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Tudo pronto para receber el-rei Dinis I que não demorou a entrar pela cidade
adentro, com os seus cavaleiros e com as bandeiras e estandartes do reino
português, à frente, assinalando a real comitiva. Às portas do palácio de
Alcazar, o rei de Castela Fernando e sua esposa dona Constança e inúmeros nobres
e aias da corte castelhana. Dinis apeou-se do cavalo e abraçou o seu genro com carinho
e amizade. Depois voltou-se para sua filha Constança, estendeu-lhe os braços e esperou
que a jovem rainha se atirasse ao seu pescoço e o beijasse efusivamente. Deixou-se
ficar com a filha nos braços e sentiu, de novo, com emoção, esse sentimento paternal
que pensava já o ter abandonado, porque sua filha já estava em Castela havia
mais de dois anos. Depois de receber cumprimentos dos mais altos dignitários da
igreja e da nobreza de Castela, Dinis percorreu com o olhar as aias da rainha e
descobriu Vataça Lascaris, a quem se dirigiu de imediato.
Olá, princesa Vataça. Como tem passado?
Bem, Alteza Rea1, respondeu Vataça enquanto fazia a vénia dobrando os joelhos e
baixando a cabeça. Continuais linda, princesa. Vataça já não respondeu e enquanto
sentia o rubor nas suas faces, el-rei Dinis afastou-se e caminhava já ao lado de
Fernando de Castela e de sua filha Constança dirigindo-se para o interior do
palácio toledano com ambas as comitivas reais. À noite ao jantar no sa1ão principal
de Alcazar, a Corte castelhana preparava-se para ofertar um opíparo jantar aos seus
convidados portugueses. Naquela enorme mesa nada faltava. Os melhores vinhos e os
melhores manjares enchiam o centro da mesa de uma ponta à outra. Javalis e leitões
assados no espeto, faisões e patos, castanhos-escuros brilhantes das assaduras em
fornos de lenha especiais, salmões e trutas do rio Tejo, frutas de todas as
variedades ibéricas e algumas do norte de África. O rei de Castela deu o mote, após
umas breves palavras de boas-vindas ao rei português, agarrou uma das facas que
tinha à sua beira, cortou uma perna do faisão e levou-a à boca, com apetite devorador,
cravando-lhe os dentes na tenra carne.
Estava
divinal, acrescentava, enquanto mastigava com prazer. E todas as largas dezenas
de comensais seguiram o seu exemplo, atirando-se literalmente às travessas
repletas de iguarias. Dinis, que se havia sentado no outro topo da mesa, de
frente para Fernando de Castela, chamara para o seu lado a princesa Vataça
Lascaris, com quem falava alrgremente e de vez em quando elevava a caneca de
vinho e saudava o seu genro e rei de toda a Corte de Castela. Vataça perguntara
como estava a rainha Isabel, a quem ligavam profundos sentimentos de amizade e respeito.
Lá continua muito atarefada, dizia Dinis, com as suas devoções e com os seus auxílios
aos pobres e desprotegidos de Portugal. Todas as manhãs são as matinas e os louvores
a Deus. À tarde reza as vésperas e faz as leituras canónicas da Santa Igreja. Nos
períodos de maior fervor religioso, como na Quaresma ou no Advento, faz os seus
jejuns. Tem períodos que chama ao palácio todos os pobres e lava-os, veste-os e
alimenta-os. Por vezes tenho que chamar a guarda para colocar alguma disciplina
nesses desgraçados que vêm aos milhares de todo o país e até de Castela. Sabem
que a Senhora é um coração de ouro e não hesitam em chegar-se até ela. E
continua a fundar conventos e casas de acolhimento por todo o Portugal?,
perguntou Vataça Lascaris». In Francisco do Ó Pacheco, Vataça, A
Favorita de Dom Dinis, Prime Books, 2013, ISBN 978-989-655-183-4.
Cortesia
de PBooks/JDACT