sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Mundos. Joe Haldeman. «Durante os nove anos seguintes, centenas de rajadas nucleares cuidadosamente calculadas deformaram a sua órbita curvando-a na direcção da Terra»

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Um romance do futuro que se avizinha
«… serás acima de tudo alegre e jovem.
Pois, se fores jovem, seja qual for a vida que tiveres
serás tu mesmo; e sendo alegre
não importa o que a vida te trouxer.
A juventude nada mais poderá ter do que precisa:
fruir inteiramente o seu amor
cujo mistério faz a carne criar espaço
e o espírito abandonar o tempo.
Que penses sempre deus o não permita
(e em sua mercê) se doa daquele a quem amares:
pois doutra forma o saber mente
essa tumba fetal chamada progresso.
E se o negares absolverás a morte.
Prefiro aprender de um pássaro a cantar
do que ensinar a mão bailar milhões de estrelas». In e. e.cummings

«O mundo não acabou no século XX. Não obstante, foi bastante maltratado e durante a maior parte do século seguinte as cicatrizes físicas do passado recente foram parte importante da paisagem humana; talvez mais importante do que os prodígios actuais ou as expectativas futuras. Muita gente, embora não a maioria, pensou que a única e verdadeira esperança para a raça humana estava nos Mundos: as colónias orbitais cuja população, cerca dos anos oitenta, se aproximava do meio-milhão. Parecia que os Mundos davam à humanidade um lugar para começar de novo, uma ardósia para escrever, um sítio sem limites para que a raça se expandisse. Era o que achava muita gente dos Mundos, e alguma da Terra. Chamavam-lhe os Mundos, por conveniência, não como expressão que contivesse qualquer grau de autonomia política votada a um objectivo comum. Alguns, como Salyut e Uchüden, eram simples colónias, com populações ainda leais aos países que as haviam fundado. Outros deviam primordialmente a sua lealdade a associações, tais como a Bellcom ou a Skyfac ou, até, a uma igreja. Eram quarenta e um Mundos, cujo tamanho ia de pequenos laboratórios à vasta Nova Nova Iorque, que abrigava um quarto de milhão de pessoas.
Nova Nova era politicamente independente, pelo menos no papel. Mas após quarenta anos de exportação de energia e materiais, sustentava ainda enormes dívidas para com os Estados Unidos da América e o Estado de Nova Iorque. Em 2010 tinha parecido um bom investimento a longo prazo, visto que centrais de energia em escala menor, como o Mundo de Devon (então designado por O'Neill), estavam a fazer fortunas. Mas depois surgiu a fusão a preço inferior, e Nova Nova mal podia cobrar o suficiente por quilovátio-hora para manter o pagamento dos juros. Duas coisas mantinham a colónia em funcionamento: a espuma de aço e, surpreendentemente, o turismo. Nova Nova começou com um asteróide chamado Paphos e com uma filosofia chamada economias de escala. Paphos (o seu nome genuíno era 1992 BH) fora um pequeno asteróide cuja órbita, de nove em nove anos, o fazia passar a setecentos e cinquenta mil quilómetros da Terra. Era constituído por níquel-ferro, o que significava que era quase de aço puro.
Duzentos e cinquenta triliões de toneladas de aço é uma presa apetecível. Em 2001 uma fábrica orbital interceptou Paphos e agarrou-o. Durante os nove anos seguintes, centenas de rajadas nucleares cuidadosamente calculadas deformaram a sua órbita curvando-a na direcção da Terra. Em 2010, ele deslizou para uma órbita geo-sincrónica, uma nova estrela tranquilamente pendurada no céu das Américas, piscando, mais fulgurante que Vénus». In Joe Haldeman, Momentos, 1981, tradução de Paula Reis, Círculo de Leitores, 1982.

Cortesia de CLeitores/JDACT