quinta-feira, 25 de julho de 2019

Nos 110 anos do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas. Luís A. Barros. «Proponho que a Sociedade de Geografia de Lisboa represente ao governo, pedindo a creação de um instituto em que se ensinem as línguas…»

Cortesia de wikipedia e jdact

«A Sociedade de Geografia de Lisboa (SGL), em 1878, solicitou ao Governo da época a criação de um Instituto de Estudos Coloniais para preparar aqueles que viessem a desempenhar funções públicas nas Colónias. Só bastantes anos depois, em 1906, se concretizou essa aspiração criando-se a Escola Colonial que vai funcionar na Sociedade de Geografia. No dia 25 de Outubro de 1906 foi inaugurado o primeiro curso da Escola pelo rei Carlos I. Foi a escola reformada em 1919, tornando-se o curso colonial, curso superior. Em 1927 o ministro João Belo muda-lhe o nome para Escola Superior Colonial. A Escola, sustentada com verbas disponibilizadas pelo Ministério das Colónias, manteve-se em funcionamento no edifício da Sociedade de Geografia até 1934. A Direcção da Escola era exercida pelo presidente da Sociedade de Geografia. O aumento do número de alunos tornou necessário transferir a Escola para outras instalações, passando em 1934, com o apoio do ministro Armindo Monteiro, para um palacete na Praça do Principie Real nº 21. Em 1962, já integrada na Universidade Técnica de Lisboa, ocupa parte do palácio Burnay, na Rua da Junqueira, nº 86. Hoje é um dos principais Institutos Superiores da Universidade de Lisboa, tendo as suas óptimas instalações no Polo da Ajuda desta Universidade. Assim chegamos ao Instituto Superior de Ciências Sociais e Politicas que ocupa lugar de merecido relevo no contexto universitário nacional.
Foi na Sala Portugal onde, em 25 de Outubro 1906, sob a presidência de Carlos I foi realizada a Sessão Inaugural da Escola Colonial origem do actual ISCP. Comemoramos esta notável efeméride, para nós, os da Sociedade de Geografia de Lisboa, mas também os actuais iscspianos, neologismo muito querido aos actuais professores, alunos e funcionários do ISCSP. É altura de recordar os principais passos que estiveram na origem da fundação da Escola Colonial, bem como referir aqueles dados pela Sociedade que a gerou e ensinou a caminhar e deu asas para os primeiros voos promissores. Desde a sua fundação a Sociedade de Geografia de Lisboa procurou delinear e solicitar aos governos a organização do ensino colonial. Era uma necessidade instante para a administração efectiva e eficaz das possessões ultramarinas portuguesas. É na sequência deste movimento promovido pelos mais clarividentes conhecedores dos problemas da administração colonial que em 1878 o vice-presidente da Sociedade de Geografia de Lisboa, Teixeira Vasconcelos, apresenta a seguinte proposta:

Proponho que a Sociedade de Geografia de Lisboa represente ao governo, pedindo a creação de um instituto em que se ensinem as línguas das possessões portuguezas ultramarinas, e a história e geographia coloniaes, concedendo-se preferência nos concursos para os empregos do ultramar a quem tiver a carta passada por esse instituto, ou a approvação dos exames n’aquellas disciplinas, se ao governo parecer mais conveniente accrescentar as cadeiras indicadas a algum dos cursos superiores já existentes.

Considerando a proposta de Teixeira Vasconcellos, Francisco Adolfo Coelho, professor do Curso Superior de Letras apresentou o seguinte aditamento:

Que seja preferida a creação em Lisboa de um instituto colonial com o seguinte quadro inicial de cadeiras de ensino:
1ª - Geographia e ethnologia da Africa e da Asia;
2ª - Geographia e história das colonias portuguezas;
3ª - Grammatica comparada das línguas bantu e ensino pratico do nbundo e zulu;
4ª - Grammatica comparada dos dialectos modernos da India, do grupo sanskrito e ensino pratico do hindustani, marathi e concani;
5ª - Fauna e Flora das colonias portuguezas, agricultura com aplicação ás mesmas;
6ª - Direito administrativo colonial.

As ideias preconizadas pela Sociedade de Geografia de Lisboa necessitaram de um período de maturação até que o Governo a elas se sensibilizasse e tomasse a decisão de criar a Escola Colonial. É então criada a Escola Colonial pelo Decreto de 18 de Janeiro de 1906 assinado pelo Secretário de Estado dos Negócios da Marinha e Ultramar Manuel António Moreira Júnior sendo ministro Ayres Ornellas Vasconcellos. É esta data que hoje comemoramos Este Decreto é precedido de um Relatório assinado pelo Conselheiro Moreira Júnior em que se afirma: uma escola colonial em que seja dada a instrução mais universalmente reputada indispensável aos funcionários ultramarinos, tal é a criação que se impõe». In Luís Alves Barros, Nos 110 anos do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Série 134, nºs 1 e 12, 2016, Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, 2016, Registo no ICS 0037_8690.

Cortesia de BSGdeLisboa/JDACT