sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Poesia num dia ventoso. Interregno. «Desfio a poesia no baraço do peito. Na curva da cintura em fogo-fátuo. Pois na cama é poema e é papel»

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Desejo
«E se abres os olhos
de manhã
sobre o cansaço morno
dos meus olhos

desfazes o sono
sobre a lã
da sede do meu corpo
que tu colhes.

Dos nossos flancos misturados
já não se evita então
e tu sabes

a calma, a lassidão e a ternura,
que depois de tudo isso
nos invade».


A Cama
«Um pequeno prédio
morno
a nossa cama

na curva mais longa dos lençóis
mais largos e mais brancas
são as pregas
mais fundas e mais hábeis
mais cruéis.

No áspero, macio dos cobertores
é esponja sorvedoura dos nossos
dois suores
é espectadora activa
motivada

é vício, é caverna
e é pecado

é todo um lutar desenfreado
um sulco de sede
ou uma chama».
Poemas de Maria Tereza Horta, in ‘As Palavras do Corpo

In Maria Tereza Horta, As Palavras do Corpo, Publicações dom Quixote, Lisboa, 2014, ISBN 978-972-204-903-0.

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