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de wikipedia e jdact
«(…) O Sumo Sacerdote curvou-se
diante da que os soldados tinham denominado a Rainha Liberdade. Kamés mantinha-se erecto, o pequeno Ahmés chorava e apertava
com força a mão da mãe. Estais preparada, Majestade, para manter o fogo
conquistador de Tebas? Estou. Kamés, olha bem pelo teu irmão. Ahmés agarrou-se
à mãe. Quero ficar contigo... E quero o meu pai! Ah-hotep beijou ternamente o
rapazinho. O teu pai está no céu, com os outros Faraós e nós devemos
obedecer-lhe terminando a sua obra. Para isso, preciso de todos e, sobretudo,
dos nossos dois filhos. Compreendes? Engolindo as lágrimas, Ahmés colocou-se
diante do irmão mais velho, que o segurou pelos ombros. O Sumo Sacerdote
conduziu Ah-hotep até à capela da deusa Mut, cujo nome significava ao mesmo
tempo a Mãe e a Morte. Fora ela que dera à adolescente a força de
travar um combate impossível. E era ela que ia transformar a modesta cidade
tebana em capital da reconquista. Ao diadema de ouro da mãe que Ah-hotep
trazia, o Sumo Sacerdote prendeu um uraeus
do mesmo metal. Depois, entregou-lhe um arco e flechas. Majestade,
comprometeis-vos a combater as trevas? Comprometo. Nesse caso, que as vossas
flechas atinjam os Quatro Orientes.
Ah-hotep visou o Oriente, depois
o Norte, o Sul e por fim o Ocidente. A nobreza da sua atitude impressionara
todos os ritualistas. Visto que o cosmos vos é favorável, Majestade, eis a vida
que devereis preservar e a magia que devereis espalhar. O Sumo Sacerdote
apresentou ao rosto da Rainha uma cruz egípcia e um ceptro, cuja cabeça era a
do animal de Set. Poderosas vibrações atravessaram o corpo de Ah-hotep. Nela, a
partir de agora, incarnava a esperança de todo um povo. Depois dos soldados da
base secreta terem prestado uma última homenagem ao Faraó defunto, o cortejo
fúnebre tomou o caminho da necrópole. Quatro bois puxavam o sarcófago colocado
sobre um trenó de madeira. A intervalos regulares, ritualistas derramavam leite
na pista para facilitar o deslizamento. Neste período de guerra, o artesanato
tradicional estava reduzido à expressão mais simples; assim, o mobiliário
funerário de Seken apenas comportava objectos modestos, indignos de uma
sepultura real: uma paleta de escriba, um arco, sandálias, um saiote de
cerimónia e um diadema. Já não havia em Tebas um único grande escultor. Os do atelier real de Mênfis tinham
sido executados há muito tempo pelos hicsos.
Ah-hotep era acompanhada pelos
dois filhos, a mãe, o intendente Qaris e o Superintendente dos Celeiros Herai,
responsável pela segurança em Tebas e grande caçador de colaboradores com o
inimigo. O governador da cidade de Edfu, Emheb, tivera de regressar a Cusae afim
da manter o moral das tropas que consolidavam a frente. Diante da entrada do
pequeno túmulo, tão irrisório em relação às pirâmides da Idade de Ouro, Qaris e
Herai ergueram o sarcófago. Antes de o confiarem à deusa do Ocidente, que
absorveria Seken no seu seio onde o faria renascer, era necessário abrir-lhe a
boca, os olhos e as orelhas. O sarcófago de Sekenenré está conservado no Museu
do Cairo. O sacerdote funerário estendeu à Rainha uma enxó de madeira. Logo que
Ah-hotep lhe tocou, quebrou-se. Não temos outra, lamentou o ritualista. Era a
última que tinha sido consagrada quando o Faraó reinava sobre o Egipto. O
sarcófago do Rei não pode permanecer inerte! Então, Majestade, será necessário
utilizar a enxó do Abridor dos Caminhos. Mas está em Assiut objectou
Qaris e a cidade não é segura! Vamos lá imediatamente decidiu a Rainha. Majestade,
suplico-vos... Não tendes o direito de correr semelhante risco! O primeiro dos
meus deveres consiste em tornar tranquila a viagem do Faraó para os paraísos do
outro mundo. Não o fazer conduzir-nos-ia ao fracasso.
Trezentos quilómetros a norte de
Tebas, em território inimigo, a cidade de Assiut, a antiga cidade do chacal
divino, o Abridor dos caminhos, estava agonizante. O Afegão e o Bigodes, dois
calejados resistentes promovidos a oficiais no exército de libertação, possuíam
numerosos contactos na região. Tinham portanto confiado uma mensagem a Larápio, o chefe dos
pombos-correio, capaz de percorrer mais de mil quilómetros num só voo à
velocidade de oitenta quilómetros por hora. A missão era arriscada. Se Larápio não regressasse,
Ah-hotep perderia um dos seus melhores soldados. Aliás, ela não lhe ocultara o
grande risco que ia correr. Muito atento, com a cabeça bem direita, o olhar
brilhante, o pombo branco e castanho considerara-se apto a vencer. Mas dois
dias tinham decorrido e a Rainha perscrutava o céu em vão». In
Christian Jacq, A Rainha Liberdade, A Guerra das Coroas, ISBN
978-852-861-216-5, Bertrand Editora, 2006, ISBN 978-972-251-281-7.
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