segunda-feira, 5 de agosto de 2019

A invenção da infância nas narrativas autobiográficas de Lya Luft. Sébastien Joachim. «Este projecto parte de uma aposta: uma vez admitido o postulado de uma função cognitiva da Literatura e das Artes, haverá possibilidade de investigar…»

Cortesia de wikipedia e jdact

«A despeito da nova filosofia da infância que preconizam os filósofos J-F. Lyotard, Gilles Deleuze e Giorgio Agamben, as crianças com as quais deparamos no quotidiano continuam a ser uma incógnita na segunda Modernidade, no segundo pós-guerra. O filósofo Alain Renaut aponta este facto sem imputá-lo totalmente, como Hannah Arendt (La crise de la culture) à extensão à Infância da Declaração dos Direitos Humanos. Este projecto parte de uma aposta: uma vez admitido o postulado de uma função cognitiva da Literatura e das Artes, haverá possibilidade de investigar no plano da literatura comparada certas narrativas autobiográficas suficientemente ricas na sua forma-conteúdo para sugerir mediante modelos de infância imaginária hipóteses fecundas para a compreensão da infância em construção nos nossos tempos. Temos escolhido para cumprir essa tarefa, ao lado da brasileira Lya Luft, a escritora francesa Nathalie Sarraute e o ficcionista canadense Jacques Ferron. Fomos estimulados a testar aquele postulado pela ideia de Literatura Aplicada defendida desde 1990 pelo professor Pierre Bayard. Para além do citado Alain Renaut, termos como apoio teórico cientistas sociais como Jean-Pierre Kaufmann, François Singly, Claude Dubar para interrogar a identidade infante e adolescente assim como o processo de socialização e principalmente dois filósofos: Paul Ricoeur, sua narratologia e sua Hermenêutica fenomenológica;Jean-Jacques Wunemburger e sua Mitodologia. Está prevista um efeito multiplicador dos resultados através de colóquios e publicações anuais» In Resumo

«Eric Deschavanne et Pierre-Henri Tavoillot, dois professores de Filosofia da Sorbonne, depois de invalidar certas declarações de Philippe Áriès sobre o desconhecimento da infância na Idade Média, contesta igualmente a afirmação de que teria havido uma radical Invenção desta categoria social nos tempos modernos. Eles alertam também quanto à ambivalência das conquistas da nossa Modernidade a favor das crianças, conquistas estas que se iniciaram com o Cristianismo. Pois o triplo ganho em humanização, liberação e individualização pagou-se paradoxalmente a um preço muito alto. Temos hoje mais dificuldade a entender o que é a criança, o que é a sua identidade. É irrecusável que a promoção das crianças ao estatuto integral de indivíduo humano livre abriu uma caixa de Pandora, não mais sabemos o que é o adulto, o que é o fim da infância como fase da vida, nem as características de adulto. Entramos na era do Jeunisme /jovenismo, uma ideologia da juventude que repudia qualquer suspeita de ultrapassagem de uma praia da vida eternamente jovem, que comanda que devamos entrar na onda da última moda. O jeunisme que se experimenta principalmente por aqueles que teriam chegado no fim da adolescência está alicerçado numa gaya ciência para além do bem e do mal, cujo leme é: juventude além de tudo! É uma nova mentalidade que se instala. Nós a identificamos pelo jeito de pensar (se a palavra pensar não fosse desusada), de se vestir, pelo hybris pela exuberância que caracteriza os gestos, os movimentos, os encontros festivos e barulhentos, enfim pela maneira extravagante, arrogante, anti-adulto de estar-no-mundo. Essa epidemia já contaminou aqueles, Homens e Mulheres que, uns tempos atrás, hasteavam bem alto a bandeira do adulto. O amadurecimento virou uma balela. Os pequenos observando o comportamento das gerações anteriores. deram uma resposta à altura: decidiram permanecer crianças, com privilégios de gente grande. Um estranho mito de Peter Pan domina a mentalidade dos 7 a 50 anos. Perdemos a especificidade da criança; perdemos consequentemente a possibilidade de educar. Neste novo rumo das coisas, a situação da infância se complica junto ao caos que se deu nas outras fases de existência privadas de referência. Sem aderir nem à nostalgia de um hipotético outrora mais equilibrado, nem a um progressismo radical, examinaremos a questão da identidade criança nos diferentes meios de actuação, nos diferentes lugares de socialização, à luz da ficção autobiográfica, com a bússola da Mitocrítica e da Narratologia. Utilizaremos também certos recursos da Filosofia e das Ciências Humanas». In Sébastien Joachim, A invenção da infância nas narrativas autobiográficas de Lya Luft, Anais do IV Colóquio Internacional Cidadania Cultural, diálogos de gerações, 2009, Editora Eduepb, 2009, ISBN 217-6590-1.

Cortesia de EEduepb/JDACT