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O conferencista era Andrew Wiles, um inglês de poucas palavras que emigrara
para os Estados Unidos na década de 1980. Assumira uma cadeira na Universidade
de Princeton onde conquistara a reputação de ser um dos matemáticos mais
talentosos da sua geração. Contudo, nos últimos anos, ele quase desaparecera da
programação anual de seminários e conferências. Seus colegas começaram a pensar
se Wiles não estaria acabado. Não era incomum mentes jovens e brilhantes
entrarem em decadência ainda muito cedo, como comentou certa vez o matemático
Alfred Adler: a vida de um matemático é muito curta. Seu trabalho raramente
melhora depois da idade de 20 ou 30. Se ele não conseguiu muita coisa até essa
idade, não vai conseguir mais nada. Os jovens devem provar teoremas, os velhos
devem escrever livros, observou GH Hardy no seu livro Apologia do matemático. Nenhum
matemático jamais deve se esquecer de que a matemática, mais do que qualquer
outra ciência ou arte, é um jogo para jovens. Para citar um exemplo simples, a
idade média de eleição para a Sociedade Real é mais baixa na matemática. O seu
aluno mais brilhante, Srinivasa Ramanujan, foi eleito membro da Sociedade Real
com a idade de 31 anos, tendo feito uma série de espantosas descobertas durante
a sua juventude. Apesar de não ter recebido quase nenhuma educação formal no
seu vilarejo de Kumbakonam, no sul da Índia, Ramanujan foi capaz de criar
teoremas e soluções que tinham escapado à percepção dos matemáticos ocidentais.
Na matemática a experiência que vem com a idade parece menos importante do que
a intuição e o arrojo da juventude.
Muitos
matemáticos tiveram carreiras brilhantes e curtas. No século XIX, o norueguês
Niels Henrik Abel deu as suas maiores contribuições à matemática com a idade de
19 anos e morreu na pobreza, oito anos depois, vítima de tuberculose. A seu
respeito, Charles Hermite comentou: ele deixou o suficiente para manter os
matemáticos ocupados durante quinhentos anos. E é verdade que as descobertas de
Abel ainda exercem uma profunda influência sobre os teóricos dos números nos
dias de hoje. Um contemporâneo de Abel, o igualmente talentoso Évariste Galois,
também realizou as suas descobertas quando era adolescente e morreu com apenas
21 anos.
Hardy
comentou certa vez: eu não conheço nenhum avanço importante da matemática que
tenha sido realizado por um homem de mais de 50 anos. Os matemáticos de
meia-idade mergulham na obscuridade e ocupam os anos que lhes restam ensinando
ou administrando e não fazendo pesquisas. Mas no caso de Andrew Wiles nada
podia ser mais distante da verdade. Embora tivesse alcançado a idade avançada
de 40 anos, ele passara os últimos sete trabalhando em segredo completo,
tentando resolver o maior problema da matemática. Enquanto outros achavam que
ele estava acabado, Wiles fazia progressos fantásticos, inventando novas
técnicas e ferramentas, tudo que agora estava pronto para revelar. A sua
decisão de trabalhar em isolamento total fora uma estratégia de alto risco,
desconhecida no mundo da matemática.
Sem
ter invenções para patentear, o departamento de matemática de uma universidade
é o menos sigiloso de todos. A comunidade orgulha-se da livre troca de ideias,
e a hora do chá, à tarde, se transforma num ritual diário onde as ideias são
compartilhadas e exploradas sob o estímulo das xícaras de café ou chá. É cada
vez mais comum a publicação de trabalhos por coautores ou mesmo equipas de
matemáticos e, consequentemente, a glória é partilhada por todos. Entretanto,
se o professor Wiles tinha conseguido realmente uma solução completa e precisa
do Último Teorema de Fermat, então o prémio mais cobiçado da matemática era seu
e somente seu. Mas ele devia pagar um preço por tal segredo: como não tinha
debatido ou testado as suas ideias com a comunidade matemática, havia uma boa
chance de que tivesse cometido algum erro fundamental». In Simon Singh, o Último Teorema
de Fermat, 1997, Edição BestBolso, nº 367, Editora Record, 2011-2014,
978-857-799-462-5.
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