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Eu não me importaria, afirmou. Não me importo com nada disso. Todos dizem
que sou terrivelmente corajoso em relação a coisas desse género. Tenho a
certeza que sim, respondeu ela sorrindo. Um homem bonito com vinte e poucos
anos avançou e fez uma vénia. Oh, este é Edward Stafford, o Duque de Buckingham,
disse Henrique rapidamente. Posso apresentar-vos? Catarina estendeu a mão e o
homem fez novamente uma vénia sobre ela. O seu rosto inteligente e belo
acendeu-se com um sorriso. Que sejais bem-vinda ao vosso próprio país!,
comentou num castelhano irrepreensível. Espero que tudo tenha corrido ao vosso agrado
durante a viagem. Há alguma coisa que possa fazer para vos ajudar? Na verdade,
fui muito bem tratada, declarou Catarina, corando de prazer por ser saudada na
sua língua. E o acolhimento que recebi do povo, durante toda a viagem, foi
muito simpático. Olhai, aqui tendes o vosso cavalo, interrompeu Henrique,
enquanto o criado chegava com uma maravilhosa égua negra. Deveis estar
habituada a ter bons cavalos, é óbvio. Tendes sempre cavalos da Barbaria? A
minha mãe insiste em que os utilizemos para a cavalaria, respondeu. Oh!, suspirou.
Por serem muito rápidos? Podem ser treinados como cavalos de batalha, disse,
avançando e estendendo a mão, com a palma voltada para cima, para que a égua
cheirasse e lambesse os seus dedos, com a boca macia e meiga. Cavalos de
batalha?, continuou ele.
Os Sarracenos têm cavalos que conseguem combater como
os donos e os cavalos da Barbaria também podem ser treinados a fazer, disse
ela. Levantam-se nas patas traseiras e batem num soldado com as da frente, e
também dão coices. Os Turcos têm cavalos que apanham uma espada do chão e devolvem-na
ao cavaleiro. A minha mãe diz que um bom cavalo vale por dez homens, numa batalha.
Gostava tanto de ter um cavalo desses, disse Henrique com um ar sonhador. Como
será que poderei conseguir um? Fez uma pausa, mas ela não mordeu o isco. Se
alguém me desse um cavalo desses, poderia aprender a montá-lo, afirmou
transparentemente. Talvez no meu aniversário, ou talvez na próxima semana, uma
vez que não sou eu que me vou casar, e não vou receber nenhum presente de
casamento. Uma vez que fui um pouco posto à margem e negligenciado. Talvez,
afirmou Catarina, que já uma vez vira o seu próprio irmão obter o que
pretendia, exactamente com o mesmo tipo de comentário.
Devia ser treinado para montar correctamente, disse ele. O Pai prometeu-me que,
apesar de eu ir para a Igreja, serei autorizado a montar na quintana. Mas Sua Alteza,
a Mãe do Rei, diz que não posso combater. É muito injusto. Deveria poder
combater. Se tivesse um cavalo apropriado, poderia combater, tenho a certeza de
que derrotaria toda a gente. Tenho a certeza que sim, disse ela. Bem, vamos
embora?, perguntou, vendo que ela não lhe ofereceria um cavalo, só por ele lho pedir.
Eu não posso ir a cavalo, as minhas roupas de montar estão na mala. Ele hesitou.
Não podeis ir assim vestida? Catarina riu-se. Isto é de veludo e de seda. Não
posso montar com estas roupas. E além disso,não posso andar a galopar pela
Inglaterra, com ar de pantomineiro. Oh, pronunciou. Sendo assim, ireis na vossa
liteira? Não nos vai atrasar muito? Lamento mas recebi ordens para viajar numa liteira,
afirmou. Com cortinas corridas. Imagino que nem o vosso pai que andasse pelo
país a montar de saias levantadas». In Philippa Gregory, Catarina de Aragão,
A Princesa Determinada, Livraria Civilização Editora, 2006, ISBN
978-972-262-455-8.
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