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de wikipedia e jdact
O
Mediterrâneo e as suas Civilizações
«Estudaremos as civilizações do
Mediterrâneo: a civilização grega, a civilização romana e a bizantina. Elas
sucederam-se umas após as outras e os seus elos foram propiciados pelas águas
do Mar Mediterrâneo. O Mediterrâneo não é apenas o berço dessas civilizações, ele
é o meio de contacto e de influência das grandes civilizações do Médio Oriente:
do Egipto, da Anatólia e, um pouco mais a leste, da Mesopotâmia. Mais tarde o
Império Romano sofrerá o impacto do Cristianismo e este, mais tarde ainda, o
impacto do Islamismo. O que é o Mediterrâneo, pergunta-se Braudel, o
historiador contemporâneo que, provavelmente, mais o estudou e mais o conheceu.
Ele mesmo responde:
Mil coisas ao mesmo tempo. Não
uma paisagem, mas inúmeras paisagens. Não um mar, mas uma sucessão de mares. Não
uma civilização, mas civilizações sobrepostas umas às outras. Viajar pelo
Mediterrâneo é encontrar o mundo romano no Líbano, a pré-história na Sardenha,
as cidades gregas na Sicília, a presença árabe na Espanha, o islão turco na Jugoslávia.
É mergulhar nas profundezas dos séculos até às construções megalíticas de Malta
ou até as pirâmides do Egipto. É encontrar coisas muito velhas ainda vivas,
ladeando o ultramoderno; ao lado de Veneza, falsamente móvel, a pesada
aglomeração industrial de Mestre. Ao lado do barco do pescador, que é ainda o
mesmo de Ulisses, a traineira devastadora do fundo do mar, ou os enormes
petroleiros. É ao mesmo tempo emergir no arcaísmo dos mundos insulares e
surpreender-se diante da extrema juventude de cidades muito antigas, abertas a
todos os ventos da cultura e do lucro, e que, há séculos, vigiam e comem o mar
(1988).
O Mediterrâneo são muitos mares.
A oeste, lá está o Mar de Alboran; no centro, o Mar da Ligúria, o Mar Tirreno e
o Adriático; a leste, o Jónico, o Egeu, o Mar de Mármara ou Propontida e o Mar
Negro ou Ponto. O Mar de Alboran é a parte mais ocidental do Mar Mediterrâneo.
Limita-se ao norte com a costa espanhola, ao sul com o litoral do Marrocos, a
oeste com o estreito de Gibraltar, conexão do Atlântico com o Mediterrâneo.
Estende-se a leste até ao cabo da Gata. É a ilha de Alboran que dá nome a esta
porção do Mediterrâneo. A importância histórica da Ligúria, do Golfo de Génova
e dos acessos e caminhos do continente à península italiana, deu a essa pequena
porção do Mediterrâneo o nome de Mar Lígure ou da Ligúria. Logo abaixo, ao sul,
no espaço interno delimitado pelo litoral da Itália e as ilhas da Córsega,
Sardenha e Sicília, está o Mar Tirreno. É por ele que se tem acesso ao porto de
Óstia que, por sua vez, dá acesso a Roma. Entre a península italiana e
balcânica está o Mar Adriático, ponto de contacto entre a civilização grega,
que se estende mais ao sul ao Mar Jónico que, por sua vez, a leste, dá acesso
ao Egipto, à Fenícia e às civilizações do Médio Oriente, e a nordeste dá acesso
ao Mar Egeu, o qual, pelo Mar de Mármara, abre caminho ao Mar Negro, e por ele,
à Pérsia, à Mesopotâmia e Anatólia. É por isso que o Mediterrâneo são muitos
mares, pois [...] é uma encruzilhada muito antiga. Há milénios tudo converge na
sua direcção, confundindo e enriquecendo a sua história: homens, animais de
carga, veículos, mercadorias, navios, ideias religiosas, arte de viver. E até
mesmo plantas (Braudel, 1988).
Originárias daí, só a oliveira, o
trigo e a vinha. Aí se adaptaram e aclimataram laranjeiras, limoeiros e
tangerinas que vêm da Ásia do leste, da China, trazidas pelos árabes; as
figueiras, aloés e cactos, que vêm do norte da África, da Barbária; da América
vêm os tomateiros, as batatas, o milho, o tabaco, o girassol. As plantas e
outros temperos da gastronomia mediterrânea, que vêm da Índia e do sueste
asiático. E para o Mediterrâneo convergiram e ainda convergem povos de todos os
continentes, da Europa setentrional, da Ásia e da África.
E conclui Braudel (1988):
Tanto em sua paisagem física como
em sua paisagem humana, o Mediterrâneo-encruzilhada,
o Mediterrâneo heteróclito
apresenta-se nas nossas lembranças como imagem coerente, como um sistema
onde tudo se mistura e se recompõe numa unidade original. Como explicar essa
unidade evidente, esse ser profundo do Mediterrâneo?... A explicação não é
somente a natureza... Nem apenas o homem... São ao mesmo tempo as graças da
natureza, ou as suas maldições, umas e outras numerosas, e os múltiplos
esforços dos homens, ontem como hoje.
Da mesma forma que os rios Nilo,
Tigre e Eufrates, também o Indo, Amarelo e Azul são dons da natureza, vantagens
dadas potenciais, entretanto só o trabalho secular da sociedade pôde
convertê-los em base sólida de civilizações. Assim também é o Mediterrâneo. Foi
preciso atravessá-lo, conhecer-lhe a diversidade, os seus ritmos e perigos para
convertê-lo em base das civilizações que nas suas margens se fizeram». In
Dinarte Belato, Civilizações Clássicas II, Editora Unijui, 2009, ISBN
978-857-429-772-9.
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