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Entre 1931 e 1933, foi bolseiro da Junta Nacional de Educação na Sorbonne e no
Collège de France. Em Paris, conheceu exilados políticos portugueses como, por
exemplo, o historiador Jaime Cortesão com quem firmou duradoura amizade e dele
recebeu notícias históricas sobre a doutrina paraclética que tomou importância
significativa nos seus estudos sobre a tradição mítico-religiosa da história de
Portugal. Agostinho, também, admitiu que a matriz de Portugal é a Idade Média,
pois foi neste período histórico que se adensou a dimensão mitológica ao
heroísmo português no trabalho hercúleo das Grandes Navegações, ao
universalismo da experiência antropológica dos navegadores. O professor
Agostinho era homem de vida
conversável (a expressão vida conversável é oriunda do depoimento de
um viajante português do século XVI que fazia o levantamento do litoral
brasileiro; escreveu o viajante que as viagens e a expansão marítimas
portuguesas dariam ao mundo a chance de fazer da vida uma obra conversável; aproveitamos
o ensejo para apontarmos que essa ideia de construção de uma vida conversável,
no que tange ao sentido de comunhão entre os povos formando uma só comunidade,
o mundo tornando-se Um porque se valerá do que é conversável, isto é, a união
das gentes de todos os quadrantes, combina com os dizeres de Fernando Pessoa de
que, no Universo, todos os contrários se harmonizam, pois a verdadeira compreensão
é unitiva nos versos do poema O Infante, de O Mar Português, segunda parte da
obra Mensagem: Deus
quer, o homem sonha, a obra nasce./ Deus quis que a terra fosse toda uma,/ Que
o mar unisse, já não separasse./ Sagrou-te, e foste desvendando a espuma, [...],
isto é, mantinha-se arraigado e confiado a constantes conversações intelectuais
que nunca o permitiram render-se a factos que não fossem verídicos, sabendo
rejeitá-los quando em contradição com os seus próprios ideais. Recusou
veementemente ter chefes e submeter-se a ordens, sendo, pois, firme em dizer
que para se ser livre é necessário que se tenha, ao mesmo tempo, liberdade
política e económica.
Devido
às ideias e posições sólidas quanto ao sentido da liberdade, incomodou os
órgãos administrativos portugueses, sofrendo acirrada investida dos agentes
apoiadores de António Salazar devido, especialmente, a duas publicações. Uma,
intitulada O Cristianismo
(1942), na qual exibiu um julgamento panteísta de Deus que cremos estar próximo
da filosofia de Baruch Espinosa no que respeita à compreensão de que Deus é uma
substância aferida de atributos. A outra, nomeada por A Doutrina Cristã (1943),
na qual, além de criticar todo e qualquer preceito que impede o homem de ser
livre, discorre sobre a universalidade de Deus. Também julgamos que esta obra
apresenta proximidade com a perspectiva espinosana de que cada ente é a aparência de um atributo de
Deus, marcando a sua presença ou aparição
indelével nas coisas do mundo. Nessas duas edições, Agostinho
defendeu a figura de Cristo como sendo um revolucionário sem o vincular a
entidade transcendente alguma, instigando, assim, controvérsias entre católicos
e aguçando a atenção da Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (PVDE) que o
acusou de ser subversivo.
As
actividades
culturais desenvolvidas pelo professor Agostinho foram condicionadas por um
ambiente opressivo e conflituoso e, por isso, a partir de 1935, inicia uma
diáspora intelectual, indo para a Espanha como bolsista do Ministério das
Relações Exteriores daquele país. Lá estando, estudou, no Centro de Estudos
Históricos de Madrid,
a lírica religiosa do Renascimento (século XVI) nas obras dos místicos
espanhóis Santa Tereza D’Ávila e São João da Cruz. Regressa a Portugal em 1936,
dada a eminência da Guerra Civil espanhola, e cria a Escola Nova de São
Domingos de Benfica e, no ano seguinte, funda o Núcleo Pedagógico Antero de
Quental,
para o qual estabeleceu actividades sócio-pedagógicas importantes para a renovação
da educação portuguesa que se estenderam até 1943, e, também,
começou a escrever, na revista Seara
Nova, uma série de textos conhecidos por Biografias e Cadernos
de Informação Cultural, publicações que se constituíram numa espécie de
universidade popular por correspondência, pois as enviava para todo Portugal,
cumprindo os objectivos
da actividade
pedagógica daquele núcleo que havia fundado». In Lúcia Helena Alves Sá, Em Torno do Pensar
Poetizante de Agostinho da Silva, Tese apresentada ao Curso de Doutorado em
Literatura do Departamento de Teoria Literária e Literaturas da Universidade de
Brasília, como obtenção do título de Doutor em Literatura, Teoria do Texto
Literário, Brasília, 2013, Wikipedia.
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