sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Os Banqueiros de Deus. Gerald Posner. «Os primeiros investimentos de Nogara no pós-guerra foram no sector da construção, que acreditou ser o primeiro a recuperar já que as cidades destruídas e as infraestruturas demolidas…»

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Não é papa nenhum
«(…) Henri de Maillardoz, banqueiro do Credit Suisse com a base de operações em Genebra, foi outro dos primeiros banqueiros estrangeiros. Nogara confiara-lhe os investimentos da Igreja. Cosmopolita e distante, Maillardoz conhecia Nogara desde 1925. Foi o responsável pela decisão de consolidar algumas das reservas de ouro europeu da Igreja no Credit Suisse, o seu empregador anterior. Quando Nogara enfrentou os Aliados pela inclusão do Sudameris numa lista negra, enviou Maillardoz a Washington em Novembro de 1942 para fazer um apelo aos responsáveis pelo Departamento do Tesouro. No final da guerra, Pio conferira-lhe um título nobiliárquico honorário de marquês e foi nomeado secretário da Administração Especial e consultor especial de Bernardino. Foi Maillardoz o banqueiro cuja visita ao Vaticano no início da década de trinta alarmou o cardeal Domenico Tardini. Tardini receara que a simples presença de um banqueiro suíço fosse um presságio de que Nogara estaria prestes a envolver-se em especulação financeira proibida. O conflito motivado pela dimensão permissível do trabalho de Nogara tornou-se uma memória distante. Havia poucas restrições regendo o investimento além daquelas que o IOR decretava sobre si mesmo. Nogara e a sua equipa sabiam que os Balcãs e a Europa de Leste estavam fora do seu alcance enquanto permanecessem sob controlo de governos fantoche soviéticos. A Europa Ocidental protegida pelo manto da defesa nuclear americana, nunca estivera tão segura. Mas concordaram que o melhor investimento seria no país que melhor conheciam: Itália. Com a vitória democrata-cristã e a firmeza da aliança com os Estados Unidos, concluíram que era uma oportunidade rara. Itália estava, sem dúvida, no mesmo estado lamentável do resto do continente, arrasada pela recessão, pela inflação e pelo desemprego. Mas a equipa do Vaticano acreditava que o enorme influxo de biliões do Plano Marshall alimentaria um surto de reconstrução, revigorando a economia estagnada. Muitas empresas italianas de topo estavam disponíveis a preço de saldo, depois de o preço das suas acções ter sido devastado.
Os primeiros investimentos significativos de Nogara no pós-guerra foram no sector da construção, que acreditou ser o primeiro a recuperar já que as cidades destruídas e as infraestruturas demolidas precisavam de ser reconstruídas. Em 1949, a Igreja comprou quinze por cento da Società Generale Immobiliare (SGI), uma das holdings de construção e imobiliário mais antigas do país (alcançaria uma quota de mercado dominante ao longo de vários anos). Em seguida, o IOR investiu na Italcementi, a fábrica de cimentos em condição lastimável. Falta de alimento generalizada aliada a perturbações agrícolas motivaram fomes e aumentos dramáticos no preço dos bens de primeira necessidade. O Vaticano investiu nos sectores alimentar e agrícola. Nogara tornara-se administrador de uma das maiores empresas agrícolas italianas e a Igreja adquiriu uma participação em explorações de grande dimensão no mesmo sector, além de quatro unidades agrícolas. Os comunistas alegariam mais tarde que a Igreja detinha um controlo monopolista do fabrico de fertilizantes usando-o para explorar os agricultores italianos e para obter lucros gigantescos.
O IOR expandiu-se para lá destes sectores, com investimentos em empresas italianas de reputação sólida, incluindo a Italgas (gás natural), a Società Finanziaria Telefonica (telecomunicações), a Finelettrica (eletricidade), a Finmeccanica (defesa) e a Montecatini (minas). Nogara adquirira ainda quatro fábricas têxteis em dificuldades por preços reduzidos (Giuseppe Volpi, antigo ministro de Mussolini e amigo de longa data de Nogara, recomendara a partir do seu exílio suíço em 1947 as empresas a monsenhor di Jorio como bons investimentos a longo prazo). Nogara fundiu as quatro fábricas numa nova entidade, a SNIA Viscosa. Confiante de que qualquer recuperação incluiria o scetor financeiro, a equipa de Nogara iniciou uma onda de compras sucessivas de bancos italianos. Em 1950, o IOR detinha uma participação maioritária em setenta e nove bancos do país, de hordings de grande dimensão como a Mediobanca sustentada pelos Aliados a pequenos bancos regionais. Nenhum outro investidor detinha uma participação mais significativa nas finanças italianas do pós-guerra do que a Igreja. Alguns dos investimentos de Nogara, como a Italcementi, transformaram-se em equidade adicional no sector financeiro, enquanto formava a sua hording própria e adquiria bancos a partir do início dos anos sessenta». In Gerald Posner, Os Banqueiros de Deus, 2015, Editora Self-Desenvolvimento Pessoal, 2015, ISBN 978-989-878-155-0.

Cortesia de Self/JDACT