Cortesia
de wikipedia e jdact
Com
a devida vénia ao Mestre Hugo Calado
O
castelo de Noudar e a defesa do património nacional
O castelo de Noudar na historiografia
Regional Portuguesa
«(…) Temos também obras mais
recentes sobre castelos, que apresentam fotografias das estruturas, e onde
Noudar está presente. Apresenta um pequeno enquadramento histórico do castelo,
com imagens, inserindo a fortaleza num contexto histórico que envolve todo o
Alentejo e suas fortalezas. São obras cujo objectivo é divulgação cultural e
turística, não têm a preocupação de fornecer elementos para um estudo
aprofundado sobre estruturas fortificadas. Quanto a publicações cujos autores de
facto elegeram o castelo de Noudar como alvo principal do seu estudo, existe
uma monografia (datada de 1986), sobre o referido castelo, sendo das poucas
monografias existentes que centraliza a sua atenção por completo neste sítio,
sobre os seus mais diversos aspectos.
Para o estudo de Noudar, existe
outro artigo onde o local é estudado como integrante da fronteira raiana (a comenda
de Noudar da Ordem de Avis: a memória da fronteira entre a Idade Média e a
Idade Moderna), sendo que aqui a questão da memória popular é muito importante,
pois suporta demarcações fronteiriças, através do recurso a fontes. Nesta zona,
desenvolve-se uma consciência de diferenciação fronteiriça, onde a memória dos
integrantes do espaço em estudo tem um papel importante, perante os enviados do
poder central, que têm o objectivo de captar uma memória oficial, através dos instrumentos
de que o mesmo poder dispõe, o suporte escrito, que serve de base a essa
memória do poder.
A memória das populações é oral,
articula-se através de recordações e esquecimentos, e vai alimentar a oficial,
que a usa segundo os seus propósitos. Existem obras de carácter geográfico, que
são também um importante contributo para o estudo da fronteira onde o castelo
de Noudar se insere. A raia alentejana, mais propriamente a parte do Baixo
Guadiana, é um local que se inseriu dentro de contextos militares e
diplomáticos que são intensos durante o século XIII, e onde se tentaram impor
limites políticos, que se sobrepuseram aos naturais. A geografia cruzou-se com
a história nesta área. Aqui formou-se uma região histórica, onde a criação de
uma fronteira política medieval não terminou com redes de trocas comerciais,
tipos de povoamento e estrutura agrária já existentes durante o período
islâmico, que sobreviveram aos acontecimentos políticos peninsulares. Estamos
também a falar de um espaço que, em termos de características físicas, tanto de
um lado como do outro da fronteira entre os estados peninsulares, é muito
semelhante. O espaço físico é importante na geografia histórica, no que toca ao
estabelecimento de populações e suas actividades, e a questão da orografia e
hidrografia são indicadores de limitações naturais entre regiões físicas, que podem
posteriormente ser divididas por uma linha político-administrativa, pelo que
estabelecemos a diferença entre a região física, que não é dividida por nenhuma
decisão administrativa de nenhum centro organizador de uma sociedade, e a
região de fronteira política, cujo limite do reino acaba numa linha de
limitação político-administrativa entre dois reinos, mesmo que a geografia do terreno
seja idêntica. A fronteira estabelecida pelo homem não é factor de separação de
comunidades, é uma imposição do poder que o rege e ordena, pois as comunidades
de ambos os lados da linha divisória têm a tendência de aproximação, podendo
partilhar problemas semelhantes, como a interioridade, no caso português e
castelhano.
As obras de geografia histórica
têm então um papel importante, e existem várias que têm como objecto principal
de estudo a questão da definição da fronteira luso-castelhana, através dos
movimentos militares medievos no sudoeste da península, do entendimento da
ocupação do espaço, e sua organização, com diversos centros polarizadores de
populações. Estes centros são locais que contribuíram para a definição e
organização de um espaço à sua volta, o seu termo, e que assumiram um papel
importante na definição da margem esquerda do Guadiana como uma região com características
específicas». In Hugo Miguel Pinto Calado, A Raia Alentejana Medieval e os Pólos de
Defesa Militar, O Castelo de Noudar e a Defesa do Património Nacional, Tese de
Mestrado em História Regional e Local, Universidade de Lisboa, Faculdade de
Letras, Departamento de História, 2007.
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