Cortesia
de wikipedia e jdact
Jóquei
Príncipe
no Roseiral
«Escute
lá
isto
é um poema
não
fala de amor
não
fala de cachecóis
azuis
sobre os ombros
do
cantor que suspende
os
calcanhares
na
berma do rochedo
Não
fala do rolex
nem
da bandeirola
da
federação uruguaia
de
esgrima.
Não
fala do lago drenado
na
floresta americana.
Não
diz nada sobre
a
confeitaria fedorenta
que
recebe os notívagos
para
o café da manhã
quando
o dia já virou.
Isto
é um poema
não
fala de comoções
na
missa das sete
nem
fala da percentagem
de
mulheres que se espantam
com
a imagem do marido
aparando
a barba no ocaso.
Não
fala de tractores quebrados
na
floresta americana
não
fala da ideia de norte
na
cidade dos revolucionários.
Não
fala de choro
não
fala de virgens confusas
não
fala de publicitários
de
cotovelos gastos.
Nem
de manadas de cervos.
Escute
só
isto
é um poema
não
vai alinhar conceitos
do
tipo liberdade igualdade e fé.
Não
vai ajeitar o cabelo
da
menina que trabalha
com
afinco na caixa registadora
do
supermercado.
Não
vai melhorar.
Não
vai melhorar
isto
é um poema
escute
só
não
fala de amor
não
fala de santos
não
fala de Deus
e
nem fala do lavrador
que
dedicou 38 anos
a
descobrir uma visão
quase
mística
do
homem que canta
e
atravessa
a
estrada nacional 117
para
chegar a casa
ou
a algum lugar
próximo
de casa».
In
Matilde Campilho,
Jóquei,
Coordenador da colecção Pedro Mexia, Lisboa, Edições Tinta-da-China, 2014, ISBN
978-989-671-213-6.
Cortesia
de ETintadaChina/JDACT