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O
nascimento de Lucrécia
«(…) Rodrigo sorriu com complacência; não precisava adoptar
filhos; tinha os seus filhos e filhas. As filhas eram úteis quando se tratava
de fazer casamentos que unissem famílias eminentes aos Bórgia; mas os filhos
eram aquilo de que um homem ambicioso precisava e, louvados fossem os santos,
eram o que ele tinha, e seria eternamente grato à mulher que agora estava dando
à luz naquele mesmo castelo por tê-los gerado. Pedro Luís na Espanha iria garantir a
benevolência daquele país para com o seu pai; o arrojado e jovem Giovanni, para
ele, Rodrigo tinha os planos mais ambiciosos, porque o mais adorado dos seus
filhos deveria comandar os exércitos dos Bórgia; e César, que ousado e jovem
velhaco (Rodrigo sorriu de prazer ao pensar no arrogante filhinho), era
evidente que deveria entrar para a Igreja, porque, se os Bórgia quisessem obter
tudo o que Rodrigo planeara para eles, um deles deveria ter influência no
Vaticano. Por isso, o pequeno César estava destinado a seguir o pai em direcção
ao Trono Papal. Rodrigo deu de ombros e sorriu levemente para si mesmo. Ainda
tinha que atingir aquela posição; mas atingiria; estava decidido. O sorriso
delicado desaparecera e por alguns instantes fora possível ver o homem de ferro
por trás da aparência agradável. Ele progredira muito, e nunca recuaria;
preferiria a morte. Estava tão certo de que um dia subiria ao trono papal
quanto estava certo de que uma criança estava nascendo no seu castelo de
Subiaco.
Nada...,
nada deveria ficar no seu caminho, porque só como papa poderia dar aos filhos
as honrarias que lhes possibilitariam trabalhar em prol daquele grande destino
que seria o dos Bórgia. E a nova criança? Um menino, rezava ele. Santa Madre,
que seja um menino. Tenho três belos filhos, meninos saudáveis, mais um seria óptimo!
Ele estava que era só delicadeza novamente, pensando na ala infantil na casa da
Piazza Pizzo di Merlo. Como aqueles pequeninos ficavam encantados com as
visitas do tio Rodrigo! No momento, era necessário que eles o considerassem um
tio; seria inconcebível que ele, um sacro cardeal fosse chamado de pai. Tio era
bom, por enquanto; um dia aqueles garotinhos iriam saber o que eram na
realidade. Ele esperava ansioso pelo prazer de contar a eles. (Rodrigo gostava
de dar prazer àqueles que amava, e se houvesse algum serviço desagradável a
fazer, ele preferia que outros o fizessem). Que destino glorioso os aguardava
porque ele, o ilustre cardeal, não era apenas o tio, mas o pai deles! Como os
olhos de César, aquela criaturinha arrogante e deliciosa, iriam faiscar! Como
Giovanni, o querido e adorado Giovanni iria andar com ar empertigado! E o novo
filho..., ele também teria a sua quota de honrarias.
O
que estariam eles fazendo naquele momento? Discutindo com a ama-seca, muito
provavelmente. Ele imaginava as ameaças de César, a rabugice de Giovanni. Os
dois transbordavam vitalidade, herdada de
Vannozza e também do pai, e cada um sabia como conseguir o que desejava. Eles
levariam vantagem sobre vinte amas-secas, que era o que ele devia esperar. Eram
os filhos de Rodrigo Bórgia, e quando foi que ele não conseguiu o que queria
com as mulheres? Agora estava pensando no passado, nas centenas de mulheres que
o haviam satisfeito. Quando entrara para a Igreja, ficara consternado porque
esperavam que ele adoptasse o celibato. Ele agora ria daquela ingenuidade. Não
levara muito tempo para descobrir que os cardeais, e mesmo os papas, tinham as suas
amantes. Não se esperava que levassem uma vida de celibato, só que aparentassem
levá-la, o que era inteiramente diferente. Não continência, mas discrição, era
tudo o que se pedia. Era um momento solene aquele em que uma nova vida estava
prestes a começar; era ainda mais solene pensar que, não fosse um acto seu,
aquela criança não estaria se preparando para chegar ao mundo.
Sentou-se
e, mantendo os olhos no touro que pastava, relembrou os incidentes da sua vida
que tinham sido do maior significado para ele. Talvez um dos primeiros e, por
isso, o mais importante porque, se não tivesse acontecido, tudo aquilo que se
seguira não teria sido possível, fora
quando seu tio Calisto III o adoptara e ao irmão Pedro Luís e prometera trata-los
como filhos se eles abandonassem o sobrenome Lanzol, que era do pai, e se
chamassem Bórgia. Os pais deles estavam ansiosos para que a adopção
acontecesse. Tinham filhas, mas o papa Calisto não estava interessado nelas, e
eles sabiam que não haveria melhor destino para os seus filhos do que ficarem
sob o amparo imediato do papa. A mãe, irmã do papa, era uma Bórgia, de modo que
aquilo simplesmente significava que os meninos deveriam adoptar o sobrenome da
mãe, em vez de o do pai». In Jean Plaidy, Lucrécia Borgia, Edição Record, 1996, ISBN 978-850-104-410-5.
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