jdact
Cantiga
de Mariana Alcoforado à maneira
de lamento
«(…)
Me tomam por tomada
a mim se dou
meu peito e meu convento
em troca de mais nada
que alheada andava
tão alheada andava
Me davam por freira
conformada
no hábito que habito
ou habitava
que alheada andava
tão alheada andava
Me têm por lei presa
tão bem posta em dádiva
pois me libertei
que alheada andava
tão alheada andava
Me dizem que morra
se por mim amei
com a ameaça funda que pequei
que alheada andava
tão alheada andava
Me sobram porém hoje os dias
que
perdi
e a clausura então
que não rasguei
que alheada andava
tão alheada andava
28/3/71
A freira sangrenta
Fantasma que
assombrava o Castelo de Lindenberg, tornando-o inabitável... Era uma freira
usando um véu e um vestido ensanguentado. Numa das mãos trazia uma enxada, na
outra uma candeia acesa... Freira espanhola, tinha deixado o convento para
viver com o senhor do castelo. Tão infiel ao seu amante como o fora para o seu
Deus, traiu-o, mas só conseguiu ser por sua vez traída pelo cúmplice, com quem
queria casar. O seu corpo foi deixado sem sepultura, e a sua alma sem poiso
errou cerca de um século. Implorava um pouco de terra para o seu corpo e
algumas orações para a sua alma..., tendo-lhe sido prometidas ambas as coisas,
desapareceu.
Madre Abadessa, aqui
me mandam de casa dos meus pais.
Não houve pão para
nós à mesa dos homens.
Nosso corpo inútil no Senhor foi
votado.
Na casa do Senhor comeremos.
Na casa do Senhor dormiremos.
Madre Abadessa, e o que seremos
sem corpo
Nem cavaleiro?
Nossa paixão é o Senhor, nosso
exercício
O paraíso, nosso objecto é o
mundo
Seremos
freiras em convento.
Elisabeth de Hoven
Freira num convento de Hoven, no
século doze. Encontrou um dia o diabo no seu quarto. Reconhecendo-o pelos
cornos, foi direita a ele e deu-lhe uma estalada que o atirou pelos ares...
Noutra ocasião, julgou que um homem tinha conseguido entrar no convento, mas quando
depois se convenceu de que tinha estado tratando com o diabo, a Irmã Elizabeth
exclamou: oh! Se tivesse logo percebido isso, que bofetada eu lhe teria dado!
Madre Abadessa, aqui me mandam de
casa dos meus pais.
Não houve pão para nós à mesa dos
homens.
Nosso corpo fértil no cavaleiro
foi maridado
Na casa do Cavaleiro comeremos.
Na casa do Cavaleiro dormiremos.
Madre Abadessa, e o que seremos
sem corpo
E com cavaleiro?
Pomar de primeira, montada
Das suas lutas vazias, mão de
obra barata.
Nossa paixão é o mundo, nosso
exercício
Seus filhos, nosso objecto é o
cavaleiro.
Seremos
dadas em casamento».
In
Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta, Maria Velho Costa, Novas Cartas
Portuguesas, 1972, edição anotada, Publicações dom Quixote, 1998, 2010, ISBN
978-972-204-011-2.
Cortesia
PdQuixote/JDACT