Cortesia
de wikipedia e jdact
«Jovens!
Com a sua pressa e preocupação e vontade de ter todas as respostas agora.
Eles cansam-me, os pobres cheios de stress.
Não voltem, eu sempre digo para eles. Não voltem. A juventude ainda
está onde vocês a deixaram e é lá que deve ficar. Qualquer
coisa que valha a pena ser levada na jornada da vida já vai estar convosco. Há
vinte anos eu digo isto, mas eles escutam? Escutam nada. Lá vem mais um agora. Ofegando
e bufando quando chega ao alto da colina. Trinta e tantos anos, eu diria.
Bastante atraente com o céu azul ao fundo. Parece-se um pouco com um político.
Eu disse isso mesmo? Talvez actor de cinema. Não me lembro do rosto dele do
passado. Não que isso queira dizer alguma coisa. Actualmente, quase nem me
lembro do meu próprio rosto quando tenho um vislumbre no espelho. Consigo ver o
olhar desse sujeito avaliando o ambiente, observando-me, sentando-se na minha
cadeira sob a minha oliveira favorita. Você é o Arthur?, pergunta ele
abruptamente. Acertou. Eu examino-o com atenção. Parece abastado. Está usando
uma daquelas camisas polo de grife.
Provavelmente a fim de alguns uísques duplos. Quer uma bebida?, ofereço de
maneira agradável. Sempre ajuda a levar a conversa na direcção do bar desde
cedo. Não quero uma bebida, diz ele. Quero saber o que aconteceu. Não consigo
deixar de sufocar um bocejo. Tão previsível. Ele quer saber o que aconteceu. Outro
banqueiro de investimentos em crise de meia-idade, voltando à cena da
juventude. A cena do crime. Deixe onde estava, eu quero responder. Dê
meia-volta. Volte para a sua vida adulta e problemática, porque não vai
resolver nada aqui. Mas ele não acreditaria em mim. Eles nunca acreditam. Bom
rapaz, digo com gentileza. Você cresceu. Foi isso que aconteceu. Não, nega ele
com impaciência e esfrega a testa suada. Você não entende. Estou aqui por um
motivo. Escute-me. Ele aproxima-se alguns passos, uma altura e forma impressionantes
contra o sol, com o belo rosto tomado de determinação. Estou aqui por um motivo,
repete ele. Eu não ia me envolver, mas não consigo evitar. Tenho que fazer
isso. Preciso saber o que exactamente aconteceu…
Comprei um anel de noivado para ele. Será que foi
um erro? Não é um anel de garota. É um aro simples com um pequenino
diamante, que o vendedor da loja me convenceu a incluir. Se Richard não gostar
do diamante, sempre pode girar o anel. Ou não usar. Guardar na mesa de
cabeceira ou numa caixa, sei lá. Ou eu poderia devolver e nunca falar sobre
isso. Na verdade, estou perdendo a confiança quanto ao anel a cada minuto, mas
senti-me mal por ele não ter nada. Homens não se dão muito bem em pedidos de
casamento. Eles precisam planear o momento, precisam apoiar-se num joelho,
precisam de fazer a pergunta e precisam de comprar um anel. E o que nós temos
que fazer? Dizer sim. Ou não, obviamente. Eu pergunto-me que
proporção de pedidos de casamento termina em sim e que proporção termina
em não. Abro a boca automaticamente para compartilhar esse pensamento
com Richard, mas fecho-a depressa. Idiota. Perdão? Richard levanta o olhar. Nada!
Dou um sorriso largo. É só…, um óptimo cardápio! Eu pergunto-me se ele já
comprou um anel. Não me importo se tiver comprado ou não. Por um lado, é
incrivelmente romântico se ele tiver comprado. Por outro, é incrivelmente
romântico escolhermos juntos. Saio a ganhar de qualquer jeito. Tomo um gole de
água e sorrio com amor para Richard. Ocupamos uma mesa de canto com vista para
o rio. É um restaurante novo na the Strand, pouco depois do
Savoy. Todo em mármore preto e branco, e com candelabros vintage e
cadeiras verde-claras com botões no estofamento. É elegante, mas não
espalhafatoso. O lugar perfeito para um pedido de casamento no horário do
almoço. Estou usando uma blusa branca simples ao estilo futura noiva, uma saia estampada,
e gastei um pouco mais com meias sete oitavos de qualidade, do tipo que
não precisa de cinta-liga, para o caso de decidirmos consolidar o pedido mais
tarde. Nunca usei meias sete oitavos antes. Mas
também nunca fui pedida em casamento. Aah, talvez ele tenha reservado um quarto
no Savoy. Não. Richard não é exagerado assim. Ele jamais faria um gesto
ridículo e desproporcional. Um bom almoço, sim; um quarto de hotel é caro
demais, não. E respeito isso. Ele parece nervoso. Está mexendo nos bolsos,
verificando o telefone móvel e girando a água no copo. Quando me vê
observando-o, ele também sorri. E aí? E aí? É como se estivéssemos falando em
código, dando voltas ao redor do verdadeiro assunto. Mexo no guardanapo e
ajeito a cadeira. Essa espera é insuportável. Por que ele não acaba logo com
isso? Não, eu não quis dizer acabar logo com isso. É claro que não. Não
é uma vacina. É… Bem, o que é? É um começo. Um primeiro passo. Nós dois
embarcando numa grande aventura juntos. Porque queremos encarar a vida como uma
equipa. Porque não conseguimos pensar na outra pessoa com quem preferiríamos
compartilhar a jornada. Porque eu o amo e ele me ama. Já estou ficando
com os olhos húmidos. Não tem jeito. Estou assim há dias, desde que me dei conta
do que ele estava pretendendo. Ele é bem severo, o Richard. Estou falando de
uma maneira boa e amorosa. Ele é directo e objectivo, e não faz joguinhos. Nem
elabora grandes surpresas do nada. No meu último aniversário, ele começou,
muito tempo antes, a dar pistas de que o presente dele seria uma viagem
surpresa, o que foi o ideal, porque eu sabia que tinha que usar a minha mala e
colocar algumas coisas dentro». In
Sophie Kinsella, A lua de mel, tradução de Regiane Winarski, ePub, Editora
Record, CDU 821.111-3, São Paulo, 2013, ISBN 978-850-110-132-7.
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