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«(…) Neste nosso trabalho, fazemos apenas o estudo da
biografia Vida de Francisco de
Assis (1944), pois Agostinho da Silva usou da postura do
homem Giovanni Bernardone para aludir à emergência do espiritual no mundo a fim
de que vigore o universo de
coisas e pessoas confraternizadas entre si, ancoradas forte e exclusivamente no
amor socialmente difundido. O biógrafo apresenta-nos um modelo de vida exemplar
que renunciou os prazeres mundanos por ter desencoberto a Graça.
Ensina-nos a compreender que de nada vale a nossa existência se não soubermos
servir, cuidando, voluntariamente, do outro com boa vontade e com agrado. Isso
significa que devemos agir em caridade, respeitando as altercações. Foi isso
que Agostinho da Silva procurou viver e praticar e declarar literariamente ou
em textos pedagógicos e filosóficos.
A
diáspora intelectual
A partir dos anos da década de 1930, em decorrência da
ditadura de António Salazar, intelectuais portugueses estabeleceram-se no
Brasil, formando o que António Cândido (2003) designou por missão portuguesa.
Esta se iniciou, por certo, em 1927, com a vinda de Sarmento Pimentel,
conhecido como O Capitão, o chefe dos portugueses no exílio em nosso
país. Era ele quem dava toda a assistência aos seus compatriotas que chegavam a
São Paulo. Os emigro-exilados como, a título de exemplo, Eudoro Sousa, Adolfo
Casais Monteiro, Jorge de Sena, Sidónio Muralha e Joaquim Barradas Carvalho,
todos da área de Letras, contribuíram para o aperfeiçoamento académico
brasileiro. A essa missão portuguesa junta-se a presença do professor Agostinho
da Silva que esteve impossibilitado de continuar a realizar os seus projectos
culturais e pedagógicos no ambiente político opressor de Portugal à época de
Salazar, apesar de já ter deixado nesse território de língua portuguesa a marca
de sua intelectualidade provocadora. Mas antes de fincar moradia definitiva no
Brasil quando aqui aportou em 1944, auto-exila-se na Argentina no ano de 1945,
leccionando a disciplina Pedagogia Moderna na Escola de Estudos Superiores de
Buenos Aires e realiza trabalhos no domínio da Histologia. Em 1946, esteve a ensinar
nos Colégios Livres na capital do Uruguai.
Essa diáspora de Agostinho da Silva deu-lhe o que Portugal lhe
negava, a liberdade nitidamente intelectual que se caracterizava por certo
abandono a Portugal no sentido de um Estado-Território, a favor de um Portugal
que é a língua portuguesa, substrato unificador poderoso que, hoje, já se
tornou código linguístico abrangente, reunindo oito nações em quatro
continentes que, mesmo constituindo-se em espaços geograficamente descontínuos,
são irmanadas por uma herança histórica, pelo idioma comum e por uma visão
compartilhada na defesa da democracia, na promoção do desenvolvimento e na
criação de um ambiente internacional mais equilibrado e pacífico. Exemplifica
essa complementariedade histórica as realizações agostinianas nesse território
de língua portuguesa, notadamente o Brasil, país no qual permaneceu por 25
anos. Instalou-se, a partir de 1947, numa casa alugada dentro de uma fazenda de
imigrantes filandeses na Serra de Itatiaia, em Penedo (Estado do Rio de
Janeiro). Aí formou uma comunidade alternativa, melhor dizer, de cariz
monástico e ecuménico integrada, por exemplo, por Vicente Ferreira Silva e sua
esposa, Dora. Essa casa foi frequentada por Cecília Meireles, Mário Andrade,
Miguel Reale, Murilo Mendes (foi casado com Saudade Cortesão cuja irmã, Judite
Cortesão, era esposa de Agostinho da Silva; as duas eram filhas do intelectual
português Jaime Cortesão) e outros intelectuais.
No
período em que morou em Itatiaia, investigava a História do século XVIII,
ministrava aulas de Filosofia da Educação na Universidade Federal Fluminense e
trabalhava no Instituto Oswaldo Cruz como entomólogo. Do Instituto ele levou
para a casa um microscópio com a intenção de oportunizar aos jovens e adultos
da fazenda o saber científico de modo a integrar o conhecimento popular e o da
academia. Também montou uma exposição de arte com trabalhos de crianças para
aproximar os colonos finlandeses da gente brasileira. Em 1952, ausenta-se do
Rio de Janeiro e vai para o Estado da Paraíba para leccionar em
universidade. Já por volta de 1959, quando se naturalizou brasileiro, era
notabilizado no universo da cultura portuguesa e, durante a sua estada no Brasil,
conseguiu realizar viagens pelo que ele considerava o mundo português. Além disso,
deixou-se até mesmo envolver-se pela língua, cultura e encantos do Oriente;
proferiu conferências especialmente no Japão, nação que muito lhe interessava
dadas às relações com Portugal verificadas nos séculos XVI e XVII, importantes
e esquecidas actualmente.
Neste país, instigou a constituição de Centros de Estudos do Oriente em
Nagasaki, ideia que se estendeu à China». In Lúcia Helena Alves Sá, Em Torno do Pensar
Poetizante de Agostinho da Silva, Tese apresentada ao Curso de Doutorado em
Literatura do Departamento de Teoria Literária e Literaturas da Universidade de
Brasília, como obtenção do título de Doutor em Literatura, Teoria do Texto
Literário, Brasília, 2013, Wikipedia.
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