Cortesia
de wikipedia e jdact
Evolução
urbana e arquitectónica
«Consideraram-se
sucessivamente quatro momentos geradores da cidade: a Póvoa medieval, a Vila renascentista,
a Praça de Guerra barroca, e finalmente
a Cidade Moderna. A póvoa medieval surge no âmbito
das reorganizações do território e do povoamento que a Monarquia Portuguesa
empreende sobre os espaços das periferias do NE. Mais tardia do que a fundação
de Bragança por Sancho I mas anterior à criação de Miranda do Douro por Dinis I,
a Póvoa de Chaves surgirá por iniciativa do rei Afonso III ao mesmo tempo que
este se dedicava à paralela fundação de Vila Real. A característica de vila de
fronteira com objectivos bélicos mas, ao mesmo tempo, controlando importantes relações
comerciais com o lado Leonês e Castelhano, constituirá desde a origem uma
característica fundamental da identidade urbana de Chaves. A Vila renascentista surge na
continuidade da póvoa medieval procurando actualizar-se ao sabor de novas
tendências e exigências que percorriam a Europa do Renascimento. A
característica de vila de periferia, fronteira e distante dos centros
ordenadores, persistirá impondo limitações à actuação dos protagonistas da
construção da sua história. Oscilando entre a expansão possível e a contenção,
será terreno de intervenção das suas elites empenhadas num esforço de monumentalização do tecido
urbano mas que não deixará de ser marcado pelo deficit de recursos ou de ambições.
A análise da Praça de Guerra na época
barroca determina necessariamente uma atenção particular ao processo de
construção das estruturas de fortificação abaluartadas bem como ao entendimento
da lógica da máquina de guerra subjacente e as implicações urbanísticas
decorrentes. Procurou analisar-se também os modos como Chaves organizou as suas
periferias urbanas ou subúrbios nesta
época, considerando que aquele tipo de fortificações, com as extensas obras exteriores que
implicava, impunha normalmente um corte radical entre o espaço urbano e a
periferia rural ou suburbana. O momento difícil que o desastre da campanha de
1762 representou para os núcleos urbanos em Trás-os-Montes inaugurou o que
chamamos de morte lenta da praça de
guerra. Mas a vila e as suas elites foram capazes de reagir a uma
conjuntura desfavorável e relançar uma nova dinâmica de crescimento em Chaves
que se reflectiu num original período de renovação urbana entre os fins do
século XVIII e as três primeiras décadas do XIX, antecipando o que teria o seu
pleno desenvolvimento no decorrer da 2ª metade do século XIX.
Analisaram-se em seguida as
dificuldades do crescimento urbano que é geral ao longo de Oitocentos. Observou-se
o fim da Praça de Guerra, a actualização da
presença militar com novos projectos e realizações bem como a reabilitação das
estruturas de fortificação em desuso com novos significados e utilizações. Situamo-nos
então em pleno processo de criação da Cidade
Moderna, identificando-se dois planos sucessivos ainda no interior das
lógicas dos Planos de Melhoramentos
Urbanos, o primeiro desenvolvendo-se ao longo das últimas décadas do
século XIX e o segundo estruturando uma outra lógica para a cidade a partir da
instauração do poder republicano e o fim da 1ª Guerra Mundial. A elaboração do Ante Plano de Urbanização nas
décadas de 1940 e 1950 procura uma actualização do espaço urbano e respostas
aos desafios de uma expansão urbana que se vê chegar mas que marcará passo
depois com a crescente emigração para fora de Portugal. Porém, as últimas
décadas do século XX trarão consigo uma explosão urbana e edificadora que os
planos de urbanização da década de 1950 não terão capacidade de ordenar. Já nos
nossos dias assistimos a uma nova atenção aos problemas urbanos e do
crescimento que procura a criação de instrumentos eficazes de planeamento e
controle cujo corolário é o Projecto
Polis para o qual o presente trabalho de investigação histórica e
arqueológica visou contribuir.
Cidade
Portuguesa no Tempo
O
estudo e conhecimento do urbanismo em Portugal conheceram grandes avanços,
registados sobretudo nas duas últimas décadas. Os anos de formação da Monarquia
Portuguesa (séculos XII – XIV) são coevos de uma nova dinâmica urbana que
acompanha o momento da expansão medieval iniciada após o ano 1000. Grande parte
dos núcleos urbanos actuais podem, com proveito metodológico, reconhecer as
suas origens nessa época. A Monarquia Portuguesa afirmou o domínio sobre o
território a partir da matriz urbana ordenando e reordenando com ela o espaço
em função dos seus interesses centralizadores. Numa primeira fase, o limite que a muralha da cerca
materializa parece ser sinónimo de urbano. Com efeito dizia-se, na altura, fazer vila como exprimindo
construir uma muralha de cerca e com ela assim fundar um núcleo urbano. Muitos
núcleos urbanos surgiram naquela época, sobremaneira durante os reinados de
Afonso III e de Dinis I, como actos de vontade régia, fundações novas e
ordenadas com o objectivo de criar centros a partir dos quais organizar, ou
reorganizar, o território. Chamaram-se então povoas ou vilas
novas mostrando no respectivo desenho o carácter planificado da sua
origem. Centro urbano e território surgem indissoluvelmente relacionados pois
um centro urbano exige sempre um termo
no qual tem assento as aldeias, quintas e casais em que moram as
populações rurais que daquele dependem. Um centro urbano é pois normalmente um
município e um território concelhio. O crescimento das concentrações humanas e
o desenvolvimento das actividades de relação trouxe a formação de rossios e de arrabaldes nos exteriores
próximos das muralhas da cerca. Ao mesmo tempo esboça-se uma diferenciação
entre a Alta e a Baixa urbanas, esta última
muitas vezes designada por Ribeira.
Iniciava-se então um movimento clássico das populações que se aproximam das
áreas mais abertas à relação e à expansão, abandonando os altos e adensando-se
sobre os baixos, junto aos caminhos e às margens dos rios navegáveis». In Paulo
Dordio, Chaves e as suas Fortificações, Evolução urbana e arquitectónica, ARQUEOHOJE,
Chaves. Levantamento Arquivístico e
Bibliográfico. 2006, Chaves, Arquivo Municipal de Chaves, 2015, Wikipedia.
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