Cortesia
de wikipedia e jdact
«A
memória no ambiente ficcional vem sendo um tema amplamente discutido na actualidade
por apresentar o passado de minorias sociais silenciadas pelo uso do poder e da
dominação. Motivadas pela luta para que tais experiências não caiam num
completo esquecimento, as configurações literárias de memória assumem papel
cada vez maior na actualidade. É neste contexto que se insere a obra Amada, de Toni Morrison, que
apresenta um resgate da experiência afro-americana do período anterior e
posterior à escravidão através de memórias. Tendo em vista tal característica,
o presente artigo tem por objectivos analisar o romance de acordo com os
conceitos de memória subterrânea,
traumática e colectiva, além de verificar quais
seriam as funções dos processos mnemónicos presentes na narrativa». In
Resumo
«Actualmente
se evidencia um crescente interesse em estudos que versam sobre a relação entre
a literatura e a memória. Tais pesquisas caracterizam-se por possuírem como
foco principal analisar e apresentar através do ambiente ficcional, o passado
de minorias sociais silenciadas pelo uso abusivo do poder e da dominação, bem
como lutar para que tais experiências não caiam num completo esquecimento. Com
o advento da pós-modernidade, as artes em geral, e a literatura em particular,
passam a acentuar as relações existentes entre aquelas áreas de estudo. Segundo
Tânia Pellegrini (2001), neste período literário ocorreu uma verdadeira crise
de paradigmas sobre a análise da realidade aliada ao fim da crença em verdades
absolutas sobre o passado, bem como uma verdadeira quebra de fronteiras entre
diferentes áreas de estudos.
Sob esta
perspectiva começam a serem publicadas obras que passaram a apresentar os
problemas presentes na sociedade, além de realizarem uma releitura do passado,
agora sob a perspectiva daqueles que foram excluídos da historiografia
tradicional. Além disso, nota-se uma significativa produção de obras elaboradas
por grupos minoritários, como foi o caso de mulheres, negros e homossexuais,
entre outros, que passaram a representar e afirmar vozes que até então eram
reprimidas e conseguem ganhar espaço e reconhecimento no cenário literário e
artístico. Aliando esse momento de mudança na literatura ao advento das
pesquisas sobre a memória, podemos destacar a importância dada aos estudos
referentes às chamadas memórias da repressão. Essas memórias estariam
intimamente ligadas à violência, à catástrofe e aos traumas provenientes do uso
da violência e repressões extremadas que vieram a estigmatizar o século XX.
No
contexto pós-moderno norte-americano, as
memórias da repressão
fazem-se presentes nas produções literárias e artísticas de escritores e
artistas negros que passaram a utilizar a arte como uma forma de crítica e
denúncia acerca dos problemas sociais inerentes à condição social dos
afro-americanos. Nas artes visuais podemos citar a artista Kara Walker que representa
nas suas obras o período da escravidão e a opressão racial naquele país após a
abolição. No meio literário, escritoras como Maya Angelou e Alice Walker
dramatizam a condição social dos afro-americanos no contexto da segregação
racial, no qual linchamentos de pessoas negras eram frequentes em todo o território
norte-americano. Será sob essa perspectiva, de aliar a arte a uma forma de
denúncia e crítica social, que irão destacar-se as obras da renomada escritora
afro-americana Toni Morrison. Com nove romances publicados, ela tornou-se
conhecida mundialmente por apresentar nas suas obras a complexidade de ser
identificado como negro em certas regiões dos Estados Unidos, como também pelo
resgate histórico acerca das injustiças cometidas contra gerações de
afro-americanos durante a escravidão e por expor uma reflexão acerca dos
problemas raciais que ainda se apresentam no contexto sócio-histórico e
cultural americano». In Ivens M. Silva e Rosani K. Umbach, Memórias
da Repressão, Uma Leitura de Amada, Toni Morrison, Revista Literatura e
Autoritanismo, nº 21, 2013, ISSN 1679-849X.
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