quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Uma Rainha Inesperada. Isabel Pina Baleiras. « Mas dona Maria acabou por engravidar e Leonor de Gusmão temeu que a rainha desse a Afonso o desejado filho legítimo, facto que impediria que um dos seus ascendesse à Coroa»

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O Pai de dona Leonor em Castela
«(…) Dona Maria, filha de Afonso IV de Portugal, celebrou as suas bodas de casamento com Afonso XI, rei de Castela, em Alfaiates, no ano de 1328, e em 1333, na cidade de Burgos, o casal foi coroado. O consórcio não terá sido feliz, pois o monarca, dois anos depois de casar, não conseguindo que Maria engravidasse, iniciou uma relação amorosa com uma fidalga, Leonor Nunes Gusmão, de quem veio a ter muitos filhos. Esta relação manteve-se até ao final da vida de Afonso, apesar dos esforços dos seus vassalos e do seu sogro para que findasse. Leonor era a sua conselheira e exercia sobre ele e sobre o reino o verdadeiro poder. Reza a crónica que era em casa dela que Afonso XI reunia o seu Conselho e desembargava os assuntos do reino. Leonor estava rodeada dos melhores prelados e ricos-homens do reino, que lhe beijavam a mão e a tratavam como se ela fosse rainha de Castela. Quando o monarca partia em campanhas contra os mouros ou estava fora por outras razões, os oficiais de justiça e de chancelaria ficavam com ela.
Mas dona Maria acabou por engravidar e Leonor de Gusmão temeu que a rainha desse a Afonso o desejado filho legítimo, facto que impediria que um dos seus ascendesse à Coroa. Para evitar tal episódio, Leonor de Gusmão encomendou um feitiço a uma moura capaz de matar dona Maria e o seu rebento. No entanto, depois de dez dias e oito horas de parto agonizante, a rainha foi socorrida por um físico e astrólogo judeu que o monarca mandara chamar e que foi capaz de quebrar o encantamento. O infante Pedro, futuro Pedro I de Castela, o Cruel, nascia, pois, a 21 de Agosto de 1333. Apesar da alegria com que Afonso XI acolheu este acontecimento, a relação com a concubina manteve-se até ao final da sua vida. A rainha era preterida, recebendo Leonor Gusmão muitas das terras que tradicionalmente costumavam ser entregues às consortes legítimas dos monarcas de Castela.
Os melhores oficiais da rainha dona Maria foram-lhe retirados pelo próprio marido e alguns foram entregues aos filhos de Leonor Gusmão. A crónica fez menção de que um dos que saiu foi Rodrigo Álvares Astúrias, mordomo-mor de dona Maria, mas não indicou se foi servir os bastardos do rei. Ora, para nós, é importante registar que, por volta de 1333, a rainha ficou sem o seu mordomo-mor, já que sabemos que Martim Afonso Telo, pai de dona Leonor Teles, veio a ocupar este cargo, talvez logo nesta ocasião, ou apenas em 1340, conforme aventou Monteiro Machado. Este estudioso propôs esta data baseando-se na hipótese de que a formosíssima dona Maria, rainha de Castela, teria recrutado para seu mordomo-mor o dito Martim Afonso Telo ao vir a Évora pedir ao pai com grande humildade e muitas lágrimas auxílio militar na batalha (a dita Batalha do Salado) que o marido iria travar contra os reis de Marrocos e de Granada. Anselmo Braamcamp Freire acrescentou, por seu lado, que Martim Afonso Telo se veio a tornar amante da rainha de Castela, a infeliz dona Maria de Portugal.
Assim, tem sido relativamente consensual na historiografia portuguesa aceitar que os pais de dona Leonor Teles viveram em Castela, entre 1340 e 1356, (ano em que Martim Afonso Telo foi assassinado) e que os seus filhos terão lá vivido e talvez até nascido. A nossa investigação, porém, propõe-nos datas e convicções diferentes. Primeiro: lendo com atenção a crónica do rei Pedro, de Pero López Ayala, e não possuindo outras fontes, julgamos que Martim Afonso Telo passou a estar ao serviço da rainha dona Maria, em 1354, que morreu, de facto, em 1356, e que, durante este período, é provável que os dois tenham sido amantes. Segundo: consideramos muito possível que dona Leonor Teles tenha nascido em Portugal, possivelmente em Trás-os-Montes, como Fernando afiançou». In Isabel Pina Baleiras, Uma Rainha Inesperada, Leonor Teles, Temas e Debates, Círculo de Leitores, 2013, ISBN 978-989-644-230-9.

Cortesia de CLeitores/Temas e Debates/JDACT