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O
Mistério da Cruz Templária
«(…)
A cruz orbicular marca essa protecção mágica nos quatro lados do templo, a palavra
templo, em latim templum, tem origem precisamente no significado de delimitar e
de área consagrada. Por esse motivo, ainda hoje podemos ver em redor de muitos
templos egípcios uma muralha feita com tijolos em forma de ondas, representando
as águas caóticas que estão para além do espaço sagrado, delimitado. No românico,
caracterizado por igrejas que são quase fortalezas de pedra, com janelas
diminutas, vislumbramos a necessidade psicológica do homem medieval de se recolher
em segurança para meditar sobre as grandes questões da vida e da morte. Essa necessidade
de segurança começa hoje a ser mais perceptível, já que estamos a entrar numa
nova Idade Média (a civilização actual está esgotada) com a insegurança, física
e psicológica, a crescer de ano para ano. Emergem os novos bárbaros e podemos ver
nos condomínios fechados o prelúdio de novos castelos, para além dos senhores feudais
das multinacionais já começarem a ter mais poder do que os próprios estados.
É uma sensação especial aquela que
advém de penetrar no interior desses antigos templos românicos no silêncio
solitário das aldeias ou da natureza serrana como, por exemplo, em S. Pedro das
Águias. A cruz orbicular já era conhecida em território português, pelo menos
desde o século VI. Encontramo-la esculpida numa pedra tumular descoberta em Mértola,
datada de 571. Esta cruz tem sido designada por vários nomes, como cruz pátea,
de braços curvilíneos. Nós utilizamos a designação de Garrett: cruz orbicular.
Segundo Joaquim Gandra, esta cruz tem origem oriental, devendo-se a sua difusão
à propagação do cristianismo ao Império Bizantino, bem como ao Médio Oriente e Egipto,
onde ganhou expressão o cristianismo sírio, caldaico e copta. Símbolo do reino da
Arménia, acabaria por chegar à China e à Mongólia por intermédio dos missionários
nestorianos.
O facto de esta cruz ser muito utilizada
no período pré-nacional leva-nos a supor que o cristianismo terá chegado ao território
pelo Norte de África. Teriam chegado assim, em primeiro lugar, as versões do
cristianismo oriental, do Egipto e Ásia Menor, seguindo as antigas rotas fenícias.
É interessante reconhecer que os Templários, fora de Portugal, fizeram tanto uso
desta cruz como de outras, enquanto no nosso país a utilizaram tão repetidamente
que ficou registada no inconsciente colectivo como um símbolo associado à Ordem
do Templo. Deste modo, não sendo esta cruz exclusiva dos Templários, a sua
existência nos monumentos medievais portugueses dos séculos XII e XIII evoca muitas
vezes uma relação directa com estes Cavaleiros do Graal.
Por que razão, especificamente em
Portugal, utilizaram os Templários preferencialmente a cruz orbicular? É uma
questão que merece ser estudada em pormenor. Em nossa opinião, poderá significar
uma ligação com tradições espirituais pré-nacionais, nomeadamente com o
gnosticismo prisciliano e o cristianismo-ariano. Mas existe outro facto que
também merece destaque: todos os reis portugueses até Sancho II utilizaram a
cruz orbicular como seu selo em vários documentos. Não temos notícia da sua utilização
como insígnia real durante os reinados de Afonso III e de Dinis I, mas é certo
que deixou de ser utilizada para este efeito após a extinção da Ordem do
Templo, facto ocorrido na época do Rei-Lavrador». In Paulo Alexandre Loução, Portugal
Terra de Mistérios, Edição Ésquilo, 2001, ISBN 972-860-504-8.
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