sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Um Arcebispo Maiato na Independência de Portugal. Joaquim José M. Santos. «1139 (25 de Julho). A batalha de Ourique simboliza a vitória sobre a hegemonia dos mouros, no sul de Portugal, que só viria a concluir-se em 1249»

Cortesia de wikipedia e jdact

Portugal: do Condado ao Reino
«Da presúria do Porto (868) resultou a formação do primeiro Condado Portucalense, sob a chefia do presor Vímara Peres, que se acantonou na área da futura Guimarães. A derrota do seu derradeiro sucessor, Nuno Mendes, em 1071, em Pedroso, junto a Braga, deixou vazio o Condado Portucalense, até ao conde dom Raimundo (1092). Sucedeu-lhe o primo, o conde dom Henrique (1096-1112), que casou com Teresa, filha bastarda de Afonso VI de Leão e Castela e de Ximena Moniz Bierzo. Após a morte do marido (1112), a condessa dona Teresa assumiu o governo portucalense, até à sua derrota, na batalha de São Mamede, em Guimarães, a 24 de Junho de 1128. Durante o governo do Infante dom Afonso Henriques, o Condado vai converter-se em Reino, primeiro reconhecido pela sua cúria e pelo seu exército, com a vitória de Ourique (25 de Julho de 1139), depois, pelo rei de Leão e Castela, no Tratado de Zamora (1143) e, finalmente, pelas instâncias internacionais, com a bula Manifestis Probatum, do papa Alexandre III (1179).
Em 1086, devido às boas relações que Afonso VI, rei de Leão e Castela, tinha com dom Hugo, o abade de Cluny, veio participar na luta pela reconquista cristã, na Península Ibérica, o conde francês Raimundo de Borgonha. Em 1092, Afonso VI, concedeu o governo da Galiza ao conde Raimundo, aliás já seu genro desde 1090, devido ao casamento deste com a filha legítima do rei Afonso VI, dona Urraca. Estabeleceu-se, assim, uma relação de suserania, que controlava as pretensões autonomistas da Galiza, como havia acontecido, em 1087, com a revolta do conde local Garcia Oveques. Para se entender a razão da formação do Condado Portucalense, deve igualmente analisar-se a questão da volatilidade da posse do espaço físico do território, sujeito aos resultados de vitórias ou derrotas entre as forças cristãs e mouras e das famílias emergentes, como os senhores da Maia.
Em 1093, o rei de Badajoz colocou-se sob a protecção de Afonso VI, de Leão, entregando-lhe Santarém, Lisboa e Sintra. Logo no ano seguinte, esses territórios foram perdidos pelos cristãos. Parece lógico que a Afonso VI de Leão se tenha colocado a questão de nova descentralização de poder, com o fim de uma maior e mais eficaz consolidação dos territórios conquistados aos mouros. E assim, em 1096, concedeu ao conde  Henrique o governo do Condado Portucalense, associado ao casamento realizado, no ano anterior, com sua filha ilegítima, dona Teresa. A doação do Condado foi a título hereditário, isto é, sem restituição após a morte dos titulares. Nessa altura, os limites do Condado confinavam-se, a sul, em Coimbra e, a norte, no Rio Minho. O espírito de autonomia do conde Henrique mudou de direcção durante o governo da esposa, dona Teresa. A corte dela ficou rodeada de fidalgos galegos, sob a estratégia de Fernão Peres Trava. A esta circunstância negativa para a autonomia portuguesa, juntaram-se as ambições do arcebispo de Compostela, Diego Gelmirez. Esta nova corrente política gerou uma forte oposição por parte dos grandes nobres portucalenses, que ergueram, como bandeira da recuperação da sua importância, os direitos do Infante Afonso Henriques. Em conjunto com o Infante, formou-se um exército, para pôr em prática o projecto de autonomia do Condado Portucalense, quer face ao poderio galego, quer às aspirações de Leão e Castela.
A família da Maia tomou o lugar da dianteira no programa de autonomia do Condado Portucalense, embrião do Reino livre de Portugal. Como atrás apontámos, o processo de autonomia de Portugal, que transformou o Condado Portucalense em Reino de Portugal, desenrolou-se em quatro momentos cruciais, na superação do confronto de poderes:

(a) 1128 (24 de Junho). A batalha de São Mamede assegurou a autonomia do Condado Portucalense, face à ingerência da nobreza galega. Trata-se do reconhecimento local e Regional; o condado portucalense autonomiza-se da Galiza do Norte, representada pelo arcebispo de Compostela, Diogo Gelmires (poder religioso), e por Fernão Peres Trava
(poder político);
(b) 1139 (25 de Julho). A batalha de Ourique simboliza a vitória sobre a hegemonia dos mouros, no sul de Portugal, que só viria a concluir-se em 1249, com a conquista definitiva do Algarve; trata-se do reconhecimento interno do Reino de Portugal;
(c) 1143 (5 de Outubro). O tratado de Zamora reconheceu o Reino de Portugal como um entre outros reinos na Península Ibérica. Trata-se do reconhecimento ibérico: mais um reino entre reinos ibéricos;
(d) 1179 (23 de Maio): E, finalmente, a bula papal Manifestis Probatum concluiu o processo do reconhecimento internacional da autonomia do Reino de Portugal. Trata-se de reconhecimento internacional.

Em torno da família da Maia, conhecedora da importância simbólica do Infante Afonso Henriques, foi planificado e executado um programa eficaz, que conduziu à vitória de São Mamede, em Guimarães (1128), e à autonomia definitiva do Condado Portucalense, embrião do Reino de Portugal». In Joaquim José M. Santos, Um Arcebispo Maiato na Independência de Portugal, Revista da Maia, Nova Série, Ano II, Número 1, Janeiro/Junho 2017, ISSN 2183-8437.

Cortesia da CMMaia/Revista Maia/JDACT