
principalmente, nas crónicas, constituindo a base da actual imagem sobre a
rainha. Dona Beatriz, rainha consorte de Portugal, mulher de Afonso IV e mãe de
Pedro I, terá nascido em Toro, no ano de 1293, pertencendo à família real
castelhana; era filha do rei Sancho IV, o Bravo, e de sua mulher, a rainha dona Maria de Molina, e neta de
Afonso X, o Sábio, rei de
Castela, e irmã do rei Fernando IV de Castela.
Ao longo da história portuguesa
as diversas consortes régias não possuíram a mesma visibilidade. Efectivamente,
Beatriz não é a rainha mais conhecida da História de Portugal. Entre uma Rainha
Santa, a dona Isabel do Milagre das Rosas, e uma aia que depois de morta se
tornou rainha, dona Inês de Castro, a figura de dona Beatriz surge, ao olhar de
muitos, como uma desconhecida. Outros, ainda, guardam dela a imagem de uma
mulher que pouca influência teve na vida política e no governo do país. Muitos
autores reconhecem a esta soberana apenas dois actos importantes durante a sua
vida. O primeiro, o encontro que teve em Badajoz com o rei Afonso XI de
Castela, seu sobrinho e genro, com o objectivo de pôr termo à guerra que
existia entre aquele rei e Afonso IV, todavia, este encontro não obteve o
desejado sucesso. O segundo acto está relacionado com a intervenção da rainha
para acalmar a revolta de seu filho, Pedro, contra Afonso IV, no seguimento do
assassinato de dona Inês de Castro. O monarca, rodeado pelos seus conselheiros
que temiam a crescente influência da nobreza castelhana junto do futuro rei Pedro,
mandou assassinar a formosa Castro. A rainha teve neste trágico momento uma
acção decisiva para o restabelecimento da paz entre o marido e o filho, ao
conseguir que as partes em conflito alcançassem um acordo em 1355. Nas suas
régias mãos foram colocadas a cruz e o Evangelho sobre os quais Pedro jurou
fidelidade ao rei seu pai». In Vanda Lisa L. Menino, A Rainha D. Beatriz
e a sua Casa (1293-1359), Tese de Doutoramento em História, Universidade Nova
de Lisboa, FCSHumanas, 2012, Wikipedia.
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