domingo, 4 de agosto de 2019

A Política Matrimonial da dinastia de Avis. Maria Helena C. Coelho. «O herdeiro virá a ser o seu terceiro rebento, Afonso, que é ainda menor quando recebe o reino, em 1438. Cabendo a tutoria da criança e a regência do reino…»

Cortesia de wikipedia e jdact

Leonor e Federico III da Alemanha
«(…) Esta estratégia política, que o próprio movimento expansionista impulsionava, abriu os membros da linhagem aos mais variados caminhos por entre os meandros da política dos reinos da cristandade. Assim a diáspora dos herdeiros do infante Pedro, o Condestável e Mestre de Avis, Pedro, veio a ser, por alguns anos, rei de Aragão; João, pelo seu casamento com a rainha de Chipre, Catarina de Lusignan, tornou-se príncipe de Chipre; já Jaime ascenderá a cardeal de Santa Maria in Portico; e dona Beatriz unir-se-á a Adolfo von Kleve. Por sua vez, o infante João, Mestre de Santiago, e sua mulher Isabel, filha do conde de Barcelos e duque de Bragança e de dona Brites Pereira, descendente de Nuno Álvares Pereira, serão os pais da infanta Isabel que desposará João II, rei de Castela, de quem nascerá Isabel, a Católica.

Situemo-nos, porém, agora, na linhagem do sucessor ao trono joanino, Duarte I. Teve este monarca, do seu matrimónio com Leonor de Aragão, quatro filhos e quatro filhas. O herdeiro virá a ser o seu terceiro rebento, Afonso, que é ainda menor quando recebe o reino, em 1438. Cabendo a tutoria da criança e a regência do reino, por vontade de Duarte I, expressa no seu testamento, à viúva dona Leonor de Aragão, esta situação política não foi bem aceite. Temiam-se uns quantos desta rainha estrangeira, que podia defender mais interesses outros externos e menos os de Portugal, e não viam com bons olhos a educação do príncipe entregue a uma mulher. Decidiram, então, os grandes do reino e a burguesia lisboeta entregar a regência do reino e a tutoria do herdeiro ao seu tio mais velho, o infante Pedro. Que será regente de 1439 a 1448, para, no ano de 1449, já afastado da corte, vir a acabar os seus dias em trágicas circunstâncias. Esta contextualização política é fundamental para nos aproximarmos de dona Leonor, a futura esposa do imperador alemão.
Nasceu a infanta em Torres Vedras, a 18 de Setembro de 1434. Ficou órfã de pai aos quatro anos e um ano depois viu-se sem mãe, quando esta, ao exilar-se para Castela, a deixou doente em Almeirim. O regente assume, então, as rédeas do seu destino e entrega-a a uma aia, dona Guiomar Castro. Mais tarde, após a morte da mãe, em 1445, terá vivido em casa própria, com as suas irmãs Catarina e Joana. Este conjunto de infantas era riqueza a ser potencializada em conjugada e hábil política matrimonial. Concertam-se neste propósito os dois tios das infantas, a duquesa de Borgonha e o regente Pedro. A Borgonha conhecia dois suseranos, o rei de França e o Imperador da Alemanha. Buscou com eles alianças matrimoniais que a favorecessem. Projectou então a duquesa o casamento da sua sobrinha Leonor com o herdeiro do trono da França e oferecia a mão da sua outra sobrinha, Joana, ao pequeno Ladislau, neto do imperador Segismundo, ao serviço de quem Pedro lutara contra os turcos, e que Frederico III havia tomado sob a sua tutela. Esta estratégia matrimonial serviria também os objectivos políticos do regente Pedro, que, hostilizado e hostilizando os infantes de Aragão, se aliava a Castela e assim alargaria os seus apoios a França e ao Império». In Maria Helena Cruz Coelho, A Política Matrimonial da dinastia de Avis, Leonor e Federico III da Alemanha, Faculdade de Letras, Universidade de Coimbra, Revista Portuguesa de História, XXXVI, 2002-2003, Wikipedia.

Cortesia de RevistaPdeHistória/JDACT