domingo, 14 de fevereiro de 2016

A lua de mel. Sophie Kinsella. « Foi isso que aconteceu. Não, nega ele com impaciência e esfrega a testa suada. Você não entende. Estou aqui por um motivo. Escute-me…»

Cortesia de wikipedia e jdact

«Jovens! Com a sua pressa e preocupação e vontade de ter todas as respostas agora. Eles cansam-me, os pobres cheios de stress. Não voltem, eu sempre digo para eles. Não voltem. A juventude ainda está onde vocês a deixaram e é lá que deve ficar. Qualquer coisa que valha a pena ser levada na jornada da vida já vai estar convosco. Há vinte anos eu digo isto, mas eles escutam? Escutam nada. Lá vem mais um agora. Ofegando e bufando quando chega ao alto da colina. Trinta e tantos anos, eu diria. Bastante atraente com o céu azul ao fundo. Parece-se um pouco com um político. Eu disse isso mesmo? Talvez actor de cinema. Não me lembro do rosto dele do passado. Não que isso queira dizer alguma coisa. Actualmente, quase nem me lembro do meu próprio rosto quando tenho um vislumbre no espelho. Consigo ver o olhar desse sujeito avaliando o ambiente, observando-me, sentando-se na minha cadeira sob a minha oliveira favorita. Você é o Arthur?, pergunta ele abruptamente. Acertou. Eu examino-o com atenção. Parece abastado. Está usando uma daquelas camisas polo de grife. Provavelmente a fim de alguns uísques duplos. Quer uma bebida?, ofereço de maneira agradável. Sempre ajuda a levar a conversa na direcção do bar desde cedo. Não quero uma bebida, diz ele. Quero saber o que aconteceu. Não consigo deixar de sufocar um bocejo. Tão previsível. Ele quer saber o que aconteceu. Outro banqueiro de investimentos em crise de meia-idade, voltando à cena da juventude. A cena do crime. Deixe onde estava, eu quero responder. Dê meia-volta. Volte para a sua vida adulta e problemática, porque não vai resolver nada aqui. Mas ele não acreditaria em mim. Eles nunca acreditam. Bom rapaz, digo com gentileza. Você cresceu. Foi isso que aconteceu. Não, nega ele com impaciência e esfrega a testa suada. Você não entende. Estou aqui por um motivo. Escute-me. Ele aproxima-se alguns passos, uma altura e forma impressionantes contra o sol, com o belo rosto tomado de determinação. Estou aqui por um motivo, repete ele. Eu não ia me envolver, mas não consigo evitar. Tenho que fazer isso. Preciso saber o que exactamente aconteceu…
Comprei um anel de noivado para ele. Será que foi um erro? Não é um anel de garota. É um aro simples com um pequenino diamante, que o vendedor da loja me convenceu a incluir. Se Richard não gostar do diamante, sempre pode girar o anel. Ou não usar. Guardar na mesa de cabeceira ou numa caixa, sei lá. Ou eu poderia devolver e nunca falar sobre isso. Na verdade, estou perdendo a confiança quanto ao anel a cada minuto, mas senti-me mal por ele não ter nada. Homens não se dão muito bem em pedidos de casamento. Eles precisam planear o momento, precisam apoiar-se num joelho, precisam de fazer a pergunta e precisam de comprar um anel. E o que nós temos que fazer? Dizer sim. Ou não, obviamente. Eu pergunto-me que proporção de pedidos de casamento termina em sim e que proporção termina em não. Abro a boca automaticamente para compartilhar esse pensamento com Richard, mas fecho-a depressa. Idiota. Perdão? Richard levanta o olhar. Nada! Dou um sorriso largo. É só…, um óptimo cardápio! Eu pergunto-me se ele já comprou um anel. Não me importo se tiver comprado ou não. Por um lado, é incrivelmente romântico se ele tiver comprado. Por outro, é incrivelmente romântico escolhermos juntos. Saio a ganhar de qualquer jeito. Tomo um gole de água e sorrio com amor para Richard. Ocupamos uma mesa de canto com vista para o rio. É um restaurante novo na the Strand, pouco depois do Savoy. Todo em mármore preto e branco, e com candelabros vintage e cadeiras verde-claras com botões no estofamento. É elegante, mas não espalhafatoso. O lugar perfeito para um pedido de casamento no horário do almoço. Estou usando uma blusa branca simples ao estilo futura noiva, uma saia estampada, e gastei um pouco mais com meias sete oitavos de qualidade, do tipo que não precisa de cinta-liga, para o caso de decidirmos consolidar o pedido mais tarde. Nunca usei meias sete oitavos antes. Mas também nunca fui pedida em casamento. Aah, talvez ele tenha reservado um quarto no Savoy. Não. Richard não é exagerado assim. Ele jamais faria um gesto ridículo e desproporcional. Um bom almoço, sim; um quarto de hotel é caro demais, não. E respeito isso. Ele parece nervoso. Está mexendo nos bolsos, verificando o telefone móvel e girando a água no copo. Quando me vê observando-o, ele também sorri. E aí? E aí? É como se estivéssemos falando em código, dando voltas ao redor do verdadeiro assunto. Mexo no guardanapo e ajeito a cadeira. Essa espera é insuportável. Por que ele não acaba logo com isso? Não, eu não quis dizer acabar logo com isso. É claro que não. Não é uma vacina. É… Bem, o que é? É um começo. Um primeiro passo. Nós dois embarcando numa grande aventura juntos. Porque queremos encarar a vida como uma equipa. Porque não conseguimos pensar na outra pessoa com quem preferiríamos compartilhar a jornada. Porque eu o amo e ele me ama. Já estou ficando com os olhos húmidos. Não tem jeito. Estou assim há dias, desde que me dei conta do que ele estava pretendendo. Ele é bem severo, o Richard. Estou falando de uma maneira boa e amorosa. Ele é directo e objectivo, e não faz joguinhos. Nem elabora grandes surpresas do nada. No meu último aniversário, ele começou, muito tempo antes, a dar pistas de que o presente dele seria uma viagem surpresa, o que foi o ideal, porque eu sabia que tinha que usar a minha mala e colocar algumas coisas dentro». In Sophie Kinsella, A lua de mel, tradução de Regiane Winarski, ePub, Editora Record, CDU 821.111-3, São Paulo, 2013, ISBN 978-850-110-132-7.

Cortesia de ERecord/JDACT