quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Filosofia e Espiritualidade, Educação e Pedagogia. Agostinho da Silva. Luís Carlos R. Santos. «Pérsio, poeta satírico da Roma Antiga, adepto do Estoicismo, escola filosófica grega fundada em Atenas no século III, antes da era comum, punha da defesa do estoicismo e no combate dos vícios de Roma…»

Cortesia de wikipedia e jdact

Com a devida vénia a Luís Carlos R. Santos

As Primeiras Obras (1906-1944)
«(…) Para sustentar as suas críticas a Spengler, Agostinho vai abordar um conjunto de temas sobre as civilizações clássicas que caracterizarão as suas principais obras, neste, por assim dizer, primeiro período de produção literária e científica. A comparação entre estruturas políticas das civilizações clássicas do Egipto, Grécia e Roma, a história da arte greco-latina, a tragédia grega, a evolução científica com referências ao pensamento de Anaximandro, Xenófanes e Eratóstenes, entre outros, e, por fim, um conjunto de referências às características religiosas da antiguidade clássica, a partir das quais se centrará no estudo pormenorizado da religião grega, constituem alguns dos principais temas que desenvolve neste período. Enquanto vai realizando estudos superiores, entre 1926 e 1929, o jovem Agostinho participa em A Águia, Revista da Renascença Portuguesa, onde estavam ilustres pensadores portugueses como Teixeira Pascoaes, Jaime Cortesão, Raul Proença, Leonardo Coimbra, Fernando Pessoa, António Sérgio, entre outros. Por ruptura ideológica interna Agostinho acaba por sair do Movimento, já depois de terem saído António Sérgio, Jaime Cortesão e Raul Proença.
Mas já neste período, a sua actividade de articulista é muito abundante e para lá da participação na A Águia podem encontrar-se um alargado número de artigos, de temas muito variados, em vários jornais e revistas, como são o caso do Jornal Monárquico Acção Académica, no Porto, entre o período de 1925-1926; O Comércio do Porto, entre 1925-1930; Porto Académico, jornal da Academia portuense do qual foi diretor, entre 1926-1927; A Ide’a Nacional, semanário monárquico integralista, sediado em Lisboa, em 1927; Diónysos, Revista do Porto, em 1928. Depois de ter deixado de colaborar com A Águia, Agostinho da Silva vai participar durante alguns anos com a revista Seara Nova, entre 1929 e 1938, mas sem que, durante esse período, deixasse de continuar a publicar inúmeros textos noutros jornais e revistas espalhados por vários lugares do país como Aveiro, Leiria, Figueira da Foz, Coimbra.
Com a chegada ao fim do doutoramento, a especialização obtida nos estudos sobre as civilizações clássicas e os conhecimentos aí conquistados fizeram com que Agostinho da Silva publicasse vários textos que daí advieram, desde logo das suas teses de licenciatura e de doutoramento, onde entre eles encontramos Um Breve Ensaio sobre Pérsio, em 1929, e A Religião Grega, em 1930, textos em que analisa o pensamento religioso grego e latino.
Pérsio, poeta satírico da Roma Antiga, adepto do Estoicismo, escola filosófica grega fundada em Atenas no século III, antes da era comum, punha da defesa do estoicismo e no combate dos vícios de Roma uma minuciosidade e uma veemência que não permitem falar do poeta como dum simples glosador.
Neste estudo sobre Pérsio o que se releva é como o choque entre diferentes culturas e religiões como a romana e a grega, ambas aglutinadas pelo vasto Império, põem na sua pena uma valorização da cultura grega face à cultura romana. Se militarmente os gregos foram assimilados pelos romanos, de certa forma, os romanos foram conquistados pelas ideias gregas, sobretudo por particularidades ligadas ao seu pensamento religioso, mas também como consequência do avanço que a filosofia e a ciência tiveram na cultura helénica. Ao passo que a religião romana tinha um carácter particular, nacional, era a religião do povo que pela sua vontade, pelo sóbrio viver, pelo patriotismo, passara da cidade ao império (…) as religiões estrangeiras eram essencialmente universalistas e isso explica cabalmente o êxito que obtiveram. Os romanos já mostravam tendências para o universal, acolhendo os deuses das cidades vencidas e tratando com tolerância as regiões conquistadas; desde que se tornou senhor do Império este começou formando um corpo único, solidamente ligado a Roma, o particularismo e o culto religioso que o exprimia não tinham mais razão de ser; a tendência universalista desenvolve-se de dia para dia e procura uma nova fórmula que a satisfaça. Na vastidão do Império a religião grega vai-se sobrepondo à religião romana». In Luís Carlos R. Santos, Filosofia e Espiritualidade, Educação e Pedagogia, Agostinho da Silva, U de Lisboa, F de Letras, D de Filosofia, Tese de Doutoramento, 2014, Wikipedia.

Cortesia de ULisboa/FLetras/DFilosofia/JDACT