domingo, 7 de fevereiro de 2016

Século XIV. Vida de Santa Maria Madalena. Texto Anónimo. «O gnosticismo foi uma doutrina que inspirou a formação de um conjunto de seitas cristãs, condenadas pela Igreja como heterodoxas, sobretudo nos três primeiros séculos de nossa era»

Cortesia de wikipedia

«Maria de Magdala, ou Maria Madalena, é a figura feminina mais citada no Novo Testamento, ainda mais que a Virgem. Além disso, é personagem importante na cena da ressurreição de Cristo. No Evangelho segundo Mateus ela é mencionada directamente duas vezes. Em Mt. 27,56, na cena da crucificação, é a primeira a ser nomeada entre as mulheres que acompanhavam Jesus desde a Galileia, e em Mt. 28,1, no relato da ressurreição, ocasião em que Jesus aparece às mulheres e ordena que dêem a notícia aos apóstolos e que estes sigam até a Galileia, é novamente lembrada em primeiro lugar: Maria Madalena e a outra Maria foram ver o sepulcro. Marcos refere-se a ela quatro vezes. Na cena da crucificação, em Mc. 15,40-41, ela é mais uma vez identificada como parte do grupo de mulheres que seguiam a Jesus desde a Galileia e é citada, também, em primeiro lugar: estavam também ali algumas mulheres, observando de longe; entre elas Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, o menor, e de José, e Salomé. Um pouco mais à frente, em Mc. 15,47, ela é apontada como testemunha do enterro: ora, Maria Madalena, e Maria, mãe de José, observaram onde ele foi posto. O relato da ressurreição segundo o Evangelho de Marcos é o que dá mais importância a Madalena. Ela é destacada duas vezes: em Mc. 16,1, ela aparece indo comprar aromas com outras mulheres para embalsamar Jesus; e em Mc. 16,9 afirma-se: havendo ele ressuscitado de manhã cedo no primeiro dia da semana, apareceu primeiro a Maria Madalena, da qual expelira sete demónios. O Evangelho segundo Lucas faz alusões directas e indirectas a Maria Madalena. Em Lc. 8,2-3 ela é mencionada como uma das mulheres que seguiam Jesus; dela saíram sete demónios; e, junto a outras mulheres, prestava assistência a Cristo com os seus bens. Em Lc. 23, nos relatos da morte e enterro de Jesus, ela figura como uma das discípulas que o acompanhavam desde a Galileia, primeiro assistindo à crucificação e, depois, preparando aromas e bálsamos para ungir o corpo do mestre. Por fim, em Lc. 24,10, Madalena é a primeira a ser enumerada entre as mulheres que vão levar as boas novas da ressurreição: eram Maria Madalena, Joana e Maria, mãe de Tiago; também as demais que estavam com elas confirmaram estas coisas aos apóstolos. É só no Evangelho segundo João que Madalena não é nomeada em primeiro lugar dentre aquelas que assistem à crucificação de Jesus: e junto à cruz estavam a mãe de Jesus, e a irmã dela, Maria, mulher de Cleopas, e Maria Madalena. Na segunda vez em que é citada, em Jo. 20,1, Madalena vai ao sepulcro de madrugada e encontra a pedra que o fechava revolvida, indo avisar o acontecido a dois discípulos. Ou seja, ela é a protagonista do relato presente em Jo. 20,11-18, quando, sozinha, chorando ao pé do túmulo, primeiro vê dois anjos e depois o próprio Jesus, que conversa com ela. São estas as informações sobre Maria Madalena contidas no Novo Testamento. A partir desses dados bíblicos, podemos reconstruir alguns aspectos da sua biografia: Maria Madalena era uma mulher de posses que vivia na cidade de Magdala; após uma experiência religiosa, tornou-se discípula de Jesus, acompanhando-o nas suas viagens, junto a outros discípulos, homens e mulheres, e inclusive financiando-o. Pela forma como é nomeada, é possível inferir que possuía uma situação familiar incomum no seu tempo. Diferentemente de outras mulheres das Escrituras, ela é identificada pelo seu lugar de origem ao invés da referência a um homem, forma de designação mais usada para as mulheres neste momento. Sendo Maria relacionada somente à sua cidade, Magdala, aliás, de onde deriva o nome Madalena, é provável que ela fosse uma mulher solteira e independente. Ainda que sejam escassas as informações sobre Madalena, se comparadas às de outros personagens bíblicos, não é isento de significado o facto de que ela é tratada mais vezes do que qualquer outra mulher no Novo Testamento e, na maioria delas, em primeiro lugar. Assim, sua figura despertou interesse e levou a exegese e à tradição posterior a adicionar muitos outros elementos a esta personagem, tornando-a mais complexa.

Maria Madalena nos Evangelhos Gnósticos
O gnosticismo foi uma doutrina que inspirou a formação de um conjunto de seitas cristãs, condenadas pela Igreja como heterodoxas, sobretudo nos três primeiros séculos de nossa era. Embora as diversas seitas gnósticas possuíssem divergências, tinham em comum o dualismo, que identificava o mal com a matéria, e consideravam o bem como uma essência espiritual acessível apenas aos que detinham a gnose (termo grego que significa conhecimento superior das coisas divinas), do que decorria a crença na salvação do homem justamente a partir da rejeição da carne».In A Idade Média em Textos, Texto Anónimo, Século XIV, Andréia Frazão Silva, Carolina Fortes, Fabrícia Carvalho, Maria Leandro Pereira, Shirlei Araújo Freitas, Vida de Santa Maria Madalena, , Universidade Federal do Rio de Janeiro, Programa Estudos Medievais, Edição Márcia Martins, 2002, ISBN 858-859-702-0.

Cortesia de UFRJaneiro/JDACT