quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Afonso. 4º conde de Ourém. Alexandra Barradas. «… da obra quatrocentista podemos ainda ver a grande varanda voltada a sul e o pátio interior, originalmente porticado, de que restam alguns elementos de suporte de desenho muito original, assim como é possível ter ainda uma ideia global da intervenção levada a cabo no século XV»


Cortesia de wikipedia e jdact

«(…) O 4º conde de Ourém realizou ao longo da sua vida cinco grandes viagens, quatro no âmbito de missões diplomáticas e a última em missão militar: em 1429-30 viajou pela Flandres e pela Alemanha, fazendo parte da comitiva que acompanhou a Infanta dona Isabel aos Países Baixos, para casar com Filipe, o Bom, duque da Borgonha; em 1431 esteve no reino de Aragão, possivelmente a negociar o acordo de paz entre Navarra, Aragão e Portugal, assinado em Torres Novas a 11 de Agosto de 1432; em 1436-38 foi o responsável pela embaixada portuguesa ao Concílio de Basileia, tendo viajado por Itália e ido, finda a missão, até à Terra Santa; em 1451-52, estadeou novamente por Itália, tendo sido o responsável da comitiva que foi até Roma com a infanta dona Leonor, irmã de Afonso V, casar com o imperador do Sacro Império Germânico, Frederico III; ao que tudo indica, terá depois acompanhado a noiva até à Alemanha; e em 1458, foi o responsável pela organização, no Porto, de uma das armadas da expedição a Marrocos, tendo tomado parte da conquista de Alcácer Ceguér, ao lado de Afonso V, seu primo e último rei que serviu.
A razão pela qual considerámos importante estudar as viagens que o 4º conde Ourém realizou, prende-se como facto deste nobre ter edificado entre 1436 e 1455, nos seus domínios, uma notável e singular obra mecenática, numa acção irrepetível em grandeza e originalidade para a época, que se materializou na remodelação urbana de Ourém, sua vila condal, com a redefinição do perímetro muralhado, a construção de uma fonte pública, um paço e uma colegiada, da edificação de um outro paço em Porto de Mós, remodelando para tal o primitivo castelo românico, e a encomenda e aquisição de obras de arte, nomeadamente um Relicário (notável peça da ourivesaria portuguesa do século XV, é de tipo invulgar, pois alia a existência da habitual arca a um pé mais próprio de custódia que de qualquer outro objecto de culto) em prata dourada, destinadas a embelezar e engrandecer as obras de arquitectura por ele edificadas (a antiga vila de Ourém é actualmente uma das freguesias do concelho de Vila Nova de Ourém, Nossa Senhora das Misericórdias: o antigo aglomerado, situado no alto de um morro com 328m de altura, perdeu importância a partir do final do século XVIII, pois o terramoto de 1755 quase que o destruiu por completo, obrigando a população a mudar-se para a freguesia mais próxima, a Aldeia da Cruz, situada no sopé do monte e que a partir de1841 passou a ser a nova sede do concelho; o perímetro da antiga Ourém, praticamente inalterado desde então e cuja definição ficou estabelecida desde as obras levadas a cabo por Afonso, permite ter uma ideia muito aproximada de como era esta singular vila no século XV; a Fonte pública apresenta-se muito bem conservada e ainda hoje da sua bica jorra abundante e fresca água; o edifício da Colegiada ruiu por completo em 1755, tendo o actual sido construído entre 1760 e 1770, com projecto de Carlos Mardel; da construção original apenas restou a Cripta, onde o 4º conde de Ourém foi sepultado em 1487, num túmulo de autoria de Diogo Pires-o-Velho; o Paço que Afonso mandou edificar junto ao primitivo castelo da vila, constituído pelo edifício de habitação propriamente dito e duas torres baluarte que assentam na muralha, apesar de bastante danificado revela uma imagem de grandiosidade que marca a paisagem; as torres foram restauradas durante os anos 40-50 do século XX e apresentam-se num razoável estado de conservação; o mesmo não se pode dizer de significativos troços da muralha. Quanto ao edifício do paço, não tem cobertura e o interior está quase totalmente esventrado; resta apenas um pavimento, a que se pode aceder, com algumas paredes interiores onde é ainda possível ver algumas portas com o respectivo aro, paredes exteriores com a marcação dos respectivos vãos, algumas conversadeiras e vestígios de lareiras; no conjunto sobressai um original e razoavelmente bem conservado friso decorativo, aposto na fachada norte do edifício, assim como uma varanda e respectivos apoios que o rematam; quanto ao paço que Afonso mandou edificar em Porto de Mós, remodelando o interior do primitivo castelo românico, estava no início do século XIX quase completamente caído por terra; foi alvo do interesse da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais que nele levaram a cabo, a partir dos anos 30 do século XX, obras de restauro que se prolongaram por mais de 50 anos; algumas intervenções, nos anos 40-50 fizeram desaparecer para sempre muito do que tinha resistido à degradação que o tempo e os homens exerceram; da obra quatrocentista podemos ainda ver a grande varanda voltada a sul e o pátio interior, originalmente porticado, de que restam alguns elementos de suporte de desenho muito original, assim como é possível ter ainda uma ideia global da intervenção levada a cabo no século XV)». In Alexandra Leal Barradas, D. Afonso, 4º conde de Ourém, Revista Medievalista, director Vasconcelos Sousa, Ano 2, Nº 2, Instituto de Estudos Medievais, FCSH-UNL, FCT, 2006, ISSN 1646-740X.

Cortesia de RMedievalista/JDACT