terça-feira, 19 de novembro de 2019

Alexandre VI. Volker Reinhardt. «Essa conquista, até a morte de Afonso em 1458, deve-se, em muitos aspectos, ao facto de que esse monarca gozava de elevada autoridade pessoal, além de dispor de órgãos centrais…»

Cortesia de wikipedia e jdact

De Xátiva a Roma. 1378-1458. As Origens dos Bórgia
«(…) Contudo, o pontifex maximus em exercício, Eugénio IV, não estava disposto a reconhecer, sem delongas, as novas relações de poder. Um rei tão forte como Afonso, cujo domínio abarcava a região ocidental e central do Mar Mediterrâneo, chegava agora ao trono de Nápoles. Essa proximidade despertava velhos temores de serem cercados e, com isso, vinham à tona más recordações da luta sangrenta dos papas contra a dinastia dos Staufer, no século XIII. A Itália não seria muito pequena para um principado desse porte? Será que ele não buscava, inevitavelmente, uma hegemonia que pudesse destruir o equilíbrio, sempre problemático, entre as cinco grandes potências, Veneza, Milão, Florença, Roma e Nápoles, bem como entre alguns centros menores, como Ferrara, Mântua e muitos outros pequenos territórios? Mesmo os grandes barões de Nápoles e Sicília viam o futuro com preocupação. Será que o monarca aragonês colocaria novamente em causa a ampla autonomia que tinham conquistado como o fiel da balança nas lutas pelo trono realizadas nos últimos dois séculos? Tantas perguntas sem respostas, e um vasto campo de acção para Alonso Borja. Em 1439, ele negociou uma trégua entre Roma e Nápoles. Essa trégua correspondia, na prática, a uma neutralidade por parte de Eugénio IV e permitia a Afonso conduzir com êxito as negociações com as principais famílias da nobreza de seu novo reino, sem ser importunado por interferências papais. Nesse pacto entre a monarquia e a aristocracia, estavam as mãos também do inteligente advogado de Xátiva, fundamentalmente envolvido como executor e intérprete da vontade real. A Coroa e os barões negociaram, afinal, um modus vivendi em que o clã principal garantia não apenas o domínio de facto nos seus enormes territórios feudais, mas também coroava esse domínio com a atribuição formal da mais alta jurisdição. Por outro lado, o monarca reservou-se o direito de supervisionar o exercício do poder da nobreza por meio de agentes próprios e, havendo necessidade, assumindo as devidas competências. A lealdade, ou seja, o bom comportamento e a disponibilidade de servir ao rei, passaria, futuramente, a ter poder de decisão acima da categoria dentro da orgulhosa elite de nascimento.
Essa foi uma questão ambiciosa e até ousada. Essa conquista, até a morte de Afonso em 1458, deve-se, em muitos aspectos, ao facto de que esse monarca gozava de elevada autoridade pessoal, além de dispor de órgãos centrais competentes para a administração e a jurisprudência. Além disso, ele soube tirar proveito com grande habilidade dos meios de propaganda da época: impressionantes construções em estilo antigo e, seguindo a mesma linha, textos escritos por famosos humanistas. Pode-se partir do princípio de que por detrás da maioria dessas manobras inteligentes estava a orientação de Alonso Borja. Após a entrada triunfal de Afonso na sua nova capital, em 1443, foi ele quem esteve ao lado do rei durante as negociações com o papa.
Essas tiveram lugar em Terracina, a meio caminho entre Roma e Nápoles, representando um esforço mútuo em que ambas as partes tiveram de igualmente dar a sua parcela. Eugénio IV reconheceu a legitimidade do novo poder e Afonso retirou o apoio ao Concilio de Basileia, que representava a oposição dentro da Igreja contra o papa». In Volker Reinhardt, Alexandre VI, Bórgia, o Papa Sinistro, 2011, Editora Europa, 2012, ISBN 978-857-960-127-9

Cortesia EEuropa/JDACT