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Ralde (Maria de la)
Bonita bruxa presa
com a idade de dezoito anos. Começara a praticar a sua arte aos dez anos e foi
levada ao Sabbat pela primeira vez pelo bruxo Marissans. Depois da morte deste,
o próprio diabo a levou à Assembleia, onde, segundo o depoimento de Marie,
tomou a forma duma árvore..., mas aparecendo às vezes com a forma dum homem
vulgar, ora encarnado, ora preto. Marie nunca beijou o diabo mas viu como isso
se fazia. Acrescentou que gostava muito do Sabbat porque parecia mesmo um
casamento. As bruxas ouviam música tão suave que era como se estivessem no
céu..., e o diabo convenceu-as de que o fogo que arde eternamente não era real,
mas artificial.
Madre Abadessa, aqui
me mandam de casa dos meus pais.
Não houve pão para
nós à mesa dos homens.
Nosso corpo de
trabalho aos senhores alugamos.
Do dinheiro dos
senhores comeremos.
No esterco que sobrar
dormiremos.
Madre Abadessa, e o
que seremos com corpo
E sem cavaleiro?
Terra estéril,
montada
Das suas lutas
vazias, mão
De obra barata, onde
alugares o teu corpo
Dirão porque não, tua
força? e onde
Alugares tua força,
dirão porque não
O teu corpo? Nossa
paixão é o pão, nosso
Exercício é o mundo,
nosso objecto são
Os senhores de
trabalhadoras e prostitutas.
Maillat (Louise)
Jovem demoníaca que
viveu em 1598. Tendo perdido o uso dos seus membros foi levada, para exorcismo,
à Igreja do Sagrado Redentor. Verificou-se que ela estava possessa de cinco
demónios chamados lobo, gato, cão, boneca e grifo. Dois demónios saíram-lhe pelo
nariz sob a forma de bolas do tamanho de um punho, uma vermelha como o fogo e a
outra, o gato, completamente preta. Os outros demónios deixaram-na menos
violentamente. Uma vez fora dela, os demónios giraram à volta do fogo e
desapareceram. Descobriu-se que Françoise Secrétain fizera engolir os demónios
pela rapariga escondendo-os numa côdea de pão cor de estrume.
Mariagrane (Marie)
Bruxa que disse ter
visto muitas vezes o demónio copulando com grande número de mulheres, e que a
sua técnica era a de se aproximar das mulheres bonitas pela frente e das feias
por trás.
Madre Abadessa, aqui
me mandam de casa dos meus pais.
Não houve pão para
nós à mesa dos homens.
Se nosso corpo forte
no cavaleiro apaixonamos
Do pão do diabo
comeremos.
Em casa do diabo
acordaremos.
Madre Superiora, e o
que seremos com corpo
E com cavaleiro?
Terra de ti, montada
de suas lutas
Vazias, mãos de
obreira
Perdidas, onde lhe
cederes teu corpo
Dirão teu corpo,
nossa lonjura. Nossa
Paixão será
cavaleiro, nosso exercício
O corpo, nosso
objecto o mundo.
Seremos montadas de
cavaleiro».
In
Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta, Maria Velho Costa, Novas Cartas
Portuguesas, 1972, edição anotada, Publicações dom Quixote, 1998, 2010, ISBN
978-972-204-011-2.
Cortesia
PdQuixote/JDACT