segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Isabel I. O Anoitecer de um Reinado. Margaret George. «Ah, ele me enlouquecia às vezes! E só ele se sentia seguro o suficiente para expressar a sua péssima opinião sobre mim como líder de guerra. Agora, e o restante das forças?»

Cortesia de wikipedia e jdact

Isabel. Maio de 1588
«(…) Não. Se eles passarem por nós lá, terão o resto do caminho livre. Tomarão o Canal, a menos que já estejamos esperando por eles mais adiante. Não acho, interrompeu Drake. Quieto!, silenciei-o. E as nossas forças de terra? O que você diz, primo?, perguntei para Henry Carey, lorde Hunsdon. Era um homem grande que me fazia lembrar um urso, e como tal parecia pertencer à natureza. Fora responsável pelas Marchas do Leste, montando a sua base próxima à fronteira escocesa. Serei responsável pela sua segurança, disse. Terei forças com base em Windsor. Caso as coisas fiquem mais..., incertas..., posso garantir-lhe um local seguro no interior. Nunca me esconderei no interior!, respondi. Mas Vossa Majestade deve pensar no seu povo, insistiu Walsingham. Deve designar substitutos para supervisionar a administração de suprimentos e para o controle dos preparativos defensivos, ao mesmo tempo em que cuida de si mesma. Pelo amor de Deus!, gritei. Eu mesma supervisionarei tudo isso! Mas isso não é aconselhável, disse Burghley. E quem é contra?, indaguei. Comando este reino e não devo em hipótese alguma delegar o seu alto-comando a outros. Ninguém se preocupa mais com a segurança do meu povo do que eu. Mas a senhora não é... Leicester tentou iniciar um contra-argumento. Competente? É isso o que você acha? Guarde a sua opinião para si mesmo!
Ah, ele me enlouquecia às vezes! E só ele se sentia seguro o suficiente para expressar a sua péssima opinião sobre mim como líder de guerra. Agora, e o restante das forças? Virei-me para Hunsdon e perguntei: quantos homens conseguiremos reunir? Nos condados do sul e do leste, talvez uns 30 mil. Mas muitos são garotos ou velhos. E muito mal treinados. Medidas defensivas?, perguntei. Farei com que algumas das pontes antigas sejam demolidas e podemos colocar barreiras no Tamisa para impedir que a Armada navegue até Londres. Lamentável, esbravejou Drake. Se a Armada chegar assim tão longe, será única e exclusivamente porque eu, John Hawkins, Martin Frobisher e o grande almirante aqui presente estaremos mortos. Aquela era uma observação importante. Fiz um gesto com as mãos para que eles ficassem quietos. Fechei os olhos e tentei organizar os meus pensamentos, procurando entender tudo o que havia sido dito.
Muito bem, sir Francis Drake, concordei. Vou permitir a sua estratégia. Navegue até ao sul para enfrentar a Armada. No entanto, deve retornar no mesmo instante em que sentir que estamos em perigo. Quero todos os navios aqui para enfrentar o inimigo se ele vier. Encarei os olhares dos demais, fixos em mim e continuei a delegar: almirante Howard, deve comandar o esquadrão oeste, com base em Plymouth. Além disso, será comandante-geral das forças tanto em terra quanto em mar. O seu navio será o Ark. Drake será o seu segundo comandante. Não se importa, Francis? O almirante Howard será o seu oficial comandante. Drake concordou.
Lorde Henry Seymour, cujo posto habitual é almirante dos mares estreitos, comandará o esquadrão leste em Dover. Olhei para Hunsdon e disse: lorde Hunsdon, você comandará as forças responsáveis pela minha segurança, com base próxima a Londres. Nomearei a família Norris, sir Henry o pai e seu filho sir John, vulgo Black Jack, como general e sub-general dos condados do sudeste. O jovem Robert Cecil será mestre de artilharia do exército principal. E você, falei, olhando directamente para Robert Dudley, lorde Leicester, será tenente-general das forças de terra para a defesa do reino. A sua expressão era de espanto, assim como a dos demais. Faça melhor do que fez nos Países Baixos, foi a minha resposta ao insulto anterior. Enquanto saíam, percebi que estavam surpresos, e aliviados, por termos todas as nomeações feitas. Bons guerreiros que eram já estavam com o pensamento no campo de batalha e no trabalho que teriam pela frente». In Margaret George, Isabel I, O Anoitecer de um Reinado, tradução de Lara Freitas, Geração Editorial, 2012, ISBN 978-858-130-076-4.

Cortesia de GeraçãoE/JDACT