sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Os Arquivos Secretos do Vaticano. Sérgio P. Couto. «Os Arquivos Secretos do Vaticano surgiram oficialmente em 1610 e foram sancionados pelo papa Paulo V (1552-1621) com a intenção oficial de resguardar o legado de Jesus Cristo…»

Cortesia de wikipedia e jdact

«(…) Até aí, eles poderiam compor uma simples biblioteca, que guarda obras que, por serem consideradas heréticas, não mereceriam tanto destaque, já que a própria heresia é discutível do ponto de vista tanto religioso quanto do filosófico. Mas, numa época de pensamento e regência absolutistas, tudo era imposto. Na verdade, dos evangelhos apócrifos aos textos escritos por aqueles considerados heréticos e perigosos, o facto é que, até hoje, não se teve uma explicação satisfatória por parte dos clérigos do motivo pelo qual esses livros foram guardados nessa biblioteca. E do porquê, ainda hoje, de alguns desses escritos ainda não serem de consulta pública. O que se sabe é que tais escritos eram guardados para um suposto estudo por parte dos doutores da Igreja para entender melhor a mentalidade herética e os motivos que os levavam a combater ideias diferentes das deles. Com certeza, houve casos de clérigos que, após lerem tais textos, resolveram trocar de lado, mas seus nomes ou são pouco conhecidos, ou simplesmente se perderam na história. Por tudo isso, reunimos neste livro um apanhado de estudos, pesquisas, informações e factos sobre esse fascinante assunto. Discorreremos sobre a história do lugar, os detalhes de sua criação e formação, informações sobre a Inquisição (maldita) e as heresias, cujos processos lotaram as enormes prateleiras de registos e dados sobre alguns grupos que, na Idade Média e em outras eras, se atreveram a levantar a voz contra o domínio da Igreja Católica, além dos evangelhos proibidos, mistérios, polémicas e segredos, inclusive relacionados à renúncia do agora papa emérito Bento XVI.
Tudo o que foi aqui colocado foi feito sob um ponto de vista analítico, pois não pretendemos dar a resposta definitiva a indagações, mistérios e dúvidas, mas sim fazer com que o leitor tenha subsídios para tirar conclusões por si. Na busca da verdade, uma ressalva é necessária: para que as informações obtidas dos Arquivos Secretos não exprimam apenas o ponto de vista da Igreja Católica e de seus inquisidores sobre os diversos assuntos lá tratados, é preciso cruzar dados entre os documentos do Vaticano e o que mais possa ser encontrado em outras bibliotecas e centros documentais do mundo, o que buscamos, pelo menos em parte, fazer. De qualquer maneira, se há algo que fascina as pessoas é poder ter acesso a dados tirados de circulação e a outros assuntos considerados proibidos e que desafiam a realidade como conhecemos e provocam o nosso imaginário a conjecturar qual é, afinal, a verdade. Vamos, então, a eles.

A criação dos Arquivos Secretos
Os Arquivos Secretos do Vaticano surgiram oficialmente em 1610 e foram sancionados pelo papa Paulo V (1552-1621) com a intenção oficial de resguardar o legado de Jesus Cristo, herdado por seus seguidores. Assim, todo o documento classificado como de interesse eclesiástico está guardado no acervo, que inclui decretos, cartas, processos inquisitórios e, claro, os livros proibidos que tanto atraem a atenção do público. Lá também estão catalogados vários documentos que revelam a história de vários países, além de documentos administrativos relativos ao próprio Vaticano e livros de papas, entre outras raridades. Os clérigos que zelam pelo seu acervo afirmam que cuidam para que os ensinamentos de Jesus sejam passados de maneira correcta entre as gerações sem que sofram alterações. Ao longo do tempo, vários textos evangélicos, correspondências apostólicas e outros tipos de documentos estiveram bem longe da curiosidade pública.
Segundo o sítio oficial do Vaticano, as raízes para o estabelecimento desse depositário incrível remontam à própria origem, natureza, actividades e desenvolvimento da Igreja Católica. Diz a página:

Desde os tempos apostólicos, os papas preservaram cuidadosamente os manuscritos relativos aos exercícios das suas actividades. Essa colecção de manuscritos foi mantida no Scrinium Sanctae Romanae Ecclesiae, que geralmente segue os papas nas suas várias residências, mas a fragilidade dos papiros, normalmente usados pela chancelaria papal até ao século XI, as transferências e as mudanças políticas quase causaram a perda total do material arquivado anterior a Inocêncio III. A partir do século XI, quando o papa e seus seguidores ganharam os papéis de destaque que mantêm até hoje, o número de escritórios da cúria cresceu. No século XV, os documentos considerados os mais preciosos foram levados para o Castelo de Sant’Ângelo. Após vários projectos para a criação de um arquivo principal, Paulo V finalmente deu a ordem para a transferência dos registos das bulas papais, comunicados, livros da câmara e as colecções de documentos anteriores à época de Pio V (1504-1572) para cerca de três salões próximos à Sala Paoline, que já era uma espécie de biblioteca secreta de uso exclusivo. Foram cerca de 300 documentos classificados da seguinte maneira: para uso privado dos pontífices romanos.
Durante o século XVII, os arquivos cresceram de maneira considerável, especialmente sob o pontificado de Urbano VIII (1568-1644), quando foram acrescentados documentos, como as bulas de Sisto IV e Pio V, e os documentos dos secretários de Alexandre VI a Pio V. Os livros foram então transferidos para a câmara apostólica de Avignon, juntando-se aos do período do Cisma e aos documentos sobre o Concílio de Trento. Os arquivos sofreram nova ampliação de conteúdo sob o pontificado de Alexandre VII (1599-1667), que escolheu concentrar a correspondência diplomática da secretaria de estado num andar específico dos palácios vaticanos. Na primeira metade do século XIII, durante as administrações de Pietro Donnino Pretis e Filippo Ronconi, os documentos mantidos nos arquivos foram postos em ordem pela primeira vez, e muitos achados mantêm a ordem original até hoje». In Sérgio P. Couto, Os Arquivos Secretos do Vaticano, Da Inquisição à renúncia de Bento XVI, Editora Gutenberg, 2013, ISBN 978-856-538-385-1.

Cortesia de EGutenberg/JDACT