quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Poesia Provençal. Textos. Graça Lopes. «… dá início a um dos movimentos literários e culturais mais importantes e fecundos da cultura europeia, a chamada poesia provençal»

Cortesia de wikipedia

Breve Nota Sobre A Poesia Provençal
«No início do século XII, Guilherme, 7º conde de Poitiers e 9º duque da Aquitânia, um dos maiores senhores da Europa da época, dá início a um dos movimentos literários e culturais mais importantes e fecundos da cultura europeia, a chamada poesia provençal. Escrevendo (e cantando) em língua vulgar (a língua do vulgo) e já não em latim, prática corrente das elites culturais até à data, Guilhem de Peiteus constrói igualmente os alicerces sobre os quais se vai edificar não só a poesia trovadoresca medieval, que da Provença se alarga a inúmeros países europeus, mas toda a poesia ocidental posterior. Trata-se, na verdade, de um temps novel, como ele canta no que se crê ser a sua primeira canso, um tempo onde a poesia e o canto inventam uma refinada cultura profana (por oposição à cultura eclesiástica dominante), em formas artísticas inovadores e magnificamente trabalhadas, mas também na definição de novos valores de sociabilidade, nomeadamente no que diz respeito à arte de amar: o fin’amor (que a tradução usual, amor cortês, simplifica demasiado)»

Guilhem de Poitiers (1071-1127)
«Com a doçura do tempo novo
florescem os bosques e as aves
cantam cada uma delas no seu latim
segundo os versos do novo canto;
convém portanto que se ocupe assim
cada um daquilo que mais anseia.

Dali, da melhor e mais bela morada,
não vem mensageiro nem carta selada,
pelo que o meu corpo não dorme nem ri
e nem mesmo ouso seguir adiante,
até que saiba bem desse fim,
se ele é assim como eu reclamo.

Com o nosso amor acontece assim
como com o ramo do branco-espinho
que está sobre a árvore tremendo
à noite, à chuva e ao gelo,
até ao novo dia, quando o sol se expande
pelas folhas verdes e o ramo.

Lembro-me ainda de uma manhã
em que pusemos à guerra fim
e em que me deu um dom tão grande:
o seu corpo amado e o seu anel;
que Deus me deixe viver o bastante
para ter minhas mãos sob o seu mantel!

E caso não farei de estranho latim
que me afaste do meu Bom Vizinho:
pois sei de palavras como vão
num breve discurso que se espalha…
Que alguns se vão de amor gabando
mas nós temos a carne e o cutelo».

In Graça Videira Leal, Poesia Provençal, alguns textos, Revista Medievalista, director Vasconcelos Sousa, Ano 2, Nº 2, Instituto de Estudos Medievais, FCSH-UNL, FCT, 2006, ISSN 1646-740X.

Cortesia de RMedievalista/JDACT